Los Angeles se destacava não apenas por ser a sede dos Inner-City Games, mas também como a única metrópole a ter programas extracurriculares em todos os seus 90 estabelecimentos de ensino fundamental. Fui consultar a responsável por isso, uma dinâmica pedagoga chamada Carla Sanger. Depois de ouvir um milhão de perguntas minhas, ela sugeriu: “Por que você não cria programas desse tipo nas escolas de ensino médio também?” Assim, Bonnie e eu começamos a arrecadar fundos para isso. Nosso plano era levar os programas extracurriculares dos Inner-City Games a quatro escolas em 2002 e expandir as atividades a partir daí.
Em pouco tempo, contudo, percebi que a tarefa era ambiciosa demais. Jamais conseguiríamos dinheiro suficiente para criar um programa em cada escola de ensino fundamental e médio que precisasse. Pior ainda: Los Angeles era apenas uma cidade em um estado com cerca de 6 mil escolas e 6 milhões de alunos.
Quando você depara com um problema de proporções tão gigantescas, às vezes o governo precisa ajudar. No entanto, Carla me disse que havia tentado diversas vezes lutar pela causa em Sacramento, mas não fora bem-sucedida. Os funcionários e legisladores do estado simplesmente não consideravam os programas extracurriculares importantes. Verifiquei a informação com alguns senadores do estado e conhecidos meus na Assembleia e eles a corroboraram.
Assim, só nos restava uma alternativa: apresentar a questão diretamente à população da Califórnia em uma proposta de votação popular. Vi nessa ideia uma chance para melhorar a vida de milhões de crianças e, ao mesmo tempo, começar a me envolver na política estadual. Embora não fosse a hora certa para me candidatar a governador, comprometi-me a passar o ano seguinte fazendo campanha pelo que viria a ser conhecido como Proposta 49, a Lei do Programa de Educação e Segurança Extracurricular de 2002.
Contratei George Gorton como administrador da campanha, além de outros integrantes do círculo íntimo de consultores de Pete Wilson, e eles montaram um quartel-general no andar abaixo do meu escritório, espaço anteriormente alugado pelo ator Pierce Brosnan e sua produtora. Logo eles começaram a fazer levantamentos junto a eleitores, estudar as questões envolvidas, preparar listas de doadores e contatos na imprensa, comunicar-se com outras organizações, planejar eventos públicos e de coleta de assinaturas e assim por diante. Eu era como uma esponja que absorvia tudo isso.
Em minha carreira de ator, sempre havia ficado muito atento a grupos focais e levantamentos quantitativos. Quando se trata de política, naturalmente, as pesquisas de opinião têm um papel ainda mais importante. Senti-me totalmente à vontade com isso. Don Sipple, especialista em comunicação política, me fez sentar em frente a uma câmera e passar horas falando. As fitas foram editadas em segmentos de três minutos para serem exibidas a grupos focais de eleitores. O objetivo era descobrir que temas e traços da minha personalidade atraíam as pessoas e quais poderiam desagradá-las. Aprendi, por exemplo, que quase todos ficavam impressionados com meu sucesso empresarial. No entanto, quando eu mencionava na gravação que Maria e eu morávamos em uma casa relativamente modesta, os integrantes do grupo focal achavam que eu era maluco.
Nesse outono, eu havia reservado duas semanas para divulgar meu mais novo filme de ação, Efeito colateral, cujo lançamento estava marcado para 5 de outubro. Esse fora apenas um das centenas de planos que tiveram que ser mudados na esteira do 11 de Setembro de 2001. Em qualquer outro ano, teria sido um filme de entretenimento empolgante, com um orçamento milionário; depois dessa data fatídica, no entanto, simplesmente não funcionou mais. Eu interpreto um bombeiro veterano de Los Angeles chamado Gordy Brewer, cuja mulher e filhos morrem por engano em um atentado terrorista no consulado colombiano no centro da cidade. Quando Brewer assume a missão de vingar suas mortes, descobre e frustra um complô narcoterrorista muito mais amplo, envolvendo o sequestro de um avião de carreira e um ataque de grandes proporções a Washington. Depois do 11 de Setembro, a Warner Bros. cancelou a estreia e reeditou o filme para eliminar o sequestro do avião. Mesmo assim, quando Efeito colateral estreou, em fevereiro do ano seguinte, pareceu uma história ao mesmo tempo irrelevante e dolorosa de assistir à luz dos acontecimentos reais. A ironia foi que, durante a realização do filme, os produtores discutiram muito para saber se a profissão de bombeiro era suficientemente durona para um herói de ação, dúvida que a bravura real no Marco Zero eliminou para sempre.
