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Dito e feito: algumas semanas depois, recebi uma das leis de Ammiano. Era uma medida de rotina sobre o píer de São Francisco, mas significava muito para ele. Instruí minha equipe a redigir uma bela mensagem de veto.

Ninguém entendeu a mensagem formada pela primeira letra de cada linha, então uma sugestão foi passada discretamente a alguns jornalistas: “Têm certeza de que leram a mensagem de veto do governador do jeito certo? Talvez devam lê-la na vertical.” Então todos compreenderam e houve uma grande confusão pública:

Alguns jornalistas perguntaram a meu assessor de imprensa se o recado “foda-se” tinha sido proposital, ao que ele respondeu: “Não, não tínhamos a menor ideia. Deve ter sido um acidente.”

Na minha coletiva de imprensa seguinte, porém, outro repórter levantou a mão e disse:

– Pedimos que um matemático lesse a carta. Segundo ele, existe menos de uma chance em 2 bilhões de a mensagem ter sido acidental.

– Tudo bem – respondi. – Por que vocês não vão lá e perguntam ao mesmo especialista quais eram as chances de um menino da zona rural da Áustria vir para os Estados Unidos e virar o maior campeão de fisiculturismo de todos os tempos, entrar para o cinema, casar-se com uma Kennedy e depois ser eleito governador do maior estado do país? Na próxima coletiva, venham me contar a resposta dele.

Todos os jornalistas riram. Enquanto isso, a seguinte frase foi atribuída a Tom Ammiano: “Fui um idiota, então ele tem o direito de ser um idiota também.” A brincadeira acabou com a tensão. (Um ano mais tarde, depois de sancionar mais uma lei defendida por ele, divulguei um comunicado a respeito que, lido na vertical, dizia “d-e-n-a-d-a”.)

5. O DIA TEM 24 HORAS. Certa vez, dei uma palestra na Universidade da Califórnia. Ao final, um aluno levantou a mão e reclamou:

– Governador, desde a crise do orçamento minha anuidade aumentou duas vezes. Agora está alta demais. Preciso de mais auxílio financeiro.

– Entendo, é difícil mesmo – falei. – Mas como assim, alta demais?

– Agora tenho que trabalhar em meio período.

– E qual é o problema disso?

– Preciso estudar!

Então falei:

– Vamos fazer as contas. Quantas horas de aula você tem?

– Duas horas um dia por semana e três horas em outro.

– E quantas horas precisa estudar?

– Três horas em cada um desses dias.

– Certo. Até agora, pelas minhas contas, são seis horas em um dia e sete em outro, contando com o transporte. O que você faz no restante do tempo?

– Como assim?

– Bom, o dia tem 24 horas. Já pensou em trabalhar mais, ou pegar mais disciplinas, em vez de ficar vendo a vida passar?

A turma inteira ficou chocada ao me ouvir dizer isso.

– Eu não estou vendo a vida passar! – respondeu o aluno.

– Está, sim. Você falou em seis horas por dia. O dia tem 24 horas, então sobram 18. Digamos que você precise dormir seis horas por noite. Então, se o seu trabalho em meio período ocupa quatro horas, mesmo assim ainda sobra tempo para namorar, dançar, beber e sair. Está reclamando de quê?

Disse aos alunos que, quando era estudante, treinava cinco horas por dia, fazia quatro horas de aulas de interpretação, trabalhava na construção civil várias horas por dia, ia à faculdade e fazia os deveres de casa. E eu não era o único. Nas minhas turmas do Santa Monica College e dos cursos de extensão da UCLA havia outros alunos que trabalhavam em tempo integral. É natural esperar que alguém venha pagar sua conta. E o governo deve estar presente para ajudar em caso de necessidade real e para fornecer educação. No entanto, se o governo não estiver obtendo receita suficiente por causa de uma desaceleração da economia, todo mundo precisa contribuir e se sacrificar.

