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A competição foi realizada no teatro Victoria Palace, antiga casa de espetáculos decorada com muito mármore e estátuas a alguns quarteirões da estação ferroviária de Victoria. As grandes competições sempre seguiam o mesmo protocolo. Pela manhã havia as prévias, ou rodadas técnicas. Os fisiculturistas e os jurados se reuniam no auditório – os jornalistas podiam assistir, mas a entrada do público não era permitida. O objetivo era dar aos jurados uma oportunidade de avaliar o desenvolvimento muscular dos competidores, cada parte do corpo separada, e compará-los de forma sistemática. Formava-se uma fila nos fundos do palco com todos os integrantes de uma classe – a minha era “amador alto”. Cada um tinha um número na sunga. Um jurado dizia: “Números 14 e 8, por favor, deem um passo à frente e mostrem o quadríceps.” Os dois então avançavam até o meio do palco e faziam a pose clássica para exibir os quatro músculos dianteiros da coxa, enquanto os jurados tomavam notas. O resultado dessas rodadas técnicas era levado em consideração nas decisões que seriam tomadas mais tarde no mesmo dia. A maior atração de todas, é claro, eram as finais, que aconteciam à tarde: uma competição de poses para cada uma das classes, concluída por uma pose com os vencedores de cada classe para escolher os campeões gerais nas categorias amadora e profissional.

Em comparação com as outras competições que eu já presenciara, a de Mister Universo era coisa séria. Os ingressos se esgotaram completamente: mais de 1.500 lugares foram ocupados por fãs do fisiculturismo que aplaudiam e gritavam, enquanto dezenas de outros aguardavam do lado de fora, torcendo por uma chance de poder entrar. O espetáculo em si tinha tanto de competição quanto de circo. O palco recebia iluminação profissional, com canhões de luz e refletores, e eles contratavam uma orquestra completa para ajudar a animar o show. A programação de duas horas incluía distrações entre as diferentes rodadas: concurso de biquínis, acrobatas, contorcionistas e dois grupos de mulheres de maiô e botas que desfilavam pelo palco e faziam poses segurando pequenos pesos e halteres.

Para meu assombro, durante a rodada técnica daquela manhã descobri que havia superestimado meus adversários. Os melhores fisiculturistas “amadores altos” eram de fato mais definidos, porém, quando estávamos todos juntos no palco, eu ainda me destacava. A verdade é que nem todos os fisiculturistas são fortes, sobretudo os que fazem a maior parte do treinamento em aparelhos. No meu caso, porém, anos de levantamento de peso e de trabalho com pesos livres tinham deixado meus bíceps, ombros, costas e coxas descomunais. Por isso, eu simplesmente parecia maior e mais forte que os outros.

Quando o espetáculo estava para começar, já se espalhara a notícia de que um adolescente gigantesco, com um nome impossível de pronunciar, surgira do nada e que ele era um verdadeiro fenômeno. Assim, a plateia se mostrou especialmente barulhenta e animada quando nosso grupo entrou no palco. Não ganhei, mas cheguei muito mais perto do que eu próprio ou qualquer outra pessoa poderia ter imaginado. Na última pose, eu e um americano chamado Chester Yorton disputamos o primeiro lugar e os jurados o escolheram. Tive que reconhecer que foi a escolha certa: embora Chet tivesse no mínimo 8 quilos a menos que eu, era realmente mais bem definido e muito bem-proporcionado, além de suas poses serem mais naturais e bem ensaiadas que as minhas. Para completar, ele exibia um belo bronzeado que me fazia parecer um pão cru.

Fiquei em êxtase por ter surpreendido a todos com o segundo lugar. Minha sensação era de ter ganhado. Aquilo me lançou na ribalta e as pessoas começaram a dizer: “Ele vai ganhar no ano que vem.” Revistas de fisiculturismo em inglês começaram a citar meu nome, o que era fundamental, já que para alcançar meu objetivo eu precisava me tornar conhecido na Inglaterra e nos Estados Unidos.

O encantamento durou apenas o tempo que levei para raciocinar. Então me dei conta: quem tinha subido no alto daquele pódio fora Chet Yorton, não eu. Ele merecera ganhar, mas pensei que eu havia cometido um grave erro. E se tivesse ido a Londres pretendendo ganhar? Será que teria me preparado melhor? Será que meu desempenho teria sido melhor? Será que eu teria vencido e agora seria Mister Universo? Em vez de agir assim, eu subestimara minhas chances. Não gostei do que senti e fiquei realmente muito abalado. Mas de fato aprendi uma lição.

Depois disso, nunca mais participei de nenhuma competição só por competir. Eu me inscrevia para ganhar. Mesmo que nem sempre vencesse, era esse o meu estado de espírito. Eu me tornei um verdadeiro animal. Se você conseguisse ler meus pensamentos antes de um concurso, ouviria mais ou menos o seguinte: “Eu mereço esse pódio, esse pódio é meu, e o mar vai ter que se abrir para mim. Saia da minha frente, porra, estou decidido. Pode ir descendo daí e me dar o troféu.”

Eu me imaginava no alto do pódio, com o troféu na mão. Todos os outros estariam lá embaixo. E eu teria que olhar para baixo para vê-los.

TRÊS MESES DEPOIS, EU ESTAVA DE VOLTA A Londres, rindo e fazendo bagunça no tapete de uma sala com um bando de crianças. Eram os filhos de Wag e Dianne Bennett, donos de duas academias que ocupavam o centro da cena do fisiculturismo no Reino Unido. Wag tinha sido jurado no concurso de Mister Universo e me convidara para ficar hospedado em sua casa de Forest Gate, em Londres, para algumas semanas de treinos. Embora já tivessem seis filhos, eles me acolheram e se tornaram praticamente meus pais.

Wag havia deixado bem clara a sua opinião: eu ainda precisava trabalhar muito. No primeiro lugar da sua lista estava minha sequência de poses. Eu sabia que havia uma grande diferença entre fazer poses bonitas e ter uma boa sequência. Poses são como fotografias, e a sequência é o filme. Para hipnotizar o público e deixá-lo vidrado, as poses precisam fluir. O que você faz entre uma pose e outra? Como suas mãos se movem? Qual é a expressão do seu rosto? Eu nunca tivera oportunidade de responder a muitas dessas perguntas. Wag me mostrou como diminuir o ritmo e transformar minha sequência em um balé: era tudo uma questão de postura, de manter as costas eretas e a cabeça virada para cima, não para baixo.

Essa parte eu conseguia entender, mas a ideia de posar enquanto tocava uma música ao fundo foi mais difícil de engolir. Wag colocava para tocar a dramática música-tema do filme Exodus e me mandava começar a sequência. No início, eu não conseguia imaginar algo que me distraísse mais ou que fosse menos legal. Depois de algum tempo, no entanto, comecei a ver como podia coreografar as poses e surfar a melodia como se fosse uma onda – uma bela e concentrada pose três quartos de costas nos momentos mais tranquilos, seguida por uma pose de peito lateral conforme a música ia aumentando de volume e então, tcharã!, uma pose incrível, a mais musculosa de todas, durante o crescendo.