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Um dos métodos que elaboramos para alcançar o choque muscular eram as séries regressivas. Em uma sequência de treino normal, a primeira série é feita com pesos mais leves e se vai aumentando a carga. Na série regressiva, porém, faz-se o contrário. Por exemplo, na preparação para Londres, eu precisava desenvolver meus deltoides. Então fazia extensões com pesos: você segura um peso em cada mão, na altura dos ombros, e estica os braços para erguê-los até acima da cabeça. Na série regressiva, eu começava com a carga máxima que conseguia levantar: seis repetições com pesos de 45 quilos. Em seguida eu os trocava pelos de 40 quilos e fazia mais seis repetições. E assim por diante, diminuindo cada vez mais. Quando chegava aos pesos de 20 quilos, meus ombros já estavam pegando fogo, e a cada repetição parecia que cada braço estava levantando 50 quilos, em vez de 20. Antes de largar os pesos, porém, eu aumentava ainda mais o choque nos deltoides fazendo levantamentos laterais, ou seja, erguendo os 20 quilos da altura do quadril até o ombro. Depois disso, meus músculos dos ombros ficavam tão doloridos que eu não sabia onde pôr as mãos. Deixá-las pender junto ao corpo causava uma dor excruciante e erguê-las era impossível. Tudo o que eu conseguia fazer era repousar os braços sobre uma mesa ou um aparelho, para aliviar a dor. A sequência inesperada de séries deixava os deltoides gritando. Eu mostrava a eles quem mandava. Então sua única opção era se recuperar e hipertrofiar.

DEPOIS DE TREINAR PESADO O DIA INTEIRO, à noite eu só queria me divertir. Em 1966, em Munique, diversão significava cervejaria, e cervejaria significava briga. Eu e meus amigos íamos a esses lugares, que todas as noites se enchiam de gente sentada em volta de mesas compridas, rindo, discutindo e brandindo suas canecas. E ficando bêbada, é claro. Todo mundo puxava briga o tempo todo, mas nunca era nada do tipo “Vou matar esse cara”. Assim que a briga terminava, um dos adversários dizia:

– Ah, vamos comer uns pretzels. Posso pagar uma cerveja para você?

E o outro respondia:

– É, eu perdi, então o mínimo que você pode fazer é me pagar uma cerveja. Até porque estou sem um tostão.

E logo os dois estavam bebendo juntos, como se nada tivesse acontecido.

A cerveja em si não me agradava tanto assim, porque interferia no treinamento, então eu raramente bebia mais de uma por noite. Quanto às brigas, no entanto, eu não perdia uma. Tinha a sensação de estar descobrindo um poder novo a cada dia: eu era imenso, forte, imbatível. Pensar praticamente não fazia parte da equação. Se um cara me olhasse de um jeito estranho ou me desafiasse por qualquer motivo que fosse, eu partia para cima dele. Dava-lhe o tratamento de choque: rasgava minha camisa para exibir a camiseta sem manga que usava por baixo, depois o nocauteava com um soco. Ou às vezes acontecia de um desses caras, quando me via, dizer apenas: “Ah, deixe isso para lá. Por que não tomamos uma cerveja e pronto?”

É claro que, quando a briga se generalizava, meus amigos e eu protegíamos uns aos outros. No dia seguinte, trocávamos histórias na academia e dávamos risadas. “Ah, vocês deveriam ter visto o Arnold: ele bateu as cabeças de dois caras uma na outra, aí um amigo partiu para cima dele com uma caneca de cerveja, mas eu peguei o desgraçado por trás com uma cadeira...” Tínhamos sorte porque, mesmo quando a polícia aparecia, o que aconteceu várias vezes, ela simplesmente nos liberava. A única vez que me lembro de ter sido levado para a delegacia foi quando um cara disse que consertar seus dentes iria custar uma nota. Começamos a discutir tanto por causa do custo do dentista que a polícia achou que a briga fosse recomeçar. Então fomos levados para a delegacia e deixados lá até acertarmos um valor.

Melhor ainda do que as brigas eram as garotas. Do outro lado da Schillerstrasse, bem em frente à academia, ficava o hotel Diplomat, onde as comissárias de bordo das empresas aéreas costumavam se hospedar. Quando nos viam da rua, Franco e eu nos debruçávamos nas janelas da academia com nossas camisetas sem manga para paquerá-las.

– O que estão fazendo aí em cima? – perguntavam elas.

– É uma academia. Querem treinar? Podem subir.