6. REPETIR, REPETIR, REPETIR. Quando entrávamos no Sindicato Atlético de Graz, academia onde eu fazia musculação na adolescência, havia à esquerda uma parede comprida de compensado toda coberta de marcas de giz. Era lá que anotávamos nosso programa de treino para cada dia. Cada um tinha seu pedacinho de parede e antes de trocar de roupa fazia uma lista:

LEVANTAMENTO TERRA:

5 SÉRIES DE 6 REPETIÇÕES

/ / / / /

ARREMESSO:

6 SÉRIES DE 4 A 6 REPETIÇÕES

/ / / / / /

DESENVOLVIMENTO DE OMBROS:

5 SÉRIES DE 15 REPETIÇÕES

/ / / / /

SUPINO:

5 SÉRIES DE 10 REPETIÇÕES

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CRUCIFIXO RETO:

5 SÉRIES DE 10 REPETIÇÕES

/ / / / /

E assim por diante, num total de cerca de 60 séries. Mesmo sem saber como estaria sua disposição no dia, as pessoas anotavam também a carga. Depois de cada linha havia uma sequência de risquinhos, um para cada série planejada. Se você tivesse previsto cinco séries de supino, fazia cinco risquinhos na parede.

Então, assim que concluísse a primeira série, ia até a parede e fazia um segundo risco por cima do primeiro, transformando-o em um X. Todos os cinco risquinhos tinham que virar X antes de você passar para o exercício seguinte.

Essa prática teve forte impacto na minha motivação. Eu sempre dispunha do estímulo visuaclass="underline" “Uau, consegui. Fiz o que disse que faria. Agora vou passar para a próxima série, depois para a outra.” Anotar meus objetivos tornou-se uma coisa natural, bem como a convicção de que não existem atalhos. Foram necessárias centenas, milhares de repetições para que eu aprendesse a fazer uma ótima pose três quartos de costas, contar uma piada, dançar tango em True Lies, pintar um lindo cartão de aniversário e dizer “Eu voltarei” do jeito exato.

Se você der uma olhada no roteiro de meu primeiro discurso na ONU sobre o combate ao aquecimento global, em 2007, eis o que vai ler:

Governador Schwarzenegger

Discurso ONU

24 de setembro de 2007

(Parvin − 10/9/07)

(Prezado governador, falei com Terry e usei as palavras sugeridas por ele nas páginas 5-7, que acho que funcionam. Com essa correção, não acredito que precisemos da frase sobre acordos, de modo que a apaguei. Também corrigi a página 12, como o senhor pediu. Essas mudanças fizeram a paginação do discurso correr. Landon)

Sr. Secretário-Geral, Sra. Sr. Presidente, distintos representantes, senhoras e senhores... Desenvolvi um enorme carinho pelos povos do mundo / porque eles sempre me acolheram muito bem / fosse como fisiculturista, astro de cinema ou cidadão comum.

Ou como governador do grande estado da Califórnia.

Cada risquinho no alto da página representa uma vez que ensaiei o discurso. Não importa se você estiver fazendo uma rosca bíceps em uma academia gelada ou discursando diante de líderes mundiais: não existem atalhos – o importante é repetir, repetir, repetir.

Faça na vida o que você fizer, das duas, uma: precisa acumular repetições ou quilometragem. Se quiser esquiar bem, precisa ir às pistas. Se for enxadrista, tem que jogar dezenas de milhares de partidas. No set de filmagem, o único jeito de acertar a cena é ensaiar. Se você tiver ensaiado, não precisa se preocupar e pode aproveitar o momento em que as câmeras vão rodar. Ao filmar The Tomb em Nova Orleans, pouco tempo atrás, fizemos uma cena de briga na prisão com 75 pessoas. A coreografia era tão complicada, com dezenas de trocas de socos, engalfinhamentos e guardas da prisão aparecendo para bater nos presos com cassetetes, que só os ensaios levaram metade de um dia. Quando começamos a rodar, todo mundo já estava cansado, mas ao mesmo tempo bastante preparado. A tomada foi um sucesso. Os movimentos tinham se tornado naturais para nós, e a sensação transmitida foi a de uma briga de verdade.