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Desde uma visita a São Francisco em 2007, Ban Ki-moon vinha observando com grande interesse a Califórnia estabelecer coalizões cada vez maiores com outros estados americanos e governos “subnacionais” no exterior. A Iniciativa Ocidental sobre o Clima, nosso programa regional de limites e comercialização para conter emissões de carbono, fora expandida para incluir sete estados americanos e cinco províncias canadenses. Apesar da recessão mundial, nossa segunda Cúpula Governamental Global sobre o Clima, no final de 2009, atraiu governadores e líderes de províncias de seis continentes.

Esse movimento subnacional para enfrentar as mudanças climáticas havia estabelecido pontes com os países em desenvolvimento. No âmbito nacional, perdurava o impasse entre Washington e Pequim em relação às questões climáticas, mas tanto os Estados Unidos quanto a China permitiram a criação de conexões entre regiões. A Califórnia já fizera acordos com a cidade de Xangai, e várias das províncias chinesas mais industrializadas tinham metas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e cooperar em projetos de energia solar e eólica, ônibus elétricos e trens de alta velocidade.

Quando a notícia desses avanços se espalhou, os membros da comunidade ambientalista começaram a sentir que havia ali uma oportunidade gigantesca. Ban Ki-moon recebeu bem minha sugestão de transformar o método aplicado na Califórnia num plano B em Copenhague, a fim de complementar o esforço principal da ONU de lidar com as mudanças climáticas. “Mesmo que haja um impasse nas negociações, a conferência não precisa parecer um fracasso”, argumentei. “O senhor poderá dizer que, embora os governos nacionais estejam empacados, temos grandes sucessos aqui, na frente subnacional, e vamos continuar a luta.”

TODOS OS GRANDES MOVIMENTOS DA história – pelos direitos civis, pelo direito de voto das mulheres, contra o apartheid, pela segurança no trabalho – começam no nível mais básico, não em lugares como Washington, Paris, Moscou ou Pequim. Essa foi a minha inspiração ao tentar lidar com a questão das mudanças climáticas. Por exemplo, quando reduzimos a poluição em 70% no porto de Long Beach – o segundo porto marítimo de maior movimento no país –, a ordem não veio de Washington. Fizemos isso sozinhos. Aprovamos leis que proibiam caminhões de permanecer com o motor ligado e demos incentivos fiscais aos caminhoneiros para que eles passassem a usar motores elétricos, movidos a diesel limpo ou híbridos. Além disso, a Califórnia construiu a Rodovia do Hidrogênio (uma cadeia de postos de abastecimento para veículos movidos a hidrogênio), lançou o programa Um Milhão de Telhados Solares e se comprometeu a reduzir drasticamente suas emissões de gás de efeito estufa, tudo sem esperar por ordens de Washington. Assim, se pudéssemos promover a criação de projetos desse tipo mundo afora e envolver a população, empresas, cidades e estados, então os governos nacionais poderiam reagir.

Foi essa a ideia que levei para os líderes reunidos em Copenhague. Depois do discurso, demos uma entrevista coletiva para a imprensa, só que em um hotel diferente da conferência, para enfatizar a mensagem “Enquanto os governos nacionais estão reunidos ali, nós estamos aqui. Vocês deveriam prestar bastante atenção em nós, tanto quanto neles. Não em nós em vez de neles, pois somos atores coadjuvantes e eles são os astros. Sem os coadjuvantes, porém, eles não vão conseguir resultados”.

Como os pessimistas haviam previsto, nenhum acordo obrigatório foi assinado na cúpula de Copenhague. O presidente Obama dominou as manchetes com sua intervenção pessoal veemente e seu esforço para obter um acordo de última hora com China, Índia, África do Sul e Brasil. Nossa iniciativa não bastou para mudar o curso dos acontecimentos, mas acrescentou ao debate uma dimensão nova e crucial. Ban Ki-moon e eu nos tornamos bons amigos e, no ano seguinte, nos unimos para buscar novas maneiras de possibilitar que governos subnacionais levassem adiante políticas relacionadas às mudanças climáticas.

