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– É verdade – falei para o terapeuta. Então me virei para Maria. – O filho é meu. Aconteceu há 14 anos. No início eu não sabia sobre ele, mas já faz vários anos que sei.

Disse a ela quanto estava arrependido, quanto aquilo tinha sido errado, e que era culpa minha. Simplesmente descarreguei tudo.

Fora uma daquelas coisas idiotas que eu prometera a mim mesmo nunca fazer. Durante a vida inteira, jamais tinha me envolvido com alguém que trabalhasse para mim. Tinha acontecido em 1996, quando Maria e as crianças estavam viajando de férias e eu permaneci em Los Angeles terminando Batman & Robin. Mildred já trabalhava em nossa casa havia cinco anos, e de repente nos vimos sozinhos na casa de hóspedes. Em agosto do ano seguinte, quando ela deu à luz, batizou o menino de Joseph e o registrou como filho de seu marido. Foi nisso que eu quis acreditar e, de fato, foi nisso que passei muitos anos acreditando.

Joseph tinha ido várias vezes à nossa casa para brincar com nossos filhos. No entanto, a semelhança física comigo só ficou evidente na época em que ele chegou à idade escolar, quando eu já era governador e Mildred me mostrou as fotos mais recentes dele e de seus outros filhos. A semelhança era tão grande que me dei conta de que não restava dúvida: o menino era meu filho. Embora Mildred e eu mal tenhamos abordado o assunto, a partir daí passei a pagar os estudos dele e a ajudar financeiramente na sua criação e na dos irmãos. O marido de Mildred fora embora de casa poucos anos depois de Joseph nascer, mas seu namorado Alex assumira o papel de pai das crianças.

Muitos anos antes, Maria já tinha me perguntado se Joseph era meu filho. Na época, eu não sabia que era o pai e neguei. Minha impressão agora era que ela e Mildred, que a essa altura já trabalhava na nossa casa havia quase 20 anos, tinham conversado a respeito. De toda forma, muito pouco do que eu tinha a dizer pareceu novidade para Maria. O assunto tinha sido trazido à baila e ela queria respostas.

– Por que não me contou antes?

– Por três motivos – respondi. – Primeiro, eu não sabia como contar. Estava muito envergonhado, não queria magoar você e não queria estragar nosso casamento. Em segundo lugar, eu não tinha ideia de como contar e ao mesmo tempo manter a história como um assunto particular, porque você divide tudo com sua família, e nesse caso gente de mais ficaria sabendo. O terceiro motivo é que manter segredo faz parte de quem eu sou. Não importa o que aconteça, eu guardo as coisas para mim mesmo. Não fui criado com o costume de conversar. – Falei isso mais para o terapeuta, que não me conhecia muito bem.

Eu poderia ter citado mais 10 motivos, e todos eles teriam soado como desculpas esfarrapadas. O fato era que eu havia prejudicado a vida de todos os envolvidos e deveria ter contado a Maria muito antes. Em vez de fazer a coisa certa, porém, eu simplesmente guardara a verdade dentro de um compartimento mental e a trancara lá, onde não precisava lidar com ela no dia a dia.

Em geral eu tento me defender, mas dessa vez não fiz isso. Tentei cooperar o máximo possível. Expliquei que o erro tinha sido meu, que Maria não deveria pensar que tivera algo a ver com ela.

– Eu pisei na bola. Você é a mulher perfeita. Não foi porque alguma coisa estava errada, nem porque você passou uma semana fora de casa nem nada do tipo. Esqueça tudo isso. Você é linda, é sexy, e me sinto tão atraído por você hoje quanto em nosso primeiro encontro.

Maria decidiu que precisávamos nos separar. Não pude culpá-la. Como se não bastasse eu tê-la enganado em relação ao menino, Mildred continuara trabalhando em nossa casa durante todos aqueles anos. Foi Maria quem decidiu sair de casa. Concordamos em montar um esquema que não fosse perturbar demais a vida de nossos filhos. Embora nosso futuro como marido e mulher estivesse incerto, ambos tínhamos o forte sentimento de que ainda éramos pais e continuaríamos a tomar juntos todas as decisões relacionadas à nossa família.

