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7. NÃO CULPE SEUS PAIS. Eles fizeram o melhor possível por você, e, caso tenham lhe causado problemas, essas questões agora são suas, e quem tem que solucioná-las é você. Talvez seus pais tenham sido excessivamente atenciosos e protetores e você agora se sinta carente e vulnerável no mundo, ou então podem ter sido duros demais, mas não importa – não os culpe por isso.

Quando eu era pequeno, amava meu pai e queria ser igual a ele. Admirava seu uniforme, sua arma e sua profissão. Mais tarde, porém, passei a detestar o modo como ele pressionava a mim e meu irmão. “Vocês precisam dar o exemplo no vilarejo, pois são filhos do policial”, dizia. Tínhamos que ser crianças perfeitas, o que evidentemente não éramos.

Meu pai se mostrava exigente − era esse o seu temperamento. Ele às vezes também se mostrava violento, mas não acho que fosse culpa sua. Foi a guerra. Se ele tivesse levado uma vida mais normal, teria sido um homem diferente.

Então eu muitas vezes me perguntei: e se meu pai tivesse sido mais caloroso e gentil? Será que eu teria saído da Áustria? Provavelmente não. E teria lamentado por isso!

Tornei-me Arnold por causa do que meu pai fez comigo. Resolvi que iria transformar o modo como fui criado em algo positivo, em vez de ficar reclamando. Poderia usá-lo para criar um sonho, estabelecer objetivos, encontrar alegria nas coisas. A severidade dele me afastou de casa. Por causa dela fui para os Estados Unidos e trabalhei duro para ter sucesso – e fico feliz por ter feito isso. Não preciso lamber minhas feridas.

Em Conan, o bárbaro, perto do fim, há um trecho que nunca me saiu da cabeça. A fala não é de Conan, mas de Thulsa Doom, o feiticeiro que o obriga, quando menino, a ver o pai ser devorado por cães e mata a mãe na sua frente. Quando Conan está prestes a matá-lo e vingar os pais, Thulsa Doom diz: “Quem é seu pai, se não eu? Quem lhe deu a força de vontade para viver? Eu sou a fonte da qual você brota.”

Portanto, nem sempre o que você deve celebrar é óbvio. Às vezes é preciso valorizar justamente as pessoas e as circunstâncias que estão na origem do seu trauma. Hoje em dia eu agradeço o rigor do meu pai, minha criação e o fato de eu não ter conseguido nada do que queria na Áustria, pois foram justamente esses fatores que me deram ânsia de viver. Toda vez que ele me batia, toda vez que dizia que meus treinos de musculação eram uma bobagem, que eu deveria fazer algo útil e sair para cortar lenha, toda vez que ele me desaprovava ou constrangia, essas coisas alimentavam o fogo que eu tinha no ventre. Era o que me fazia avançar e me motivava.

8. MUDAR EXIGE CORAGEM. Quando eu estava em missão comercial em Moscou, durante meu último ano como governador, reservei um tempinho para visitar o ex-secretário-geral soviético Mikhail Gorbachev em sua casa. Tínhamos ficado amigos ao longo dos anos, e eu fizera um discurso e me sentara com ele em sua festa de 80 anos em Londres, alguns meses antes. Irina, sua filha, preparou um almoço para nós dois e vários amigos do Instituto Gorbachev. Passamos pelo menos duas horas e meia comendo.

Sempre idolatrei Gorbachev pela coragem que ele teve ao desmantelar o sistema político no qual foi criado. Sim, a União Soviética estava com problemas financeiros. Sim, Reagan havia exaurido o país e os soviéticos estavam acuados em um canto. Mas o fato de Gorbachev ter tido peito para abraçar as mudanças em vez de oprimir ainda mais seu povo ou começar brigas com o Ocidente sempre me impressionou. Perguntei a ele como tinha conseguido. Como fora capaz de mudar o sistema após ter sido doutrinado desde a infância a ver o comunismo como solução para todos os problemas, e depois de alcançar uma posição de liderança no partido na qual era necessário demonstrar paixão pelo sistema o tempo todo? Como conseguira ter a mente tão aberta? “Trabalhei a vida inteira para aperfeiçoar nosso sistema”, disse-me ele. “Mal podia esperar para chegar ao cargo mais poderoso, pois pensava que nesse momento poderia resolver problemas que só o líder pode resolver. Quando cheguei lá, porém, percebi que precisávamos de mudanças revolucionárias. As coisas só eram feitas se você conhecesse alguém ou pagasse a alguém por debaixo dos panos. Que sistema era esse? Estava na hora de acabar com aquilo tudo.” Talvez sejam necessários 50 anos para as pessoas entenderem o que Gorbachev conquistou. Estudiosos debaterão para sempre se ele fez tudo como deveria. Eu não vou debater isso; simplesmente achei incrível o que ele fez. Fico perplexo com a coragem demonstrada por esse homem não em troca de uma gratificação imediata, mas para buscar o melhor rumo para o país em longo prazo.

Para mim, Gorbachev é um herói do mesmo quilate de Nelson Mandela, que superou a raiva e o desespero de 27 anos na prisão. Quando lhes foi dado poder para sacudir o mundo, ambos escolheram não destruir, mas sim construir.

9. CUIDE DE SEU CORPO E DE SUA MENTE. Um dos primeiros conselhos que permaneceram na minha mente foi o de Fredi Gerstl, inspirado em Platão. “Os gregos criaram as Olimpíadas, mas também nos deram os grandes filósofos”, dizia ele. “É preciso construir a mais refinada máquina física possível, mas também a mais aguçada máquina mental.” Concentrar-me no corpo nunca foi um problema para mim, e mais tarde me tornei realmente curioso em relação ao desenvolvimento da mente. Entendi que ela é um músculo que também deve ser exercitado. Assim, decidi treinar meu cérebro e ficar inteligente. Tornei-me uma verdadeira esponja e passei a absorver tudo à minha volta. O mundo se tornou minha universidade, e desenvolvi uma grande necessidade de aprender, ler e acumular conhecimento.

Para quem se destaca pela inteligência, o contrário se aplica. Essas pessoas precisam exercitar o corpo diariamente. Clint Eastwood pratica exercícios físicos mesmo quando está dirigindo e atuando em um filme. Dmitri Medvedev trabalhava horas a fio quando era presidente da Rússia, mas tinha uma academia em casa e malhava duas horas por dia. Se os líderes mundiais têm tempo para isso, você também tem.

Muitos anos depois de Fredi Gerstl, o papa me falou sobre a mesma ideia de equilíbrio. Fui visitar o Vaticano com Maria e os pais dela em 1983, e tivemos uma audiência particular com João Paulo II. Sarge falou sobre espiritualidade, porque era especialista nisso. Eunice perguntou ao religioso o que as crianças deveriam fazer para se tornar pessoas melhores, e ele respondeu: “Rezar. Só isso.”

Eu conversei com ele sobre sua rotina de exercícios. Logo antes de viajarmos, eu tinha lido um artigo em uma revista que contava como o papa era atlético e elogiava sua excelente forma física. Para ele, além da religião, a vida consistia em cuidar tanto da mente quanto do corpo, então ele começou a falar sobre isso. Era conhecido por acordar às cinco da manhã, ler jornais em seis idiomas e fazer 200 flexões e 300 abdominais, tudo antes do café da manhã e do início de seu dia de trabalho. Ele também era esquiador e continuou a praticar esse esporte mesmo depois que virou papa.

Na época, João Paulo II já estava com mais de 60 anos, 27 a mais do que eu. Pensei: “Se esse cara consegue, vou ter que acordar ainda mais cedo!”