CAPÍTULO 30
A cartilha de Arnold
EU SEMPRE QUIS SERVIR DE INSPIRAÇÃO para os outros, mas nunca me propus a ser um modelo em todas as áreas. Com uma vida tão cheia de contradições e correntes contrárias como a minha, como seria possível? Sou um europeu que se tornou um líder americano; um republicano que ama os democratas; um empresário que ganha a vida como herói de filmes de ação; um empreendedor ultradisciplinado que nem sempre teve a disciplina necessária; um especialista em boa forma que adora fumar charutos; um ambientalista que é louco por veículos Hummer; um cara que adora se divertir, com um entusiasmo digno de uma criança, cuja maior fama na vida é a de exterminar pessoas. Como alguém saberia qual deles imitar?
As pessoas muitas vezes acham que mesmo assim eu deveria servir de modelo. Quando passeio de bicicleta por Santa Monica sem usar capacete, há sempre alguém para reclamar: “Que exemplo é esse?” Isso não era para ser um exemplo!
Em geral, a objeção feita aos meus charutos é o fato de eu promover, há muitas décadas, uma cruzada pela boa forma física. No entanto, lembro que um jornalista em Sacramento me disse certa vez:
– Nós demos um close com a câmera na marca do seu charuto. É Cohiba. Ou seja, o seu charuto é cubano. O senhor é governador. Como pode burlar a lei?
– Eu fumo este charuto porque ele é ótimo – respondi.
A mesma coisa acontece com a violência no cinema. Eu mato pessoas nos filmes porque, ao contrário dos críticos, não acredito que a violência na tela promova a violência nas ruas ou em casa. Se fosse assim, não teria havido assassinato nenhum antes da invenção do cinema, e a Bíblia está repleta deles.
É claro que eu quero ser um exemplo. Desejo inspirar as pessoas a se exercitarem, a manterem a forma, a não comerem porcarias, a visualizarem um sonho e usarem a força de vontade para alcançá-lo. Quero que se concentrem menos em si mesmos, como aconselhou Sargent Shriver, que se envolvam em projetos sociais e retribuam à sociedade o que ela lhes deu. Quero que protejam o meio ambiente em vez de estragá-lo. Se forem imigrantes, quero que abracem os Estados Unidos. Em relação a esses assuntos, fico muito feliz em assumir a tarefa de servir de modelo para os outros, pois eu mesmo sempre tive excelentes exemplos – Reg Park, Muhammad Ali, Sargent Shriver, Milton Berle, Nelson Mandela, Milton Friedman. No entanto, meu objetivo nunca foi dar o exemplo em tudo o que faço.
Às vezes prefiro ser bem diferente e chocar os outros. A rebeldia faz parte do impulso que me levou a sair da Áustria. Não quero ser como todo mundo. Eu me considerava especial, único, não um Hans ou ou Franz qualquer.
Ser atrevido é um caminho para o sucesso. Quando fui Mister Olympia, o fisiculturismo era um esporte inexistente. Nós fazíamos o impossível para conseguir cobertura da imprensa. Assim, comecei a dizer aos jornalistas que malhar era melhor que fazer sexo. Uma frase louca, mas que virou notícia. As pessoas leram isso e pensaram: “Se isso é verdade, vou experimentar!”
Ninguém nunca conseguiu me colocar em uma fôrma. Quando eu era governador e me diziam “É isso que os outros governadores fazem”, ou “Você não pode fazer isso porque é republicano”, ou então “Ninguém fuma no Capitólio, pois não é politicamente correto”, eu interpretava essas declarações como um sinal para ir na direção contrária. Se você se encaixa na fôrma, as pessoas reclamam que está agindo como político. O modo como administrei o gabinete do governador foi único, assim como minha maneira de me vestir, de falar – sempre procurei meu próprio jeito de fazer as coisas. Fui eleito para solucionar problemas e estabelecer um objetivo para o nosso estado, sim, mas todos também desejavam que as coisas parecessem diferentes. Queriam um governador e o Governator. Ser diferente, é claro, era a minha especialidade. Eu não tinha o mesmo tipo físico de todo mundo, nem dirigia o mesmo carro que os outros.