A crise em nosso casamento tornou ainda pior um ano já difícil para Maria. Ela ainda estava abalada com a morte da mãe, um ano e três meses antes. Além disso, junto com os irmãos, tivera que tomar a difícil decisão de internar Sarge, então com 95 anos, em uma instituição especializada para pacientes com mal de Alzheimer.

Tínhamos apenas começado a organizar nossa separação e a falar sobre o assunto com nossos filhos quando Sarge morreu. Foi uma perda terrível. Ele era o último remanescente da geração de grandes figuras públicas do clã Shriver e Kennedy. A missa do funeral, em Washington, no dia 22 de janeiro de 2011, foi celebrada praticamente 50 anos depois de Sarge ter fundado o Peace Corps. Joe Biden, a primeira-dama Michelle Obama, Bill Clinton e muitos outros líderes compareceram, e Maria homenageou o pai com uma fala eloquente e tocante na qual contou como ele havia ensinado seus irmãos a respeitar as mulheres. As palavras talvez tenham sido dirigidas em parte a mim, mas eu já ouvira Maria elogiar o pai muitas vezes em termos semelhantes.

Depois do funeral, Maria voltou para Los Angeles comigo e nossos filhos, a não ser por Christina, que ficou em Georgetown. Fomos muito discretos quanto à separação. Em abril, ela se mudou para um condomínio anexo a um hotel vizinho à nossa casa, onde havia bastante espaço para as crianças ficarem ao se revezarem entre a casa da mãe e a minha.

Perguntei a mim mesmo o que me motivara a ser infiel e como eu pudera ter deixado de contar a Maria sobre Joseph por tantos anos. Não importa quão bem-sucedidas na vida as pessoas são, muitas delas fazem más escolhas quando o assunto é sexo. Você acha que pode ignorar as regras e se safar, mas na realidade suas ações podem ter consequências duradouras. Provavelmente minha história de vida, assim como o fato de eu ter saído de casa muito cedo, também teve sua influência. Essas coisas me deixaram calejado emocionalmente e moldaram meu comportamento de modo a me tornar menos cuidadoso em relação a questões íntimas.

Como eu disse ao terapeuta, manter as coisas em segredo tem a ver com quem eu sou. Por mais que eu ame os outros e busque companhia, parte de mim sente que vou surfar sozinho as grandes ondas da vida. Em momentos cruciais, tomei as decisões sozinho – como quando adiei a decisão de me candidatar a governador até a tarde em que subi ao palco do programa de Jay Leno. Usei o segredo – ou a negação – para lidar com desafios complexos, como quando preferi não falar nada sobre a cirurgia no coração e fingir que aquilo era uma espécie de férias. No caso de Mildred, estava usando o segredo para evitar uma confissão que eu sabia que iria ferir Maria, embora esconder o problema tenha acabado piorando a situação. Na época em que tive certeza de que Joseph era meu filho, não quis que isso afetasse minha capacidade de fazer um governo eficiente. Decidi guardar segredo não apenas de Maria, mas também de meus amigos e consultores mais próximos. Politicamente, não achava que isso fosse da conta de ninguém, pois minha campanha não fora baseada em valores familiares. Reprimi o fato de que, como marido e pai, estava decepcionando as pessoas. Desapontei todo mundo. Joseph também – não fui presente na vida dele como o pai de que um garoto precisa. Quis que Mildred continuasse trabalhando em nossa casa porque pensei que assim pudesse controlar melhor a situação, mas isso também foi um erro.

O mundo só ficou sabendo que Maria e eu tínhamos nos separado em maio, quando o Los Angeles Times ligou para fazer perguntas. Respondemos com uma declaração de que havíamos “nos separado amigavelmente” e de que estávamos avaliando o futuro de nossa relação. Como era previsível, a notícia gerou um frenesi da imprensa, amplificado pelo fato de não termos dado qualquer explicação.

O terapeuta achou que deveríamos dizer a verdade, “para ficar claro quem é a vítima e quem é o infrator”. Fui contra, alegando que não ocupava mais nenhum cargo público e que nada me obrigava a compartilhar minha vida pessoal com ninguém. No entanto, tive também que admitir para mim mesmo: “Eu revelei ao público tudo a meu respeito, então por que esconder o lado negativo?” Se fosse para falar sobre mau comportamento, porém, eu queria fazê-lo no meu próprio ritmo.