Os dois concordaram em copresidir a reunião, que consistiria em uma sessão fechada de duas horas antes da coletiva de imprensa, e apresentaram uma lista de mais de 20 nomes. Paul e eu convidamos todos eles pessoalmente, telefonando para cada um da cozinha da minha casa. Havia pesos pesados como Michael Boskin, ex-consultor econômico de Bush pai; Arthur Rock, cofundador da Intel Corp. e investidor pioneiro de capital de risco no Vale do Silício; Bill Jones, ex-secretário de Estado da Califórnia; e Ed Leamer, da UCLA. Evidentemente, não eram nomes que um típico fã de O exterminador do futuro 3 ou Irmãos gêmeos fosse conhecer, mas seu envolvimento iria assinalar para a imprensa especializada e o establishment político que minha candidatura era para valer.
A cúpula, realizada em 20 de agosto, gerou ideias úteis, e a coletiva de imprensa que se seguiu foi um sucesso. O local escolhido foi o salão de baile do hotel Westin, perto do Aeroporto Internacional de Los Angeles, que ficou lotado de repórteres e equipes de gravação do mundo inteiro e tomado por um burburinho de animação. Eu acabara de participar da coletiva de O exterminador do futuro 3 em Cannes, em maio anterior, e aquilo era muito maior.
“Perfeito!”, pensei. O democrata Buffett e o republicano Shultz se posicionaram ao meu lado, uma representação concreta de que eu era um candidato para toda a Califórnia. Depois das palavras inaugurais ditas por eles, passei 45 minutos respondendo a perguntas e esboçando meus objetivos caso os eleitores me escolhessem para substituir Gray Davis. Recuperar a saúde econômica da Califórnia era a prioridade, frisei, e tomar medidas rápidas para equilibrar o orçamento seria fundamental para implementar esse plano. “Isso quer dizer que faremos cortes nos gastos do estado? Sim. Significa que os gastos com educação estão em risco? Não. Significa que estou disposto a aumentar os impostos? Não. Mais impostos são o último fardo que precisamos impor aos cidadãos e às empresas da Califórnia.”
Eu havia ficado nervoso antes dessa reunião: aquilo era a imprensa séria, não a do entretenimento. Então me perguntei: “Será que eu deveria mudar de tom? Será que deveria tentar soar mais como um governador?” Mas Mike Murphy, que acabara de entrar para a equipe como meu administrador de campanha, aconselhou: “Mostre a eles que está tendo um momento agradável. Que ama o que está fazendo. Seja simpático, autêntico e bem-humorado, e se divirta. Não se preocupe se vai falar besteira, só esteja pronto para brincar com isso logo em seguida. As pessoas não se lembram do que você diz, só se lembram se gostaram ou não de você.” Então não havia problema em ser eu mesmo. Fui lá e me diverti a valer. Uma das primeiras perguntas foi sobre Warren Buffett e a Proposta 13. Na semana anterior, ele dissera ao Wall Street Journal que uma boa maneira de a Califórnia gerar mais receita seria rever essa lei, que mantinha os impostos sobre bens imobiliários em um nível tão baixo que chegava a ser irrealista. “Não faz sentido”, afirmara ele.
Então, durante a coletiva, um jornalista perguntou:
– Warren Buffett disse que o senhor deveria mudar a Proposta 13 e aumentar os impostos sobre os bens imobiliários. O que tem a dizer sobre isso?
– Em primeiro lugar, falei para Warren que, se ele mencionasse a Proposta 13 outra vez, teria que fazer 500 abdominais.
Todo mundo riu, e Warren, que tem espírito esportivo, também abriu um sorriso. Então falei com todas as letras que não iria aumentar os impostos sobre bens imobiliários.
Houve perguntas sobre todo tipo de assunto: de imigração a como eu iria conviver com os democratas que dominavam o legislativo estadual. “Tenho muita experiência em lidar com democratas”, falei, assinalando que era casado com uma.