Aprendi que formular uma proposta de lei que não desagrade às pessoas nem cause brigas ou resistências desnecessárias é uma verdadeira arte. Para impedir que as atividades extracurriculares prejudicassem programas existentes dos quais as pessoas gostavam, por exemplo, planejamos que eles só começariam em 2004, e só se a economia da Califórnia tivesse recomeçado a crescer e a receita anual do estado houvesse aumentado em 10 bilhões de dólares. Para conter o custo total, nós as transformamos em um programa de bolsas ao qual as escolas tinham que se candidatar e nos certificamos de que distritos ricos que já possuíssem iniciativas do tipo tivessem que esperar na fila atrás dos que não podiam arcar com seus custos.
Entretanto, quando especialistas em educação estimaram o custo anual do projeto – 1,5 bilhão de dólares –, ficamos todos estarrecidos. Mesmo em um estado com receita anual de 70 bilhões, era muito mais do que os eleitores iriam aprovar. Assim, antes mesmo de começar a campanha, diminuímos a proposta para contemplar apenas as escolas de ensino fundamental, deixando de fora as de ensino médio. Foi uma decisão difícil, mas era necessário abrir mão de alguma coisa, e as crianças mais jovens eram mais vulneráveis e precisavam mais dos programas. Esse corte fez o custo cair mais de 1 bilhão.
Antes de apresentar a proposta, no final de 2001, no entanto, distribuímos o texto e preparamos apresentações para sindicatos e grupos específicos: professores, diretores de escola, câmaras de comércio, agentes da segurança pública, juízes, prefeitos e outros membros da administração pública. Queríamos formar a maior coalizão que pudéssemos – e criar o menor número possível de inimigos. Exatamente como Pete Wilson previra, a parte de angariar fundos foi difícil para mim no início. O motivo pelo qual eu queria ser rico era nunca ter que solicitar dinheiro a ninguém – isso ia contra a minha índole. Quando fiz o primeiro pedido de contribuição, cheguei a suar. Disse a mim mesmo que na verdade quem estava angariando dinheiro não era eu, mas a causa.
Esse primeiro telefonema foi para Paul Folino, empresário da área de tecnologia e partidário da campanha de Wilson. Após uma conversa curta e cortês, ele doou 1 milhão. Meu segundo telefonema foi para Jerry Perenchio, produtor e empreendedor que acabou virando proprietário da rede de TV em língua espanhola Univision e em seguida a vendeu por 11 bilhões de dólares. Eu o conhecia pessoalmente. Ele prometeu levantar mais 1 milhão. Fiquei no paraíso com essas ligações; meu alívio ao desligar o telefone foi imenso. Então falei com mais algumas pessoas e pedi 250 mil dólares a cada uma delas. Terminei o dia muito empolgado.
No dia seguinte, fui pedir dinheiro a Marvin Davis em sua sala no arranha-céu dos estúdios Fox. Ele devia pesar uns 200 quilos.
– Em que posso ajudar? – perguntou.
Eu já tinha feito filmes pela Fox, e o produtor de Predador era filho de Davis. Expus a proposta inteira para ele, explicando com grande entusiasmo o que eu podia fazer pela Califórnia. No entanto, quando ergui os olhos das minhas anotações, ele estava dormindo! Esperei que tornasse a abrir os olhos, então falei: