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Tanto o presidente Bush quanto seu pai se ofereceram para participar da minha campanha, mas recusei educadamente. Queria ser o candidato pouco expressivo a suplantar a máquina de Gray Davis.

Maria acompanhava as pesquisas de opinião como uma especialista. Estava sempre atenta, por exemplo, a como o ultraconservador Tom McClintock, senador estadual da Califórnia, não parava de roubar meu apoio entre os republicanos. É claro que havia gente na equipe dissecando e analisando esses mesmos dados, mas Maria focava em elementos que não apareciam nos números. Em determinado momento, ela me surpreendeu ao dizer:

– Não há ninguém importante atacando você. É um bom sinal.

– Como assim? – estranhei. Como é que a falta de ataque podia significar alguma coisa?

Ela explicou que, se as pessoas achassem que eu era maluco, ou tão picareta que o fato de eu ser eleito fosse prejudicar o estado, a oposição seria bem mais ampla e cruel.

– Você só está sendo atacado pela extrema esquerda e pela extrema direita – observou ela. – Isso significa que foi aceito como candidato viável.

O que as pesquisas de opinião mostravam em meados de setembro era que Gray Davis estava frito: os eleitores eram a favor de sua destituição em uma proporção de quase dois contra um.

O favorito para substituí-lo não era eu, contudo, e sim o vice-governador Cruz Bustamante, que tinha as intenções de voto de 32% dos eleitores consultados. Eu tinha 28% e Tom McClintock, 18%, enquanto os 22% restantes estavam indecisos ou tendiam votar em um de nossos 132 rivais no circo.

Bustamante era um adversário difícil – não porque fosse muito carismático, mas porque agradava aos democratas que não gostavam de Gray Davis. Ele se apresentava como a alternativa mais segura e experiente, com o sofrível slogan de campanha “Não à eleição revogatória, sim a Bustamante”. Em outras palavras: não vim aqui prejudicar meu colega democrata Gray Davis, mas, se vocês decidirem tirá-lo do cargo, votem em mim!

A essa altura, nossa campanha estava com força total. Usando meu jatinho particular, eu conseguia percorrer grandes distâncias em apenas um dia. Íamos de aeroporto em aeroporto, e às vezes o comício acontecia ali mesmo, com mil pessoas reunidas dentro de um hangar. O avião pousava, estacionava, eu ia até o hangar, animava o público e então embarcava rumo à cidade seguinte. Também fizemos ações malucas, como passear pela cidade em um ônibus de campanha chamado “O Sobrevivente” ou esmagar um carro com uma bola de demolição para simbolizar o que eu faria com a taxa de emplacamento de Gray Davis caso fosse eleito.

Todos os dias eu aprendia algo sobre política e governo. A dinâmica de minhas coletivas de imprensa estava melhor: aprendi a diminuir meu tempo de preparação para discursos importantes de uma semana para apenas uma noite, e meu raciocínio também ficou mais rápido. Nossos anúncios na TV estavam funcionando muito bem. Meu preferido começava mostrando um caça-níqueis com os dizeres “Cassinos Indígenas da Califórnia”, no qual se via surgir o número 120.000.000 – 120 milhões de dólares era a quantia com a qual as tribos haviam contribuído para campanhas políticas durante o governo de Gray Davis. Então eu aparecia e dizia: “Todos os outros candidatos aceitam dinheiro deles em troca de favores. Eu não participo desse jogo. Votem em mim e eu garanto que as coisas vão mudar.” As pessoas ficaram chocadas com o fato de eu estar atacando a jogatina das tribos. “Ele é mesmo o Exterminador”, pensavam.

Em vez de tentar dissuadir os eleitores de Bustamante, nossa meta era atrair os milhões de eleitores independentes e indecisos. A melhor oportunidade para isso seria o debate de 24 de setembro, apenas 15 dias antes da eleição. Pela primeira e única vez, todos os cinco principais candidatos ao cargo de Gray Davis iriam se encontrar num estúdio: eu, Cruz Bustamante, o senador estadual Tom McClintock, Peter Camejo, do Partido Verde, e a colunista política Arianna Huffington.