Como não podia deixar de ser, um jornalista perguntou quando eu iria dar detalhes sobre meus planos econômicos e orçamentários. “O público não liga para fatos e números”, respondi. “As pessoas passaram os últimos cinco anos ouvindo falar em números. O que o povo quer saber é se você tem pulso para fazer a faxina de que a casa precisa. De uma coisa os cidadãos da Califórnia podem ter certeza: eu vou agir.” Acrescentei que não fazia sentido assumir posições definitivas em relação a questões complexas antes de ter condição de conhecer os fatos.
Outro jornalista perguntou se eu iria dar mais detalhes antes do dia da eleição, 7 de outubro. Agradecendo a Teddy em silêncio, respondi apenas: “Não.”
Meus consultores ficaram entusiasmados, e a cobertura da imprensa sobre meus comentários nas horas e nos dias que se seguiram foi majoritariamente positiva. No entanto, tive que rir ao ler a manchete do San Francisco Chronicle na manhã seguinte:
ATOR FALA GROSSO PARA DOMAR DÉFICIT
MAS SCHWARZENEGGER NÃO ENTRA EM DETALHES
Maria, recém-chegada de férias em Hyannis Port com as crianças, disse que eu havia me saído bem. Também ficou satisfeita ao constatar que a campanha agora estava bem mais ordenada e coerente – graças, em grande parte, às mudanças iniciadas por ela naqueles primeiros dias. E havia outra coisa, também: acho que, pela primeira vez, ela sentiu cheiro de vitória; sentiu que era realmente possível que eu ganhasse.
A PARTIR DESSE DIA, A CAMPANHA GANHOU FORÇA. Escolhemos um tema por semana: economia, educação, emprego, meio ambiente. Convocamos também uma coletiva de imprensa na estação de trem de Sacramento, onde o lendário governador Hiram Johnson fizera um discurso histórico para denunciar os barões das ferrovias e defender o processo das votações populares como uma forma de os cidadãos recuperarem o controle do estado. Escolhi a estação para destacar que iria lutar contra problemas políticos sistêmicos como o chamado gerrymandering, que permite que os políticos eleitos estabeleçam, eles próprios, as fronteiras de seus distritos eleitorais de modo que possam mantê-los sob seu jugo para sempre.
Maria deixou a relutância de lado e mergulhou de cabeça na corrida ao governo. Quando ela chegava ao quartel-general da campanha, dava para ver que aquele era seu habitat. Minha mulher participava de reuniões de todo tipo, de estratégia a slogans. Dava ideias e fazia propostas, às vezes para a equipe inteira, outras vezes para mim pessoalmente.
Maria fizera uma sugestão à qual, não sei por quê, não tínhamos dado atenção: recomendara que abríssemos um escritório de campanha no primeiro andar, no nível da rua, para as pessoas poderem entrar. “Vocês não podem ficar aqui no terceiro andar”, disse ela. “As pessoas gostam de poder passar na rua e ver o que está acontecendo. Gostam de conversar, tomar um café e receber panfletos que possam distribuir.” Encontramos um grande espaço comercial vazio perto do quartel-general e o proprietário se dispôs a emprestá-lo para a campanha. Decoramos o local com bandeirinhas, cartazes e balões. Então fizemos uma grande festa de inauguração que ficou lotada. Eu já vira multidões reunidas pelo cinema, pelo fisiculturismo e pelos programas extracurriculares, mas aquilo ali tinha uma energia diferente. Era uma campanha política de verdade.
Em setembro, Maria e eu fomos a Chicago para a estreia da nova temporada do Oprah Winfrey Show. Achei ótimo participar, pois os republicanos vinham cometendo a burrice de isolar as mulheres, e era fundamental contar com o apoio delas. Eu, em especial, precisava conquistá-las, pois meu público de cinema sempre fora majoritariamente masculino. Eu tinha opiniões progressistas sobre questões de importância crucial para as eleitoras – reforma do ensino, reforma do sistema de saúde, meio ambiente, aumento do salário mínimo –, e o programa de Oprah era o veículo perfeito para defender minhas ideias.
Enquanto isso, democratas de peso faziam campanha para Gray Davis. Bill Clinton passou um dia inteiro com ele no bairro de Watts e no centro-sul de Los Angeles. O senador John Kerry, Jesse Jackson e Al Sharpton estavam entre os presentes. O único democrata importante que não apareceu foi Teddy.