– Concordo totalmente, Marvin, precisamos ter responsabilidade fiscal.
Ele podia dormir quanto quisesse, contanto que fizesse o cheque. Mas o que ele disse foi:
– Deixe-me conversar com meu pessoal. Nós entramos em contato com você. Muito corajosa, essa sua proposta.
É claro que ele nunca ligou.
Paul Folino logo bolou uma solução para me deixar mais à vontade ao pedir dinheiro: sugeriu que promovêssemos eventos beneficentes discretos, como jantares e pequenas recepções. Descobrimos que, assim que eu me via em um ambiente informal no qual pudesse conversar, conseguia passar o chapéu com grande eficácia.
Adorei buscar novos aliados. Em novembro, levei nosso rascunho da Proposta 49 para John Hein, líder político da California Teachers Association (Associação de Docentes da Califórnia), o mais forte sindicato do estado. John estava acostumado a ouvir pessoas lhe pedirem favores. Como em geral republicanos e sindicalistas não se bicam, não esperava que ele se mostrasse muito receptivo. Assim, quando comecei meu discurso, falei logo de cara: “Vocês não têm que nos dar dinheiro. Se seu sindicato apoiar nossa proposta, não precisam doar 1 milhão de dólares para o financiamento nem nada do tipo. Eu me encarrego de levantar a quantia necessária. Mas nós queremos entrar nessa junto com vocês.” Também assinalei que programas extracurriculares não apenas ajudam as crianças, mas também reduzem a pressão sobre os professores.
Para minha felicidade, ele aprovou nossa ideia. Na verdade, recomendou apenas duas mudanças na proposta, das quais a mais importante foi que incluíssemos alguma referência à contratação de professores aposentados. Não era algo que eu quisesse incentivar muito, porque crianças se relacionam melhor com jovens, sobretudo depois de um dia inteiro na escola com os professores. Elas querem orientadores de calça jeans e cabelos espetados, que possam fazer o papel de figura paterna e materna, mas sem ter o mesmo visual. No entanto, o pedido não era nada de mais, então fechamos o acordo. No final das contas, saiu tudo como queríamos, porque são poucos os professores aposentados dispostos a voltar ao trabalho.
PELOS PADRÕES NORMAIS, O INÍCIO de um ano eleitoral é cedo demais para apresentar aos eleitores uma proposta de votação popular, uma vez que a população só vai às urnas em novembro. No entanto, eu tinha que conciliar a Proposta 49 com O exterminador do futuro 3, cujas filmagens estavam prestes a começar. Assim, começamos nossa campanha no final de fevereiro, um pouco antes das primárias do estado da Califórnia. Em vez de uma coletiva de imprensa maçante, fiz uma turnê de dois dias por várias cidades do estado com comícios, crianças e muita emoção, para garantir que aparecêssemos na TV e conquistássemos mais apoio.
Depois disso, voltamos ao lento e árduo trabalho de estabelecer alianças e arrecadar fundos. Assim como o fisiculturismo, uma campanha política consiste essencialmente em repetições, repetições e mais repetições. Reuni-me com associações de pais e professores, conselhos municipais, grupos de contribuintes e a Associação Médica da Califórnia. Foi então que percebi que obter doações diretamente em um set de filmagem era uma vantagem imensa e que O exterminador do futuro 3 era a melhor oportunidade de fazer isso. As pessoas adoravam ir conferir os efeitos especiais, ver as armas serem carregadas, assistir às explosões. Às vezes eu conduzia as reuniões ainda maquiado. Um colunista do LA Times me entrevistou certo dia quando o Exterminador acabara de sair de uma briga. Cerca de um quarto do meu rosto e couro cabeludo estava coberto de sangue e todo arrebentado, deixando à mostra minha caixa craniana de titânio. Foi engraçado conversar sobre escolas de ensino fundamental desse jeito.
