Foi besteira pensar que eu teria escolha. Pessoas falaram, outras mandaram e-mails, e em poucos dias o Movie Channel começou a fazer perguntas sobre um filho nascido fora do casamento. Então o LA Times ficou sabendo da história.
Na véspera da publicação da notícia, um jornalista ligou para nos avisar e perguntar se tínhamos alguma declaração a dar. Minha resposta dizia, em linhas gerais: “Entendo e mereço os sentimentos de raiva e decepção de meus amigos e familiares. Não há desculpa possível para o que fiz, e assumo total responsabilidade pela mágoa que causei. Já pedi desculpas a Maria, a meus filhos e a meus parentes. Sinto muitíssimo. Peço à imprensa que respeite minha mulher e meus filhos neste momento extremamente difícil. Quem merece suas perguntas e críticas sou eu, não minha família.” Quis proteger a privacidade deles, algo que até hoje é uma de minhas prioridades.
Ao saber que a história iria vazar na manhã seguinte, tive que contar aos meus filhos. Falei com Katherine e Christina por telefone, pois as duas estavam em Chicago com Maria para o programa de despedida de Oprah Winfrey. Patrick e Christopher estavam em casa comigo, então contei pessoalmente. Em cada uma dessas conversas, expliquei que havia cometido um erro. Falei: “Eu sinto muito. Aconteceu isso com Mildred há 14 anos, ela engravidou e agora existe um menino chamado Joseph. Isso não muda o meu amor por vocês, e espero que não mude o amor de vocês por mim. Mas aconteceu. Sinto muitíssimo por isso. Sua mãe está muito chateada e decepcionada. Vou me esforçar muito para tornar a reunir todos nós. Vai ser um período difícil, e espero que a reação dos colegas de vocês na escola não seja muito ruim, assim como a dos pais dos seus amigos quando vocês forem à casa deles, ou quando ligarem a TV ou lerem o jornal.”
Deveria ter dito também “ou quando acessarem a internet”, pois uma das primeiras coisas que Katherine e Patrick fizeram foi tuitar sobre o que estavam sentindo. Patrick citou a letra do rock “Where’d You Go”: “Tem dias em que você se sente uma merda, quer jogar tudo para o alto e ser normal por um tempo”, e acrescentou: “mas eu amo a minha família até que a morte nos separe”. Katherine escreveu: “Com certeza a situação não é fácil, mas agradeço o carinho e o apoio de vocês enquanto começo a melhorar e tocar a vida. Sempre amarei minha família!”
Semanas se passaram antes que eles acreditassem no fato de que a nossa família não estava totalmente destruída. Nossos filhos viam que Maria e eu nos falávamos quase todos os dias. Viam-nos sair para almoçar ou jantar juntos. Patrick e Christopher criaram certa rotina de revezamento entre a casa e o condomínio. Tudo isso ajudou a restaurar um pouco de estabilidade.
Também lamentei o impacto da história toda em Mildred e Joseph. Eles não estavam acostumados com uma vida pública e de repente se viram importunados por advogados ávidos por publicidade e por jornalistas de programas e tabloides de fofocas. Mantive contato com Mildred e a ajudei a encontrar um lugar mais discreto para a família morar. Ela nunca se comportou como uma adversária e lidou de forma honesta com a situação. Ao ir embora de nossa casa, disse à imprensa que tínhamos sido justos com ela.
Embora Maria e eu continuemos separados na data em que estas linhas estão sendo escritas, ainda tento tratar todo mundo como se estivéssemos juntos. Ela tem o direito de estar amargamente decepcionada e de nunca mais olhar para mim da mesma forma. O caráter público da separação torna a situação duas vezes mais difícil para nós. O divórcio está encaminhado, mas ainda espero que Maria e eu possamos voltar a ser marido e mulher e a formar uma família com nossos filhos. Podem chamar isso de negação, mas é assim que minha mente funciona. Ainda amo minha esposa. E sou um otimista. Passei toda a minha vida me concentrando nos pontos positivos. Tenho esperança de que vamos voltar a ficar juntos.
