No outono, eu já estava rodando filmes de ação outra vez – Os mercenários 2 com Sylvester Stallone na Bulgária, The Last Stand (O último bastião) no Novo México com o diretor Jee-Woon Kim, e The Tomb (O túmulo), outro filme com Stallone, perto de Nova Orleans. Perguntei-me como seria ficar diante das câmeras outra vez. Sempre que visitava algum set de filmagem durante minha época como governador, eu pensava: “Puxa, que bom que não estou pendurado de cabeça para baixo pela cintura tendo que fazer uma cena de luta.” Meus amigos perguntavam se eu não sentia falta disso e eu respondia: “Nem um pouco. Estou muito feliz por usar terno e gravata, prestes a entrar em uma reunião sobre ensino e livros escolares digitais, seguida de um discurso sobre controle da criminalidade.” Mas a mente sempre nos surpreende. Você começa a ler roteiros, a visualizar a cena e a forma de dirigi-la, a imaginar a coreografia da ação, e então entra no clima e fica ansioso para filmar. A mente se desliga dos assuntos políticos e se transfere para novos desafios.
Quando cheguei à locação de Os mercenários 2 na Bulgária, em setembro de 2011, foi a primeira vez que trabalhei como ator depois de ter sido governador, tirando participações especiais em O garoto & eu e Os mercenários enquanto ainda ocupava o cargo. Estava parado havia oito anos e fora de forma para tiroteios e cenas de ação. Os outros atores veteranos do elenco – Sly, Bruce Willis, Dolph Lundgren, Jean-Claude van Damme e Chuck Norris – foram muito legais comigo e de certa forma se tornaram meus protetores. Em geral, os astros de filmes de ação se mantêm discretos no set: ficam treinando suas artes marciais e andando para lá e para cá com ar de machão. Mas os caras realmente se esforçaram. Sempre aparecia alguém para dizer: “A trava de segurança da arma fica aqui... E é assim que você tem que carregar as balas.” Tive a sensação de estar sendo acolhido de volta ao ofício da ação e da interpretação.
As filmagens foram difíceis. É um trabalho muito físico e é preciso estar condicionado, pois as mesmas cenas têm que ser repetidas várias vezes: trombar com a mesa de alguém, sair correndo com armas em punho, jogar-se no chão, ficar abaixado porque alguém o está alvejando. Você percebe que existe uma diferença entre ter 35 anos e quase 65. Fiquei feliz com o fato de Os mercenários 2 ser um filme de grupo, no qual eu era apenas um astro em meio a oito ou 10 outros. Passei apenas quatro dias no set, e em momento algum senti a pressão de carregar o filme nas costas.
Da Bulgária, fui para o sudoeste dos Estados Unidos filmar The Last Stand. Nesse filme, grande parte da pressão recaiu sobre mim. Na verdade, o roteiro fora escrito para mim: nele interpreto um oficial do departamento de narcóticos da polícia de Los Angeles prestes a se aposentar. Quando meu parceiro vira deficiente físico após uma missão malsucedida, decido que não consigo mais lidar com o trabalho. Assim, volto para minha cidade natal, na fronteira do Arizona com o México, e lá me torno xerife. Então, de repente, uma gangue de traficantes que está fugindo do FBI surge vindo na minha direção. São bandidos violentos e ex-combatentes das Forças Armadas, e eu preciso impedi-los de chegar ao México. Para isso, disponho apenas de três assistentes inexperientes. Nós formamos “o último bastião”, o nome do filme. O xerife sabe que seu sucesso será muito importante para a cidade. É a sua reputação que está em jogo. Será que ele chegou mesmo ao fim da linha ou vai conseguir dar conta do recado?
