Então eu disse:
– Maria, você precisa se decidir até a semana que vem.
E foi esse vai não vai durante muitos dias. Pude ver o dilema que ela estava vivendo. Maria tinha um lado atrevido e corajoso e queria ser uma companheira forte, mas outro lado seu dizia: “Vai ser aquela montanha-russa que você já conhece. Ele provavelmente vai perder, e você também vai virar uma derrotada. Vai acabar se vendo em uma enorme confusão que não foi você que causou.” Ela me dizia para tomar minha própria decisão, porém, sempre que eu parecia estar levando mais a sério a possibilidade de me candidatar, tornava a ficar chateada.
Também estava sendo complicado para mim. Até então, tomar qualquer resolução relacionada à carreira sempre tinha sido algo incrivelmente empolgante, como quando eu começara a carreira de ator e decidira não competir mais como fisiculturista. A ideia se formava, eu ia atrás dela e pronto. Só que tomar uma decisão de carreira como marido e pai eram outros quinhentos.
Normalmente eu teria ligado para meus amigos e conversado sobre o assunto. Mas a candidatura a um cargo político era algo tão sério que eu não podia comentar com ninguém. “Esse assunto é só entre nós dois”, frisei para Maria. “Vamos acabar encontrando uma solução.”
No meio disso tudo, Danny DeVito me chamou para ir à sua casa. Queria me apresentar três projetos de filme, entre os quais Irmãos gêmeos II e um outro que ele próprio havia escrito e queria dirigir.
– Que ótima ideia, Danny. Adoraria trabalhar com você outra vez. Mas, Danny, você sabe que a Califórnia está em péssima situação – acrescentei.
– É, deve estar mesmo. Mas o que isso tem a ver com meus filmes?
– Bom, é que, se minha mulher concordar, eu talvez me candidate a governador.
– O quê? Ficou maluco? Vamos fazer um filme juntos!
– Danny, isso é mais importante que um filme. A Califórnia é mais importante que a sua carreira, que a minha, que a de todo mundo. Se Maria deixar, eu tenho que entrar nesse páreo.
Ele disse que tudo bem, imaginando que aquilo não fosse acontecer de verdade.
DE REPENTE JÁ ERA 6 DE AGOSTO, uma quarta-feira, dia marcado para minha aparição na TV. Eu ainda não sabia o que iria anunciar. Nessa manhã, eu estava no banheiro quando ouvi Maria dizer do outro lado da porta: “Estou indo para a NBC. Escrevi uma coisa que vai ajudá-lo no Tonight Show.” Então empurrou dois pedacinhos de papel por baixo da porta.
Um deles era uma lista de tópicos que dizia, em linhas gerais: “Sim, Jay, você tem toda a razão. A Califórnia está em uma situação desastrosa e precisamos de uma liderança nova. Não há como fugir desse fato. É por esse motivo que estou aqui para anunciar que vou apoiar a candidatura de Dick Riordan a governador e trabalhar com ele, mas não vou concorrer.” Dick ainda não havia se inscrito, mas Maria imaginava que isso fosse acontecer.
O outro pedacinho de papel dizia, também em linhas gerais: “Sim, Jay, você tem toda a razão, a Califórnia está em uma situação desastrosa e precisamos de uma nova liderança. É por isso que anuncio aqui, hoje, que vou me candidatar a governador do estado. Vou garantir que os problemas sejam sanados.”
Quando terminei de ler, Maria já tinha saído de casa. “Então tá”, pensei. “Ela está deixando a decisão nas minhas mãos. Já faz uma semana que estamos falando sobre isso. Não vou mais pensar no assunto até chegar ao programa. O que sair da minha boca é o que vai ser.” É claro que eu estava inclinado a declarar que iria me candidatar.
Nenhum consultor político jamais recomendaria anunciar uma candidatura séria no Tonight Show, mas eu já tinha ido ao programa dezenas de vezes e me sentia à vontade lá. Jay era um bom amigo. Sabia que ele iria me amparar, que faria perguntas interessantes e envolveria a plateia na conversa. Em uma coletiva de imprensa não dá para ouvir a reação do público.
Leno já tinha dito inúmeras vezes que eu iria ao programa fazer um anúncio importante. Todo mundo, dos meus amigos mais chegados ao motorista que me levou até o estúdio, queria saber: “O que você vai dizer?” Leno entrou na sala de espera e me fez a mesma pergunta. Mas tudo no mundo da política sempre vaza: há sempre um jornalista pronto para escrever qualquer coisa e todo jornalista vive atrás de um furo. O único jeito de eu fazer um anúncio de verdade era não falar nada a ninguém. Então fiquei na minha até o programa começar.