Durante o último ano, ela algumas vezes me perguntou: “Como é que você consegue tocar a vida, enquanto eu tenho a sensação de que tudo desmoronou? Como é que não se sente perdido?” Ela já sabe a resposta, claro, pois me compreende melhor que qualquer outra pessoa no mundo. Eu preciso continuar seguindo em frente. E ela também continuou tocando a vida e se envolveu cada vez mais em causas associadas a seus pais. Percorreu o país inteiro para promover o combate ao mal de Alzheimer e é muito ativa no conselho da Special Olympics, no qual está ajudando a preparar os Jogos Internacionais de 2015, em Los Angeles.
Fiquei contente por ter uma agenda lotada depois de nos separarmos, pois caso contrário teria mesmo me sentido perdido. Continuei trabalhando e não parei um minuto. No verão, já tinha feito alguns discursos na condição de ex-governador no norte dos Estados Unidos e no Canadá. Fui ao Xingu com Jim Cameron, a Londres para a festa de aniversário de 80 anos de Mikhail Gorbachev, a Washington para uma cúpula sobre imigração e a Cannes para receber a medalha da Légion d’Honneur e promover novos projetos. No entanto, ainda que estivesse atarefado como nunca, nada parecia estar no seu devido lugar. O que havia tornado minha carreira divertida ao longo de mais de 30 anos fora poder compartilhá-la com Maria. Nós tínhamos feito tudo juntos, e agora minha vida parecia fora dos trilhos. Não havia ninguém me esperando quando eu chegava em casa.
Na primavera de 2011, quando o escândalo veio à tona, eu havia me comprometido a fazer o discurso inaugural em um fórum internacional de energia em Viena, organizado junto com o Programa de Desenvolvimento da ONU. Fiquei com medo de o frenesi midiático prejudicar minha eficácia como defensor do meio ambiente e cheguei a pensar que o convite fosse ser retirado. No entanto, os organizadores de Viena quiseram manter o combinado. “Isso é um assunto pessoal”, disseram. “Não achamos que vá afetar o grande exemplo que o senhor estabeleceu em matéria de políticas ambientais. Os milhões de telhados solares não vão ser desmontados...” No discurso, prometi abraçar a missão de convencer o mundo de que uma economia global sustentável é desejável, necessária e possível.
Ao deixar Sacramento, eu sabia que iria querer retomar minha carreira no entretenimento. Não havia recebido salário nenhum durante meus sete anos como governador, e já estava na hora de voltar a fazer trabalhos remunerados. No entanto, o ataque dos meios de comunicação em abril e maio tornou isso temporariamente impossível. Para minha vergonha e meu arrependimento, as dolorosas consequências do escândalo extrapolaram os limites da minha família e atingiram muitas das pessoas com as quais eu trabalhava.
Anunciei que iria interromper minha carreira para cuidar de assuntos pessoais. Adiamos The governator (O governador), série de desenhos animados e livros de quadrinhos que eu vinha preparando em parceria com Stan Lee, lendário criador do Homem-Aranha. Outro projeto a sair dos trilhos foi Cry Macho, filme que eu quisera fazer durante todo o meu mandato. Al Ruddy, produtor de O poderoso chefão e Menina de ouro, estava segurando esse projeto para mim havia muitos anos. Quando o escândalo estourou, porém, o material se tornou delicado demais – a trama gira em torno da amizade de um treinador de cavalos com um menino latino de 12 anos que vive nas ruas. Liguei para Al e falei:
– Talvez outra pessoa possa estrelar o filme, não faz mal, ou então você pode segurá-lo para mim um pouco mais.
Ele já havia falado com os investidores.
– Eles topam fazer outro filme com você. Mas não esse – disse ele.
Como depois da minha cirurgia no coração, Hollywood no início me rejeitou. O telefone não tocava. Quando o verão chegou, porém, meu sobrinho Patrick Knapp, que era meu advogado na área de entretenimento, informou que os estúdios e as produtoras haviam começado a entrar em contato de novo. “Arnold ainda está dando um tempo na carreira?”, perguntavam eles. “Não precisamos falar com ele diretamente, pois entendemos que ele ainda está passando por uma crise familiar, mas podemos pelo menos conversar com o senhor? Temos um filme incrível que gostaríamos que ele fizesse...”