Para ser honesto, porém, a política nunca fizera parte do acordo. Muito pelo contrário. Quando Maria me conheceu, tinha 21 anos e estava convicta de que queria um homem que não tivesse absolutamente nada a ver com política. Então surgi eu, um rapaz da zona rural austríaca dono de músculos imensos, campeão de fisiculturismo, que sonhava em ir para Hollywood, virar astro de cinema e enriquecer no mercado imobiliário. Ela pensou: “Ótimo! Isso vai nos afastar o máximo possível da política e de Washington.” No entanto, quase 30 anos depois, o círculo estava se fechando e eu lhe perguntava: “O que acha da ideia de eu me candidatar a governador?” Não era de espantar que minha mulher estivesse abalada. Percebi que ela já havia compartilhado parte daquelas coisas comigo antes, mas eu não prestara atenção.
Mais tarde nessa noite, fiquei deitado na cama pensando: “Cara, isso não vai dar certo. Se Maria não abraçar a ideia, não vai ser possível fazer a campanha.” Eu jamais pretendera lhe causar esse tipo de dor.
O que não havia contado a ela era que já me comprometera a participar do programa de Jay Leno. No dia em que a eleição revogatória fora confirmada, esbarrei com o produtor do Tonight Show no cabeleireiro. “Quer você vá concorrer ou não, gostaríamos de ser o primeiro programa em que vai abordar o assunto”, disse ele. Pensei: “Se eu for mesmo concorrer, essa poderia ser uma forma bacana de anunciar a candidatura.” Assim, aceitara, e combináramos a entrevista para o dia 6 de agosto, uma quarta-feira, três dias antes do prazo limite de inscrição.
Não foi uma noite legaclass="underline" quase não dormimos em meio a muitas lágrimas e muitas perguntas. “Se ela não quiser que eu faça isso, não vou fazer e pronto.” Isso significava que eu teria que desistir do objetivo que havia estabelecido, o que seria bem difícil, pois ele agora estava gravado na minha mente. Precisaria desligar o piloto automático e conduzir o avião manualmente de volta ao aeroporto.
Na manhã seguinte, falei para Maria:
– Concorrer a esse cargo não é a coisa mais importante para mim. O mais importante é a família. O mais importante é você, e, se achar isso um fardo muito grande, então não vamos em frente. Só quero que saiba que é uma oportunidade incrível, e acho que se você quiser que a Califórnia melhore...
– Não – respondeu ela. – Seria horrível. Não quero que você faça isso.
– Tudo bem, assunto encerrado. Não vou fazer.
Nessa noite, à mesa do jantar, ela anunciou às crianças:
– Vocês todos deveriam agradecer ao papai, porque ele tomou uma decisão boa para nossa família: não se candidatar a governador. Porque o papai queria concorrer ao governo do estado.
Nossos filhos, é claro, começaram todos a falar ao mesmo tempo.
– Obrigado, papai – disse um deles.
Então outro falou:
– Uau, seria muito legal se candidatar a governador.
Ao longo dos dias seguintes, várias coisas aconteceram. Primeiro, Jay Leno ligou para confirmar a entrevista e me senti obrigado a lhe dizer que eu provavelmente não iria me candidatar. “Não tem problema”, respondeu ele. A especulação sobre a minha candidatura tinha sido tamanha que ele sabia que minha participação garantiria uma grande audiência de qualquer forma. “Você vai ser o primeiro entrevistado”, falou.
Enquanto isso, Maria conversou com a mãe e Eunice não ficou nada satisfeita. Ela e Sarge acreditavam muito em mim e viviam me incentivando a entrar para o serviço público. Na realidade, em junho, quando eu dissera aos jornalistas que estava pensando em me candidatar, Sarge tinha me mandado o seguinte recado: “Você está me dando uma grande alegria. Não consigo pensar em ninguém que eu gostaria mais de ver ocupar um cargo público. Se eu fosse morador da Califórnia, saiba que eu votaria no Partido Republicano pela primeira vez na vida!” Eunice, por sua vez, sempre tivera vocação para a vida pública e determinação para superar derrotas e tragédias. Maria sempre brincava: “Eu me casei com minha mãe.” Portanto, quando minha mulher disse a ela que não queria que eu me candidatasse, Eunice mandou que ela parasse com aquela bobagem.
“O que houve com você?”, perguntou. “Nós, as mulheres dessa família, sempre apoiamos os homens quando eles querem fazer alguma coisa!” Não participei da conversa, naturalmente, mas Maria me contou depois. “Além do mais”, acrescentou minha sogra, “quando um homem começa a ter essa ambição de concorrer, não dá mais para revertê-la. Se você o impedir, ele vai passar o resto da vida zangado. Então não reclame. Vá lá e ajude o seu marido.”
Durante esse período, tive conversas quase diárias com meu amigo Dick Riordan, ex-prefeito de Los Angeles. Ele e a mulher, Nancy, moravam a menos de 2 quilômetros de nós. Assim como eu, Dick era um republicano moderado, que fora derrotado nas primárias para governador no ano anterior. A maioria das pessoas imaginava que ele fosse se candidatar à eleição revogatória, e suas chances de vencer eram boas. Ele tinha um incrível administrador de campanha chamado Mike Murphy, que já tornara a convocar. Mas então começaram a circular boatos de que Dick começara a faltar a reuniões políticas em troca de partidas de golfe.
Liguei para saber o que estava acontecendo. “Não devo me candidatar”, falei para ele. “Nesse caso, quero dizer que vou apoiar você.”
Ele me agradeceu e mais tarde nos convidou para jantar com ele e a mulher em sua nova casa de praia em Malibu. Passamos a refeição inteira falando sobre os Riordan concorrerem e nós não. Foi então que percebi que a posição de Maria tinha se suavizado ligeiramente.
– Arnold quase decidiu concorrer, depois acabou resolvendo que não, porque nós não gostamos nem um pouco da ideia – disse ela.
– Faz parte da vida – acrescentei. – Estou feliz por ter decidido não concorrer.
Maria se virou para mim.
– Bom, sei que isso deve estar sendo bastante difícil para você. Mas no fim das contas a decisão é sua, e você deveria fazer o que quer.
Fiquei espantado. Será que ela estava dizendo “Eu surtei quando você me disse que iria concorrer, mas agora estou me sentindo melhor em relação ao assunto”?
Depois do jantar, Dick me levou até a varanda como quem não queria nada. Deu-me um soquinho de leve na barriga e falou, direto:
– Você deveria se candidatar.
– Como assim?
– Para ser bem sincero, não tenho esse fogo dentro de mim que você tem. – Dick estava com 73 anos. – Você deveria se candidatar – repetiu ele. – Que tal eu apoiar você?
No carro, a caminho de casa, falei para Maria:
– Você não vai acreditar no que acabou de acontecer.
Contei-lhe sobre a conversa com Dick.
– Bem que eu achei que ele estava meio esquisito durante o jantar! – comentou ela. – Mas o que você respondeu?
– Falei de você, sobre como você é totalmente contra...
– Olhe aqui – interrompeu-me ela. – Eu não quero ser uma desmancha-prazeres. Não quero essa responsabilidade. Talvez você devesse mesmo concorrer.