Eu também atravessava a rua até o saguão do hotel para me apresentar aos grupinhos de comissárias que entravam e saíam. Para deixá-las interessadas, combinava minhas melhores táticas do Thalersee com as dos anos que passei vendendo material de construção. “Temos uma academia do outro lado da rua”, dizia, e então elogiava a garota e comentava que ela poderia gostar de malhar. Na verdade, achava uma bobagem e uma estupidez as academias quase nunca incentivarem mulheres a treinar. Então nós as deixávamos malhar de graça. E pouco importava se estivessem ali por se interessarem pelos homens ou só para se exercitar: eu ficava feliz do mesmo jeito.

As garotas apareciam sobretudo à noite. Às oito horas, em geral, nossos clientes regulares já tinham ido embora, mas era possível usar os aparelhos até as nove. Era nesse horário que eu fazia o segundo treino com meus parceiros. Se as garotas quisessem apenas treinar, podiam tomar uma chuveirada e ir embora às oito e meia. Senão, podiam ficar por ali mesmo, e saíamos juntos ou dávamos uma festa. Às vezes, Smolana aparecia com algumas garotas, e nesses dias a noite podia virar uma loucura.

Nos primeiros meses em Munique, eu me deixei levar pela vida noturna e pela diversão. Porém, logo percebi que estava perdendo o foco e comecei a ter mais disciplina. O objetivo não era me divertir, e sim me tornar campeão do mundo de fisiculturismo. Se eu quisesse dormir sete horas por dia, precisava estar na cama às onze. Sempre havia tempo para me divertir, e nós sempre arrumávamos um jeito de nos distrair.

Meu chefe se revelou uma ameaça maior a meus anseios de Mister Universo do que qualquer bêbado de cervejaria com uma caneca na mão. Faltando apenas poucas semanas para o concurso, eu ainda não recebera a confirmação da minha inscrição. Finalmente, Albert acabou ligando para Londres e os organizadores disseram nunca ter recebido inscrição nenhuma. Ele então pressionou Putziger, que confessou ter achado meu formulário de inscrição na correspondência a ser postada e jogado fora. Ele estava enciumado com o fato de eu poder ser descoberto e me mudar para a Inglaterra ou os Estados Unidos antes de ele conseguir ganhar dinheiro comigo. Tudo teria ido por água abaixo não fosse o domínio de inglês de Albert e sua disposição para me defender. Ele tornou a ligar para Londres e convenceu os organizadores a avaliarem minha inscrição apesar de o prazo já ter expirado. Eles aceitaram. Poucos dias antes do concurso, a confirmação chegou e meu nome foi incluído na lista.

Os outros fisiculturistas de Munique também se uniram para me defender. Putziger devia ter pago minha passagem para Londres, claro, porque todo o sucesso que eu conseguisse lá chamaria atenção para a sua academia. No entanto, quando a notícia da sua rasteira se espalhou, foi seu rival Smolana quem passou o chapéu e juntou os 300 marcos necessários para a passagem. No dia 23 de setembro de 1966, embarquei em um voo com destino a Londres. Tinha 19 anos e era a primeira vez que voava de avião. Imaginava que fosse pegar um trem, então fiquei empolgadíssimo. Tinha certeza de que todos os meus antigos colegas de escola já tinham viajado de avião. Eu estava sentado dentro de uma aeronave junto com vários homens de negócios, e tudo isso graças ao fisiculturismo.

A primeira disputa de Mister Universo aconteceu um ano depois que eu nasci, em 1948. A competição se realizava em Londres, sempre em setembro. A maioria dos competidores, assim como em todo o universo do fisiculturismo, era de língua inglesa – principalmente americanos, que venciam uma média de oito a cada 10 competições. Todos os grandes fisiculturistas que eu idolatrava quando mais jovem haviam conquistado o título de Mister Universo: Steve Reeves, Reg Park, Bill Pearl, Jack Delinger, Tommy Sansone, Paul Winter. Eu me lembrava de ter visto uma fotografia do concurso quando criança. O vencedor estava em pé sobre um pódio, segurando o troféu, enquanto os outros posavam abaixo dele no palco. Eu sempre me vi em cima daquele pódio. Era uma visão muito clara: eu sabia que sensação aquilo me daria e que imagem teria. Tornar esse objetivo uma realidade seria um sonho, mas eu não imaginava que fosse ganhar naquele ano. Recebera a lista dos fisiculturistas com os quais iria competir na categoria amadora, vira as fotografias e pensara: “Meu Deus!” Seus corpos eram mais definidos que o meu. Eu queria terminar entre os seis primeiros, pois achava que não conseguiria derrotar o segundo, o terceiro e o quarto lugares do ano anterior. Considerava-os definidos demais, e eu não estava à altura. Ainda me encontrava no meio do lento processo de atingir minha massa muscular ideal. Eu pretendia chegar ao tamanho desejado, depois diminuir a intensidade dos treinos para então esculpir e aperfeiçoar os músculos.