O procurador-geral da Califórnia, Bill Lockyer, também foi às filmagens me encontrar, e ele era democrata! Eu já o conhecia da época de O exterminador do futuro 2, quando ele era senador estadual e nos ajudara a conseguir autorização para rodar em San José a cena em que o T-1000 pula de moto por uma janela do segundo andar direto para dentro de um helicóptero. Conversei com ele sobre a proposta. Precisávamos do seu apoio, pois é o escritório do procurador-geral do estado que emite pareceres sobre o custo e a adequação jurídica de cada proposta. Ele apareceu no set no dia em que fiquei pendurado no gancho de um imenso guindaste e adorou aquilo. Não é de espantar que tenha apoiado o projeto.
Em setembro, quando O exterminador do futuro 3 entrou em pós-produção, fui a Sacramento pedir apoio aos líderes do Senado e da Assembleia estaduais. Embora estivesse curioso para ouvir o que eles tinham a dizer, não estava muito esperançoso. Para começar, dois terços do legislativo eram formados por democratas. Além disso, representantes públicos em geral detestam propostas de votação popular, pois elas reduzem seu poder e tornam o estado mais difícil de governar. Na realidade, nosso maior adversário era a Liga das Mulheres Eleitoras, veementemente contrária ao que chamava de “orçamento direto da urna”, fosse qual fosse o programa. Mesmo assim, levei no bolso uma lista de três páginas com todas as organizações que nos apoiavam. Tínhamos formado a mais ampla coalizão em prol de uma proposta de pleito popular de que qualquer um conseguia se lembrar. Seria difícil para os políticos ignorarem esse fato.
Uma das primeiras pessoas que procurei foi Bob Hertzberg, porta-voz da Assembleia. Bob é um democrata inteligente e cheio de energia natural do Vale de São Fernando, mais ou menos da mesma idade de Maria. É tão simpático que seu apelido é Huggy, “abracinho”. Em dois minutos, já estávamos fazendo piadas um com o outro. “Não estou vendo nada de ruim na proposta”, disse ele. Mas então me alertou para não esperar apoio do Partido Democrata em si. “Deus nos livre de apoiar uma proposta republicana”, brincou ele.
Tive discussões acaloradas com alguns líderes trabalhistas. O presidente de um dos maiores sindicatos de funcionários públicos estaduais perguntou:
– Qual é o seu mecanismo de financiamento?
Outros grupos de interesse alegavam que estávamos prejudicando seus programas. No entanto, dois anos antes o legislativo aprovara um acordo de pensão que envolvia 500 bilhões de dólares de passivos potencialmente a descoberto. Às mesmas pessoas que agora me perguntavam sobre meu financiamento, eu respondia:
– Vocês acabam de comprometer o estado com um gasto de centenas de bilhões de dólares. Qual é o seu mecanismo de financiamento? Estamos falando apenas em 400 milhões por ano para as crianças.
– Nós usamos os impostos.
– Bem, nesse caso estão prejudicando uma porção de outros projetos.
Também não foi fácil obter o apoio dos republicanos. Eles em geral se opunham a qualquer gasto adicional. No entanto, o líder da minoria na Assembleia, Dave Cox, um sujeito mais velho aparentemente irascível mas na realidade um doce de pessoa, tornou-se um aliado inesperado: não apenas apoiou a Proposta 49 como também me convidou para ir a San Diego durante uma reunião ordinária de legisladores republicanos. Ao fazer meu discurso diante daquela plateia, pude ver doses iguais de ceticismo e entusiasmo em seus rostos. Então Dave se levantou e se virou para os colegas. “Sabem por que essa é uma questão republicana?”, indagou a eles. “Porque é uma questão fiscal. Talvez vocês vejam essa proposta como um pedido para o contribuinte gastar mais 428 milhões de dólares. Na verdade, porém, estaremos economizando quase 1,3 bilhão.”
Ele então citou um estudo novo do qual eu sequer ouvira falar, assinado por um instituto de grande prestígio do Claremont McKenna College. “Para cada dólar que gastarmos com programas extracurriculares, economizaremos três mais à frente, graças à diminuição das prisões, da gravidez na adolescência e de confusões nos bairros”, afirmou. A mudança de atmosfera no recinto foi palpável. Na verdade, tudo o que os republicanos precisavam era esse raciocínio fiscal. Finalmente, eles votaram a favor da Proposta 49 por unanimidade.