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Foi durante o seu período como uma das responsáveis pela Comissão de Serviços Públicos do estado que Susan conquistou o meu respeito. Apesar de ser democrata, ela sempre defendia a supressão de regulamentos que impedissem o crescimento econômico. De vez em quando, fazia circular memorandos com comentários diretos e bem claros sobre os desafios que meu governo precisava enfrentar. Ela estava frustrada, pois achava que corríamos o risco de desperdiçar uma oportunidade histórica de mudança.

Tivemos algumas reuniões preliminares e ofereci o cargo a ela. Antes de aceitar, ela foi falar com Maria e comigo em nossa casa, assim que voltei da China. A conversa abordou vários assuntos, até mesmo as questões que ela teria que enfrentar para conviver com os republicanos do gabinete.

– Farei tudo o que puder para evitar um banho de sangue, pois isso só nos atrasaria e prejudicaria ainda mais a sua imagem – afirmou ela. – Mas você tem que me dar permissão para recomendar toda e qualquer mudança que precise ser feita. E, se houver uma disputa, você terá que me dar seu completo apoio.

– Farei isso. Vamos trabalhar juntos – prometi.

Por fim, fiz a ela a pergunta que sempre se faz ao final de qualquer entrevista de emprego:

– Você tem alguma dúvida?

– Tenho, sim – respondeu ela. – Que legado você quer deixar como governador?

Passei alguns segundos encarando-a antes de responder. Um governador ouve essa dúvida o tempo todo. Além disso, eu sabia que Susan já estava a par das conquistas do meu governo e do que estávamos tentando fazer. Mas achei que aquela mulher pequenina e enérgica talvez quisesse mesmo saber o que mais me importava.

– Eu quero construir – respondi. – Quero ver guindastes por toda parte.

A população de nosso estado estava chegando aos 50 milhões, e ainda não tínhamos as estradas, pontes, escolas, canalizações, os sistemas de comunicação, ferrovias e projetos de geração de energia necessários.

Fiquei bastante animado falando sobre construção, e Susan se deixou contagiar. Quando vimos, estávamos ambos discorrendo exaltados sobre guindastes, trens, rodovias e aço.

– Vi você na TV falando sobre isso quando estava na China! – exclamou ela. – Você disse que deveríamos estar pensando em uma emissão de títulos de 50 a 100 bilhões de dólares... coisa séria. Aí o seu gabinete tentou reduzir esse valor. Bom, eles estavam errados. Quem tinha toda a razão era você!

Foi nessa hora que eu soube que nos daríamos bem. Quando eu começava a discorrer sobre infraestrutura, muitas pessoas reviravam os olhos, mas Susan, não. Ela também achava que o estado não previra estradas, pontes, represas, diques e ferrovias suficientes para acompanhar o crescimento da população e ainda vivia dos investimentos visionários dos governadores das décadas de 1950 e 1960, que haviam construído rodovias e projetos de abastecimento de água e ajudaram a impulsionar a economia do estado. Consequentemente, tínhamos um sistema planejado para uma população de 18 milhões de pessoas, não de 50, que era a projeção populacional para a Califórnia em 2025. Susan não deixaria de investir em projetos que só seriam concluídos muitos anos depois de sairmos do poder.

Em vez de encerrar a reunião, reacendi meu charuto.

– A Califórnia não pode mais continuar assim – comentou Susan.

– Temos que reconstruir em grande escala – falei.

– Mas ninguém pensa assim em Sacramento.

Era verdade. Eu havia aprendido que, para os políticos, tudo era gradativo. Em Sacramento a regra era que não se podia ter uma emissão de títulos públicos superior a 10 bilhões de dólares, porque o eleitorado jamais aprovaria números de dois dígitos. Era por isso que os democratas estavam falando em pedir 9,9 bilhões para aquele ano. Eles então dividiriam o dinheiro entre os diversos grupos de interesse e diriam: “Dois bilhões de dólares para as escolas, dois para as rodovias, dois para as prisões” e assim por diante. O fato de não se poder construir nada com essa quantia não vinha ao caso!

