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O treinamento básico não me incomodou. Lá aprendi que algo que parece impossível no início pode ser alcançado. Nós achávamos que conseguiríamos subir um morro com o equipamento completo? Não. Mas, quando nos mandaram fazer isso, fomos lá e fizemos. No caminho, chegamos até a encher os bolsos com cogumelos, que nessa noite foram entregues ao cozinheiro para que ele preparasse uma sopa.

Apesar disso, eu não conseguia parar de pensar em quanto queria competir pelo título juvenil de Mister Europa. Aproveitava cada instante livre para ensaiar minhas poses na latrina. Implorei ao sargento responsável pelo treinamento para tratar o concurso como se fosse uma emergência familiar e me deixar ir competir em Stuttgart, na Alemanha. Sem chance. Na noite anterior ao concurso, decidi mandar tudo à merda e simplesmente fui.

Sete horas de trem depois, eu estava em território alemão, posando diante de algumas centenas de fãs e recebendo os aplausos. Em 1965, conquistei o título de Jovem Atleta Mais Desenvolvido da Europa. Era a primeira vez que saía da Áustria, e aquele era o maior público que já tivera. Eu me senti o próprio King Kong.

Infelizmente, quando voltei para o campo de treinamento, recebi uma punição. Fui para a detenção e passei 24 horas sozinho dentro de uma cela. Então meus superiores ficaram sabendo da vitória e fui solto. Andei na linha pelo resto do treinamento básico e logo pude entrar para a unidade de blindados comandada pelo amigo do meu pai. A partir daí, o exército virou uma diversão fantástica. Montei uma sala de musculação na caserna, onde podia treinar quatro horas por dia. Alguns dos oficiais e soldados também começaram a treinar. Pela primeira vez na vida, eu podia comer carne todos os dias – proteína de verdade. Ganhei músculos tão rápido que perdia o uniforme a cada três meses e tinha que passar para o tamanho superior.

O treinamento de moto começou imediatamente, seguido pelo de carro no mês posterior. Aprendíamos noções básicas de mecânica, porque era preciso ser capaz de consertar o próprio veículo sempre que surgisse algum defeito simples. Depois vieram as aulas de condução de caminhões, que se revelaram difíceis, pois os caminhões do exército tinham câmbios manuais mal sincronizados. Para aumentar ou diminuir a marcha, era preciso passar pelo ponto morto, acionar a dupla embreagem e acelerar o motor até a velocidade apropriada para que ele se adaptasse à marcha seguinte. Isso deu origem a muitos arranhões no câmbio e a muita tensão, pois, após uns poucos treinos na base, nos mandaram dirigir no tráfego de verdade. Era muito difícil manter os olhos na estrada antes de aprender a passar as marchas sem olhar para o câmbio, como se isso já fosse um hábito. Eu me distraía com a alavanca de câmbio e então, de repente, via carros parados na minha frente e tinha que diminuir a marcha e fazer todas aquelas operações com a alavanca – tudo com o instrutor berrando no meu ouvido. Quando voltávamos para a base, eu estava sempre empapado de suor, e essa era uma ótima maneira de queimar a gordura corporal.

A etapa de conduzir semirreboques também foi cabeluda, principalmente a parte da ré usando os retrovisores e tendo que girar o volante na direção oposta. Levei um tempo para dominar essa técnica e bati e esbarrei em objetos algumas vezes. Foi um verdadeiro alívio quando finalmente pude começar a dirigir os tanques.

O M47 foi projetado para ser guiado com uma só mão, usando uma alavanca que controla as marchas e o movimento das lagartas. Você fica sentado no canto dianteiro esquerdo do compartimento e seus pés controlam um freio e um acelerador. O assento de metal pode ser levantado e abaixado. Em geral, dirige-se com a escotilha aberta e a cabeça para fora do tanque, para poder ver o exterior. Na preparação para o combate, porém, você abaixa o banco, fecha a escotilha e passa a olhar através de um periscópio. À noite, uma versão primitiva de infravermelho permitia distinguir árvores, arbustos e outros tanques. Apesar do meu tamanho, eu cabia no assento, mas conduzir o veículo com a escotilha fechada podia ser muito claustrofóbico. Senti imenso orgulho de aprender a dirigir aquela máquina descomunal, diferente de tudo com que já havia lidado.

O campo de manobras mais próximo era uma grande extensão de terras que margeava o sopé da montanha entre Thal e Graz. Para chegar lá, tínhamos que sair da base e percorrer uma sinuosa estrada secundária de cascalho por uma hora e meia – um grupo formado por 20 tanques, que passava rugindo e sacolejando por casas e povoados. Em geral circulávamos à noite, quando o tráfego de civis era mínimo.

Eu tinha orgulho de minha perícia ao volante: conseguia manobrar com precisão e passar sem muitos sacolejos por buracos e valas, para que meu comandante e os companheiros de tanque não fossem sacudidos de um lado para outro. Ao mesmo tempo, tinha certa propensão a catástrofes.

Quando acampávamos ao ar livre, seguíamos sempre a mesma rotina. Primeiro malhávamos: eu levava meus pesos, minhas barras e meu banco guardados em compartimentos em cima do tanque, onde em geral ficavam as ferramentas. Três, quatro ou cinco outros membros do pelotão se juntavam a mim e fazíamos uma hora e meia de exercícios antes de comer alguma coisa. Havia noites em que os condutores tinham que ficar nos tanques, enquanto os outros iam dormir nas barracas. Cavávamos um buraco raso no chão, forrávamos com um cobertor e estacionávamos o tanque por cima, no intuito de nos protegermos dos javalis selvagens. Não tínhamos autorização para matá-los e eles percorriam livremente a área – acho que sabiam que não poderiam ser abatidos. Também postávamos sentinelas, que ficavam em pé sobre os tanques para os animais não poderem alcançá-las.

Certa noite, quando estávamos acampados perto de um riacho, acordei sobressaltado porque pensei ter ouvido os javalis. Então reparei que não havia nada em cima de mim. Meu tanque tinha sumido! Olhei em volta e o vi uns 10 metros adiante, mergulhado na água, com a traseira para o alto. O nariz estava submerso e o canhão, enfiado na lama. Descobrimos depois que eu tinha me esquecido de acionar a trava, e o solo era suficientemente inclinado para o tanque rolar devagarinho para longe enquanto dormíamos. Tentei tirá-lo do riacho, mas as lagartas tinham atolado na lama.

Tivemos que mandar buscar um reboque de 80 toneladas e gastamos muitas horas para desatolar meu tanque. Depois disso, tivemos que levá-lo para a oficina. A torre de artilharia teve que ser removida. O canhão precisou ser mandado para uma limpeza especial. Por esse descuido, peguei 24 horas de solitária.

Mesmo na garagem dos tanques eu conseguia ser um risco. Certa manhã, dei a partida no meu, ajustei o banco e me virei para verificar os medidores antes de sair. Os números estavam normais, mas senti o tanque se sacudir um pouco, como se o motor estivesse prestes a morrer. Pensei que talvez fosse melhor acelerar um pouco para esquentar o motor. E foi o que fiz, mantendo os olhos cravados nos mostradores, mas o tremor só fez aumentar. Muito estranho. Foi nessa hora que percebi uma poeira caindo. Subi à escotilha para ver e constatei que, em vez de apenas acelerar o motor, eu tinha feito o tanque andar e estava derrubando a parede da garagem. Por isso o tremor. Então um cano estourou e começou a jorrar água para todo lado, e um cheiro de gás tomou conta do ar.