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No entanto, embora Bustamante e eu tivéssemos sido os principais concorrentes, a cobertura da imprensa após o debate se concentrou nos embates entre mim e Arianna. Em determinado momento, quando os candidatos debatiam o orçamento estadual, ela reclamou que eu a estava interrompendo e me acusou de sexista.

– É assim que você trata as mulheres – disse ela. – Nós já sabemos. Mas desta vez vai ser diferente.

Respondi com uma brincadeira:

– Acabo de me dar conta de que tenho um papel perfeito para você em O exterminador do futuro 4.

Quis dizer que ela poderia interpretar o papel da cruel Exterminadora. Arianna, porém, interpretou isso como uma ofensa e no dia seguinte disse à imprensa que as mulheres haviam ficado indignadas com meu comentário. “Acho que aquilo o deixou de fato mal com as mulheres, o que já era mesmo o seu ponto fraco”, afirmou ela.

Arianna estava chamando atenção para as alegações de mau comportamento que já tinham vindo à tona diversas vezes ao longo dos anos em relação a mim. Na semana seguinte, faltando apenas cinco dias para a eleição, essas acusações foram tema de uma denúncia no Los Angeles Times: “Mulheres afirmam que Schwarzenegger as bolinou e humilhou”. Minha equipe ficou ensandecida: parece que, segundo uma regra tácita da política, era proibido fazer denúncias sobre candidatos na última semana de campanha. Mas eu não havia entrado naquele páreo com a esperança de não levar nenhuma pancada. Como dissera a Jay Leno no dia em que anunciara minha candidatura na TV: “Eles vão dizer que eu não tenho experiência, que sou mulherengo, um cara horrível, e eu vou ter que lidar com uma porção de coisas desse tipo... mas quero fazer uma faxina em Sacramento.” Minha campanha não era a de um conservador social, defensor dos bons costumes. Assim que anunciei minha candidatura, o Los Angeles Times destacou uma equipe de repórteres para escrever uma série de matérias investigativas a meu respeito. Várias delas já tinham sido publicadas, entre as quais uma sobre o passado nazista do meu pai e outra sobre meu uso de anabolizantes quando era fisiculturista. Minha regra em relação a acusações prejudiciais era que, caso fossem falsas, eu lutaria com unhas e dentes para que fossem retiradas, e, se fossem verdadeiras, admitiria e me desculparia assim que tivesse oportunidade. Portanto, quando as primeiras matérias saíram, eu reconhecera o uso de anabolizantes no começo da carreira, como já tinha feito antes, e informara que trabalhara em parceria com o Simon Wiesenthal Center para localizar documentos disponibilizados recentemente sobre o histórico de guerra do meu pai.

Nenhuma daquelas acusações de abuso eram verdadeiras. Apesar disso, eu algumas vezes já agira de forma inapropriada e tinha de fato motivos para me desculpar por meu comportamento no passado. Em meu primeiro pronunciamento, no dia seguinte, diante de uma plateia em San Diego, falei: “Muitas dessas histórias não são verdadeiras. Ao mesmo tempo, sempre digo que onde há fumaça há fogo. Então, sim, eu já agi mal no passado. Sim, já me meti em confusões em alguns sets de filmagem, fiz coisas que não eram certas e que na ocasião considerei brincadeiras, mas que hoje reconheço terem ofendido terceiros. E, a essas pessoas que ofendi, gostaria de dizer que estou profundamente arrependido pelo que fiz e peço desculpas.”

Como já havia acontecido antes, muitas pessoas se manifestaram em minha defesa, e minha aliada mais importante foi Maria. Nesse dia, ao fazer um discurso em uma organização feminina republicana, ela afirmou deplorar a política e o jornalismo sensacionalistas. “Vocês podem dar ouvidos a todas essas declarações negativas e podem dar ouvidos a pessoas que nunca conheceram Arnold, ou então que estiveram com ele por cinco segundos 30 anos atrás. Ou então podem escutar a mim”, disse ela, e me elogiou pela minha coragem de me desculpar.