Nunca cheguei a entender isso tudo completamente – tenho certeza de que seria um prato cheio para um analista. Sem dúvida, meu conterrâneo austríaco Sigmund Freud teria se divertido falando sobre os charutos – ele também era um apreciador. No entanto, a vida fica mais rica quando assumimos a diversidade que existe dentro de nós, mesmo que não sejamos lógicos e que os nossos atos nem sempre façam sentido, ainda que para nós mesmos.
Quando dou palestras para turmas de formandos, sempre conto uma versão resumida da história da minha vida e tento sugerir lições que todos possam usar: tenha um sonho, confie em si mesmo, quebre algumas regras, ignore as opiniões contrárias, não tema o fracasso. Entremeados aos episódios relatados neste livro estão alguns dos princípios de sucesso que deram certo para mim:
• TRANSFORME SUAS DESVANTAGENS EM VANTAGENS. Quando quis começar uma carreira no cinema, os agentes de Hollywood com os quais conversei me disseram para desistir – meu corpo, meu sobrenome, meu sotaque eram muito estranhos. Em vez de acatar sua opinião, dei duro para neutralizar meu sotaque e melhorar minha atuação – o mesmo duro que tinha dado em relação ao fisiculturismo – até me transformar em um protagonista. Com os papéis de Conan e do Exterminador, dei o salto: tudo o que os agentes tinham listado como empecilhos de repente fez de mim um herói de ação. Ou ainda, como disse John Milius ao dirigir Conan, o bárbaro: “Se o Schwarzenegger não existisse, teríamos que fabricar um.”
• QUANDO ALGUÉM LHE DISSER NÃO, VOCÊ DEVE ESCUTAR UM SIM. Impossível era uma palavra que eu adorava ignorar quando era governador. Diziam que seria impossível convencer os californianos a instalar 1 milhão de telhados solares, a reformar o sistema de saúde e a tomar alguma atitude decisiva em relação ao aquecimento global. Assumir esses desafios me atraiu justamente porque ninguém conseguira fazer essas coisas antes. O único jeito de possibilitar o possível é tentar o impossível. E daí se você fracassar? É o que todo mundo espera mesmo. Se conseguir, porém, vai fazer do mundo um lugar muito melhor.
• NUNCA SIGA A MULTIDÃO. VÁ PARA ONDE ESTIVER VAZIO. Como se costuma dizer em Los Angeles, evite as rodovias na hora do rush – pegue as outras ruas. Evite ir ao cinema no sábado à noite – vá à matinê. Se você sabe que todos os restaurantes costumam ficar lotados às nove da noite, por que não jantar mais cedo? As pessoas usam esse tipo de raciocínio o tempo todo, mas o esquecem quando se trata das próprias carreiras. Quando todos os imigrantes que eu conhecia estavam juntando dinheiro para comprar uma casa, eu comprei um prédio inteiro. Quando todos os aspirantes a ator estavam tentando conseguir papéis de figurante em filmes, mantive meu objetivo de ser protagonista. Quando todos os políticos tentam subir de posto a partir de um cargo local, candidatei-me direto a governador do estado. É mais fácil se destacar quando você mira direto o topo.
• NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ FAÇA NA VIDA, VENDER É PARTE DO NEGÓCIO. Alcançar meu objetivo de ser Mister Olympia não era suficiente. Eu tinha que mostrar às pessoas que existia uma competição para escolher o homem mais musculoso do mundo. Tinha que lhes mostrar as outras consequências do treinamento além de criar um corpo musculoso – precisava que elas entendessem que a boa forma ajuda a manter a saúde e melhora a qualidade de vida. Era preciso vender. Você pode ser um ótimo poeta, um grande escritor, um gênio no laboratório. Pode fazer o melhor trabalho do mundo, mas, se ninguém souber, não vai adiantar nada! Em política é a mesma coisa: trabalhe você com programas de meio ambiente, ensino ou crescimento econômico, o mais importante é fazer as pessoas saberem disso.