Susan disse que ficava incomodada por ver minha própria equipe minando minhas declarações quando eu mencionava planos grandiosos. Na China, um de meus assessores dissera aos jornalistas: “Não, o governador na realidade não quis dizer 50 ou 100 bilhões. Ele só estava pensando em voz alta.”

Ela acabara de pôr o dedo em uma ferida que vinha me corroendo: quando eu falava sobre o estado que imaginava, muitas vezes sentia que as pessoas reagiam de forma condescendente. Não ser levado a sério era um grave problema. Eu dizia “Quero 1 milhão de telhados solares” e o gabinete reagia como se eu estivesse exagerando para impressionar – como se quisesse dizer apenas 100. Mas era 1 milhão mesmo que eu queria! A Califórnia é um estado gigantesco e eu tinha todos os motivos do mundo para querer 1 milhão de telhados solares.

Minhas ideias eram quase sempre recebidas com comentários de que eu estava exagerando na dose, além de estar tomando a decisão política errada. Até a chegada de Susan, eu não tinha ninguém com quem discutir essas ideias de modo profissional, ninguém para me ajudar a dar forma a elas e aprimorá-las, em vez de simplesmente reduzir seu escopo. Susan gosta de dizer que me considera o maior motor do mundo e que seu trabalho é construir um chassi que suporte o motor operando em velocidade máxima. Finalmente eu tinha uma parceira.

Antes de contratá-la, dei telefonemas suficientes para descobrir qual seria a repercussão de sua chegada. Vi que nada boa. Minha escolha pegou muita gente de surpresa, sobretudo entre meus colegas republicanos. Todos eles sabiam que ela era democrata e ex-ativista. Só não sabiam que era uma democrata fula da vida, ávida por mudanças.

Quando eu informava ter escolhido Susan, a reação costumava ser “Mas você não pode fazer isso!”, ao que eu retrucava: “Posso, sim. É claro que posso. Não só posso como vou.” Tive que explicar algumas vezes que, embora seu sobrenome fosse Kennedy, ela não era membro do clã, e Teddy na realidade não estava assumindo o controle do estado. Algumas pessoas chegaram a falar em convocar o ator Mel Gibson, cujo controverso filme A paixão de Cristo tivera enorme sucesso entre os conservadores religiosos, para desafiar minha candidatura na primária republicana de 2006.

Os dirigentes do Partido Republicano da Califórnia solicitaram uma reunião fechada comigo no hotel Hyatt Regency, situado em frente ao Capitólio do estado, do outro lado da rua, e nela exigiram que eu reconsiderasse minha escolha. Um dos líderes do partido insistiu que os republicanos não iriam trabalhar comigo a menos que eu escolhesse outra pessoa. O recado foi: “Não confiamos em Susan Kennedy e não vamos deixá-la assistir a nossas reuniões estratégicas. Ou seja, você vai ficar totalmente isolado.”

Respondi que, assim como ele precisava tomar decisões como líder do partido, eu também tinha que fazer isso como governador. A escolha do gabinete cabia a mim, não a eles. Além do mais, afirmei estar certo de que os membros republicanos do legislativo iriam cooperar com Susan, porque ela era incrível.

Começamos a trabalhar extraoficialmente pouco antes do Dia de Ação de Graças de 2005. A primeira medida de Susan foi muito astuta. Em vez de iniciar fazendo grandes mudanças no quadro de assistentes, ela se concentrou no objetivo maior: reconstruir o estado. Reuniu os membros seniores da equipe e pediu que coletassem todas as informações que conseguissem encontrar em relação à expansão de rodovias, rede de água tratada, habitação, prisões e sistema de ensino. Perguntou que tipo de Califórnia nós imaginávamos para dali a 20 anos. E quanto esse estado custaria? Alguns acharam a ideia objetiva demais e se opuseram, mas Susan disse apenas: “Entendo seu ponto de vista. Mas vamos suspender a incredulidade e simplesmente fazer planos.”