Quando o sol se pôs, estava feito: eu entrara na disputa. O Tonight Show vai ao ar às onze da noite, mas é gravado às cinco e meia da tarde, horário da Califórnia. Depois de fazer meu anúncio, respondi às perguntas de uma centena de jornalistas e equipes de TV reunidas do lado de fora.
A eleição revogatória maluca da Califórnia de repente tinha um rosto! Poucos dias depois, saí na capa da Time com um sorriso enorme estampado no rosto e uma única linha de texto: “Hãnold!?”
No dia seguinte, meu escritório em Santa Monica se transformou no centro de comando da candidatura Schwarzenegger ao governo do estado. Quando você lança uma campanha, espera-se que já tenha mil coisas preparadas: temas, mensagens, plano de arrecadação de fundos, equipe, site na internet. No entanto, como eu mantivera o suspense até o final, não tinha nada disso. Até mesmo uma equipe de arrecadação de fundos teria denunciado minhas intenções. Assim, tudo o que eu tinha era meu pessoal da Proposta 49. Tivemos que organizar tudo às pressas.
Foi inevitável que a situação gerasse momentos de tensão. Na sexta-feira, levantei-me às três da manhã para dar entrevistas aos programas Today, Good Morning America e CBS This Morning. Começamos com Matt Lauer, do Today. Quando ele me pediu detalhes sobre como eu iria recuperar a economia da Califórnia e quando liberaria minha declaração de imposto de renda, percebi que não estava preparado para aquilo. Incapaz de responder, fui obrigado a apelar para o velho truque de Groucho Marx de fingir que a ligação estava ruim.
– Pode repetir? – Levei a mão ao fone de ouvido. – Não ouvi direito.
Lauer encerrou a entrevista dizendo, com sarcasmo:
– Parece que estamos perdendo a conexão com Arnold Schwarzenegger em Los Angeles.
Esse foi o pior desempenho público da minha vida.
Até então, Maria se mantivera distante enquanto se adaptava àquela nova etapa de emoção em nossas vidas. No entanto, ver-me titubear na TV despertou a leoa Kennedy adormecida. No final dessa mesma manhã, ela chegou para participar de uma reunião com os consultores que estavam quebrando a cabeça para bolar minha campanha.
“Qual é o seu plano?”, perguntou Maria, com voz suave. “Onde está sua equipe? Qual é a sua mensagem? Qual é o objetivo dessas aparições na TV? Em que direção sua campanha está indo?” Sem levantar a voz, ela levou para o escritório muitas gerações de autoridade e experiência.
Terminada a reunião, Maria decidiu: “Precisamos de mais gente, e logo. E precisamos de alguém que lidere e estabilize o processo.” Ela telefonou para Bob White, em Sacramento; ele ajudara a lançar minha campanha em prol dos programas extracurriculares e recomendara a maioria das pessoas com quem eu trabalhava agora. “Você tem que vir nos ajudar”, disse-lhe ela. Bob então nos indicou um administrador de campanha, um estrategista, um diretor de políticas públicas e um diretor de comunicação. Além disso, ele mesmo entrou para a equipe, supervisionando tudo de maneira informal. O ex-governador Pete Wilson também colaborou: não apenas me deu seu apoio como se ofereceu para promover um evento de arrecadação de fundos no Regency Club e me ajudou a conseguir importantes doadores pelo telefone.
UMA DE MINHAS PRIMEIRAS ATITUDES como candidato foi procurar Teddy Kennedy. Conseguir seu apoio estava fora de cogitação; na verdade, Teddy havia divulgado uma declaração por escrito que dizia: “Tenho apreço e respeito por Arnold... mas sou democrata. E tampouco apoio a eleição revogatória.” Apesar disso, por recomendação de Eunice, fui procurá-lo. Quando ela soube que eu iria a Nova York para participar de um evento da associação de atividades extracurriculares After-School All-Stars, no Harlem, logo depois de anunciar a candidatura – compromisso assumido meses antes –, convenceu-me a ir a Hyannis Port a fim de conversar com seu irmão. “Vocês não têm as mesmas opiniões políticas”, disse minha sogra, “mas ele já fez muitas campanhas e ganhou todas elas, exceto a eleição para presidente, de modo que eu levaria em consideração tudo o que ele tiver a dizer.”