No filme seguinte, The Tomb (O túmulo), deixo de ser um agente da ordem para me tornar um fora da lei. Meu personagem é Emil Rottmayer, especialista em segurança que é preso e interrogado por planejar atos de terrorismo cibernético. A prisão é uma masmorra particular de altíssima tecnologia, um verdadeiro pesadelo, situada em um local desconhecido, para onde governos ocidentais mandam pessoas que representam risco ao sistema vigente. Rottmayer é torturado porque se recusa a trair seu chefe, líder rebelde ainda em liberdade. Nessa hora aparece Sylvester Stallone na pele de Ray Breslin, o maior especialista em “segurança estrutural” do mundo prisional. Ele é mestre em se disfarçar para entrar em prisões de segurança máxima e fugir, expondo as falhas das instalações. Dessa vez, porém, ele é traído por um sócio que pode ganhar uma fortuna se a prisão for à prova de fugas, e Breslin não consegue escapar. Depois de um confronto, ele e eu nos unimos e a trama parte daí. Para alcançar o visual de uma imensa prisão, nosso diretor, o sueco Mikael Håfström, resolveu rodar a maior parte do filme em uma antiga instalação da NASA na Louisiana. A área comum dos detentos, chamada Babylon, ou Babilônia, é uma câmara cavernosa, com 70 metros de altura, na qual até recentemente fabricantes de foguetes acoplavam o tanque externo de combustível às naves espaciais. O espaço, hoje vazio e intimidador, é o cenário perfeito para um filme que opõe os heróis aos males do establishment mundial.
Na vida real, estou assumindo um novo e enorme desafio. No último verão, anunciamos a criação de uma importante nova organização na Universidade do Sul da Califórnia, o Instituto Schwarzenegger para Estudos de Políticas de Estado e Globais. Assim, mesmo tendo deixado a vida pública, continuarei a promover as ideias que me eram mais caras: reforma política, mudanças climáticas e meio ambiente, reforma do ensino, reforma econômica e pesquisas sobre saúde e com células-tronco.
Assim como as bibliotecas presidenciais perpetuam o legado de ex-presidentes com pesquisas e bolsas de estudos, o objetivo de nosso instituto é contribuir para o discurso público e inspirar mudanças. Trabalharemos com algumas das melhores mentes na área de políticas públicas para produzir estudos e fazer recomendações em âmbito mundial.
A USC é um ambiente perfeito para isso, porque se trata de uma instituição que se orgulha de não ser nem conservadora nem liberal, mas de ter a mente aberta. Ela promove discussões para obter as melhores ideias das figuras mais inteligentes do espectro político. Organizaremos congressos e oficinas e patrocinaremos pesquisas em áreas nas quais me concentrei quando era governador e nas quais a Califórnia fez progressos históricos.
Terei também a grande honra de ser nomeado o primeiro ocupante da cátedra Governador Downey de Políticas de Estado e Globais, criada em homenagem ao primeiro governador imigrante da Califórnia, o cofundador da USC John G. Downey. O posto me dará a oportunidade de viajar pelo mundo e proferir palestras em nome da Universidade do Sul da Califórina e do Instituto Schwarzenegger.
Meu mandato como governador tinha que acabar, mas, com o instituto, poderei continuar e expandir o trabalho que comecei no governo. Considero isso fascinante, pois não fico satisfeito a não ser que possa compartilhar o que aprendi e vivenciei. Penso sempre em Sarge e Eunice e na forma como os dois sempre me incentivaram a me concentrar em causas maiores do que eu mesmo. A melhor formulação que Sarge deu a essa ideia foi em um discurso que fez em Yale, em 1994. Eles disse aos formandos: “O que conta não é o que vocês obtêm da vida”, disse ele. “Quebrem seus espelhos! Nesta nossa sociedade tão autocentrada, comecem a olhar menos para si mesmos e mais para os outros. Terão mais satisfação se conseguirem melhorar seu bairro, sua cidade, seu estado, seu país e seus semelhantes do que jamais poderão obter de seus músculos, aparência, carro, casa ou dinheiro. A recompensa por ser pacifista é maior do que aquela por ser guerreiro.” Penso nessas palavras diariamente. Os grandes líderes sempre falam sobre coisas muito maiores do que eles próprios. Segundo eles, trabalhar por uma causa que vá durar mais que nós é o que dá à vida significado e alegria. Quanto mais coisas consigo realizar no mundo, mais concordo com isso.