O presidente Obama e eu também ficamos amigos. Pouco depois de sua vitória na eleição, em 2008, eu o parabenizei em um discurso diante de uma plateia republicana, dizendo que torcia por seu sucesso como presidente, pois uma liderança nacional eficiente seria algo bom para os californianos. Sabendo que eu queria trabalhar com ele, o presidente me convidou a ir à Casa Branca e juntos desenvolvemos um sólido relacionamento profissional. Ele conhecia meu histórico de bipartidarismo e os objetivos que tínhamos em comum nas áreas de meio ambiente, imigração, reforma do sistema de saúde e infraestrutura, e sabia que eu não iria criticá-lo pelas costas. Obama me recebia com um abraço. Nossas conversas eram descontraídas e cheias de humor, embora nós dois estivéssemos enfrentando desafios econômicos terríveis: recessão, altos índices de desemprego, déficits descomunais.

NAS PESQUISAS DE OPINIÃO PÚBLICA, meu índice de aprovação caíra para 28%, um reflexo da infelicidade e do desânimo generalizados em relação à economia. Pelo menos não estava tão baixo quanto a taxa de aprovação do legislativo, que era de 17%. Eu tinha uma escolha a fazer: podia adotar uma postura conciliatória e tentar melhorar esses números, ou podia continuar lutando bravamente para consertar o que estava errado na esfera estadual e ver meus índices de aprovação irem parar no chão. Decidi lutar. Ao contrário dos políticos leais a um partido, eu não tinha nada a perder. Restava-me apenas um ano de governo, e tanto as leis sobre limitação de mandatos públicos quanto a Constituição federal me impediam de tentar outra reeleição ou de concorrer à presidência do país.

Seis anos de altos e baixos fizeram de mim um governador, assim como as lutas no fosso e a Roda da Dor haviam feito de Conan um guerreiro. Eu agora compreendia a política e o governo e, apesar de todos os combates, da recessão e dos índices de aprovação ruins, eu tinha mais energia do que nunca. Sentia-me mais uma águia faminta do que um pato manco.

Em 2010, consegui alcançar alguns objetivos importantes. Convenci o legislativo a adotar mais uma vez uma medida radical de reforma orçamentária, que estabelecesse limites para despesas e criasse um fundo emergencial. Era minha última oportunidade para tentar consertar um sistema orçamentário que não funcionava. As medidas aprovadas em 2004 eram um bom começo, mas seu alcance não bastava para corrigir o sistema. Já a medida aprovada pelo legislativo em 2009, bipartidária e elaborada com mais cuidado, não havia passado pelo crivo dos eleitores por estar atrelada a um “compromisso grandioso” que previa aumentos temporários de impostos. Dessa vez – a última e melhor chance que tínhamos para eliminar de uma vez por todas a loucura de gastos responsável pelo déficit em Sacramento –, convenci um legislativo cansado a submeter a medida a votação mais uma vez (sem os execrados aumentos de impostos), muito embora ela só fosse ser votada depois que eu deixasse o cargo. Jurei arrecadar o dinheiro para aprová-la junto aos eleitores custasse o que custasse. Fiquei decepcionado ao saber que, a pedido dos democratas e dos sindicatos, meu sucessor, o governador Jerry Brown, assinou uma lei para retirar essas reformas do pleito de 2012. De acordo com as pesquisas, a medida dessa vez teria obtido uma vitória folgada: segundo o grupo reformista Think Long Committee for California, 84% dos eleitores planejavam votar sim. No final, a política de sempre gerou um aumento de impostos sem qualquer real salvaguarda para restringir futuros gastos, e agora a proposta de reforma orçamentária irá a voto popular apenas em 2014.

No outono, assinei uma reforma histórica das aposentadorias, responsável por reduzir alguns dos piores excessos que ameaçavam falir o estado. Graças à remoção de vários regulamentos excessivos, emitimos licenças para tantas usinas de energia solar na Califórnia – mais de 5 mil megawatts só em 2009 (100 vezes toda a estrutura de energia solar autorizada no país um ano antes) – que o estado passou a ser chamado de Arábia Saudita da Energia Solar. A Califórnia agora está a caminho de construir não só a maior quantidade, mas também os maiores projetos solares do mundo. Fechei um acordo com o governo federal e com o estado do Oregon para remover represas situadas no rio Klamath e em seu entorno, o que constitui a maior remoção de represas e restauração fluvial da história dos Estados Unidos. Adotamos os primeiros Padrões para Prédios Verdes do país, exigindo que todos os edifícios novos do estado respeitassem rígidos níveis de eficiência energética e desenvolvimento sustentável.