A preparação para o debate foi engraçada. Escalamos integrantes de nossa equipe para fazer o papel dos meus oponentes. Todos os candidatos receberiam perguntas com antecedência, mas o debate em si seria livre e os participantes poderiam intervir quando quisessem. Treinamos perguntas relacionadas a decisões políticas, simulando todos os ataques e réplicas possíveis:

“Como o senhor pode ser a favor do meio ambiente se tem um jatinho particular?”

“O senhor ganha 30 milhões de dólares por filme. Como pode se identificar com a situação dos pobres?”

“Seus filmes são violentos. Como o senhor pode afirmar que apoia a segurança pública?”

Eu também tinha que estar pronto para atacar. Sabia que não poderia derrotar McClintock em matéria de políticas públicas – ele era um verdadeiro CDF – e tampouco seria capaz de competir com a eloquência de Arianna. Minha chance de acabar com eles era meu senso de humor. Assim, bolamos frases curtas engraçadas e encomendamos piadas de John Max, redator de Jay Leno. Ensaiamos até que eu as soubesse de cor. Se Arianna me perguntasse sobre impostos, eu teria uma resposta pronta. Se ela começasse a dramatizar demais, eu teria outra, e assim sucessivamente.

Alugamos um estúdio e treinamos bastante, sentados em V diante do ponto no qual ficaria a plateia do debate. Passamos três dias só ensaiando. Lembrei a mim mesmo que eu não deveria me prender a detalhes. Tinha que ser simpático e bem-humorado. Deixar os outros tropeçarem sozinhos. Criar armadilhas para fazê-los dizer bobagens.

O debate atraiu muitos jornalistas. Quando cheguei, o estacionamento já estava lotado – parecia uma final de basquete. Em meio a um mar de caminhonetes e trailers da imprensa despontavam antenas de satélite de TVs japonesas, francesas e britânicas, além de todas as redes nacionais americanas. Foi assustador e inacreditável ver tanta atenção concentrada em um único evento.

Quando subimos ao palco para ocupar nossos lugares, não pudemos levar anotações. Sessenta segundos antes de começar, fiz uma recapitulação mental. “Saúde: o que o senhor mudaria?”, perguntei a mim mesmo. De repente, porém, não consegui me lembrar de absolutamente nada sobre esse tópico! “Está bem”, pensei, “vamos passar para a questão das aposentadorias.” De novo, nada me ocorreu. Fiquei totalmente paralisado. Já tivera um branco daqueles uma ou duas vezes atuando, mas era muito raro. Além disso, nas filmagens você sempre pode pedir a alguém que lhe sopre a fala. Por sorte, restava-me o senso de humor. “Vai ser interessante”, pensei.

O DEBATE COMEÇOU COM CADA CANDIDATO dizendo se achava que a eleição revogatória deveria ou não ocorrer. Todos concordamos que sim, com exceção de Bustamante, que a classificou como uma “péssima ideia”, enfatizando sua posição precária de opositor do pleito especial ao mesmo tempo que promovia a própria campanha, “só para garantir”.

A conversa foi ficando “acalorada” e “animada”, como os jornalistas viriam a descrevê-la depois. Bustamante logo atacou minha falta de experiência, introduzindo quase todos os comentários que fez para mim com a frase “Talvez o senhor não saiba, mas...”. Mostrar-se superior foi um tiro que saiu pela culatra, pois fez o público antipatizar com ele e me deu a oportunidade de mostrar que sabia do que ele estava falando. Isso causou boa impressão, assim como o meu senso de humor. Quando o debate ficava especialmente exaltado e todos começavam a gritar uns com os outros, eu dizia alguma barbaridade que fazia a plateia rir.

Arianna e eu batemos boca algumas vezes. Em determinado momento, ela estava pondo a culpa da crise orçamentária do estado nas brechas fiscais e na imoralidade dos republicanos e das empresas. Falei: “Como assim, Arianna? Vocês estão usando brechas fiscais tão grandes que eu poderia passar por elas com meu Hummer.” No dia seguinte, apareci na frente nas pesquisas de opinião. Pulei de 28% para 38% das intenções de voto, enquanto Bustamante caiu de 32% para 26%.