Como nossas pesquisas de opinião sugeriam desde o início, os eleitores da Califórnia estavam bem mais preocupados com outras questões, como por exemplo a economia. Meu discurso em San Diego foi o pontapé inicial de uma última turnê de ônibus para fazer comícios em vários pontos do estado. Nessa manhã, 3 mil pessoas compareceram. No evento seguinte, na região conhecida como Inland Empire, a leste de Los Angeles, 6 mil estiveram presentes. Na manhã de sábado, em Fresno, o público chegou a 8 mil. No domingo, quando finalmente chegamos a Sacramento, havia quase 20 mil pessoas reunidas em frente ao Capitólio para me receber, comemorar e participar do comício. Em pé na escada da sede do governo estadual, fiz um discurso de cinco minutos. Então a banda começou a tocar – um grupo descolado, com o qual os jovens pudessem se identificar –, eu peguei uma vassoura, e foi essa a foto que a imprensa tirou: Schwarzenegger chegou para fazer a faxina. Dava para sentir a energia. Pronto! Estávamos preparados para decidir o páreo.

Na noite da eleição, eu estava me vestindo para ir à festa. Ainda era muito cedo, então eu não sabia o resultado, mas sentia que minhas chances de vencer eram bastante altas. Quando entrei no quarto para calçar os sapatos, ouvi um apresentador da CNN dizer: “Podemos considerar a eleição decidida. O novo governador é Arnold Schwarzenegger.” Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Não pude acreditar. Estava contando com aquilo, mas ouvir a notícia na CNN foi demais – era o reconhecimento oficial de uma rede de TV a cabo internacional. Nunca pensei que fosse passar em frente a uma TV e ouvir as palavras “Schwarzenegger é o novo governador da Califórnia”.

Fiquei algum tempo sentado no quarto. Katherine entrou e perguntou: “Pai, o que você acha deste vestido?” Enxuguei as lágrimas. Não queria que minha filha me visse chorando. Maria, que estava se vestindo em outro banheiro, entrou para assistir ao noticiário comigo e também ficou radiante: não só por gostar da ideia de se tornar a primeira-dama do estado da Califórnia, mas porque aquela vitória política poderia ajudá-la a esquecer antigas derrotas familiares.

A população havia votado pela destituição de Gray Davis por 55% contra 45% e me escolhera como governador por uma margem significativa em detrimento de Cruz Bustamante e dos outros candidatos. O resultado da votação foi 49% para mim, 31% para Bustamante, 13% para McClintock, 3% para Camejo e 4% divididos entre os outros candidatos.

Um dos momentos mais agradáveis da vitória aconteceu uma semana depois, quando o presidente George W. Bush me fez uma visita a caminho de uma viagem diplomática à Ásia. Encontramo-nos no Mission Inn, hotel histórico da cidade californiana de Riverside que já hospedou 10 presidentes dos Estados Unidos. Karl Rove estava lá com Bush quando fui conduzido até a suíte. Depois que todos nos cumprimentamos, Rove disse: “Vou deixá-los a sós.”

O presidente, que sabia que o seu arquiteto político me aconselhara a não concorrer, tentou remediar a situação:

– Não fique chateado com Rove pelo que ele lhe disse lá em Washington. Karl é assim mesmo. Ele é um bom sujeito. Temos que trabalhar juntos.

Respondi que nunca deixaria conflitos de personalidade atrapalharem o que precisávamos fazer pelo país e pela Califórnia.

– Será um prazer colaborar com ele no futuro – acrescentei. – Sei que ele está fazendo um bom trabalho.

Bush então tornou a chamar Rove e disse:

– Ele gosta de você.

Karl apertou minha mão e sorriu.

– Estou ansioso para trabalharmos juntos – afirmei.

Eles provavelmente sabiam o que eu diria a seguir. Depois do debate, eu reclamara na imprensa da quantidade de impostos paga pelos californianos ao governo federal e de quão pouco desse dinheiro voltava para a Califórnia em comparação com outros estados do país, como o Texas. “Não sou só o Exterminador, sou também o Coletor”, declarei à CNN e jurei conseguir de Washington, quando fosse governador, aquilo a que tínhamos direito.