Mesmo assim, estava orgulhoso com o fato de a nossa academia estar começando a ficar meio parecida com a ONU, porque meu plano era alcançar uma escala global em tudo o que eu fizesse. Fisiculturistas americanos e britânicos de passagem pela cidade apareciam por lá, e os soldados americanos estacionados ali perto ficaram sabendo que a Universum Sport Studio era um bom lugar para se treinar.
Ter uma grande variedade de clientes era a ferramenta de vendas perfeita. Se alguém me dissesse “Estive na academia Smolana e eles têm mais aparelhos que vocês”, eu respondia: “Bom, eles têm mais espaço que nós, nisso você tem razão. Mas pense no que faz todo mundo querer vir aqui. Quando qualquer fisiculturista americano chega à cidade, é aqui que ele vem treinar. Quando os membros das Forças Armadas procuram uma academia, é aqui que vêm treinar. Quando lutadores profissionais vêm a Munique, é aqui que eles vêm treinar. Temos até mulheres tentando entrar!” Eu tinha preparado todo um discurso.
Meu sucesso inicial em Londres mostrou que eu estava no caminho certo e que meus objetivos não eram malucos. A cada vitória que obtinha, minha certeza aumentava. Depois do Mister Universo de 1966, conquistei vários outros títulos, incluindo o de Mister Europa. Mais importante ainda para minha reputação local foi que consegui erguer, mais alto que qualquer outro competidor, um bloco de pedra de 254 quilos da antiga cervejaria Löwenbräukeller durante o Festival da Cerveja, em março, e assim venci uma rodada da competição de levantamento de pedra.
Eu sabia que já era o favorito para ganhar o título de Mister Universo de 1967. Mas isso não me parecia suficiente – eu queria domínio total. Se já os havia impressionado com meu tamanho e força no ano anterior, meu plano agora era aparecer inacreditavelmente maior e mais forte e deixá-los realmente de queixo caído.
Assim, dediquei toda a minha energia e atenção a um regime de treinamento que havia bolado junto com Wag Bennett. Passei meses gastando a maior parte do meu salário em comida, vitaminas e tabletes de proteína destinados a aumentar a massa muscular. A principal bebida dessa dieta parecia um oposto intragável da cerveja: levedo de cerveja com leite e ovo cru. O cheiro e o sabor eram tão horríveis que Albert certa vez provou e vomitou. Mas eu estava convencido de que funcionava, e talvez desse certo mesmo.
Eu lia tudo o que conseguia encontrar sobre os métodos de treinamento dos alemães orientais e soviéticos. Havia boatos cada vez mais fortes de que eles estavam usando remédios para aumentar o desempenho e melhorar os resultados de seus halterofilistas, lançadores de peso e nadadores. Assim que entendi que os remédios em questão eram os anabolizantes, fui ao médico experimentar. Na época, não havia nenhuma regra que proibisse o uso de esteroides anabolizantes e era possível obtê-los com receita médica, mas as pessoas já pareciam ter reservas em relação ao seu uso. Os fisiculturistas não falavam sobre anabolizantes com a mesma liberdade com que se referiam a séries com pesos ou suplementos alimentares, e havia uma controvérsia sobre se as revistas especializadas deveriam informar as pessoas a respeito dos remédios ou simplesmente ignorar essa tendência.
Tudo o que eu precisava saber era que os principais campeões internacionais estavam tomando anabolizantes, e confirmei esse fato perguntando ao pessoal de Londres. Eu não podia entrar na competição em desvantagem. “Não deixe de tentar nada”, era esse o meu lema. Não havia nenhuma prova quanto aos riscos – as pesquisas relacionadas aos efeitos colaterais dos anabolizantes estavam apenas começando –, mas, mesmo que fosse o caso, não sei se eu teria ligado. Campeões de esqui alpino e pilotos de Fórmula 1 sabem que podem morrer, mas mesmo assim competem. Eles competem porque, se você não morre, você ganha. Além disso, eu tinha 20 anos e me achava imortal.
Para obter os remédios, só precisei me consultar com um clínico geral.
– Ouvi dizer que esses remédios auxiliam no crescimento muscular – falei.
– Teoricamente, sim, mas eu não exageraria na propaganda – respondeu o médico. – Esses remédios são para pessoas em reabilitação após passarem por intervenções cirúrgicas.
– Acha que eu posso experimentar? – perguntei, e ele respondeu que sim, claro.
Receitou uma injeção a cada 15 dias e também comprimidos para tomar entre as aplicações.
– Tome isto por três meses e pare no dia em que a competição terminar – falou.
Os anabolizantes me deixaram com mais fome e sede e me ajudaram a ganhar peso, mas esse peso era composto principalmente por água, o que não era ideal, pois afetava a definição. Aprendi a usar os remédios durante as seis ou oito últimas semanas antes de uma competição importante. Eles podiam ajudar a vencer, mas a vantagem que proporcionavam era mais ou menos a mesma de ter um belo bronzeado.
Mais tarde, na época que me aposentei do fisiculturismo, o uso de drogas se tornou um problema grave nesse esporte. Alguns caras chegavam a tomar doses de anabolizantes 20 vezes maiores do que as que qualquer um de nós tomava. Quando o hormônio do crescimento humano foi descoberto, a situação realmente fugiu ao controle. Alguns fisiculturistas morreram. Desde então venho trabalhando duro junto à Federação Internacional de Fisiculturismo e a outras organizações para banir as drogas do esporte.
O efeito global de todos esses ajustes no meu regime de treinos foi que, em setembro, quando tornei a embarcar num avião para Londres, havia conseguido ganhar quase 5 quilos só de músculos.
Essa segunda disputa de Mister Universo foi tão boa quanto eu imaginava. Enfrentei fisiculturistas de África do Sul, Índia, Inglaterra, Jamaica, Escócia, Trinidad, México, Estados Unidos e dezenas de outros países. Pela primeira vez, ouvi o público entoar meu nome: “Arnold! Arnold!” Nunca tinha vivido nada parecido. Quando subi ao pódio com meu troféu na mão, exatamente como havia sonhado, consegui dizer as palavras certas em inglês para mostrar que tinha alguma classe e participar da diversão. Peguei o microfone e falei: “Minha ambição de vida acabou de se realizar. Estou muito feliz em ser Mister Universo. Que frase mais linda! Vou repetir: estou muito feliz em ser Mister Universo. Obrigado a todos na Inglaterra que me ajudaram. Vocês foram muito bons comigo. Obrigado a todos.”
Conquistar o título de Mister Universo me proporcionou um estilo de vida que superava os sonhos mais extravagantes de qualquer rapaz. Quando o tempo estava bom, nós nos empilhávamos dentro de nossos carros velhos e íamos para o campo brincar de gladiadores – fazíamos churrasco, bebíamos vinho e namorávamos. À noite, eu saía com uma turma internacional de donos de bar, músicos, garçonetes – uma de minhas namoradas era stripper, outra era cigana. Mas eu tinha hora certa para esses excessos. Quando precisava treinar, nunca perdia uma sessão sequer.
Reg Park havia prometido que, se eu ganhasse o Mister Universo, ele me convidaria a ir à África do Sul para fazer exibições e promover meu nome. Assim, na manhã seguinte ao concurso, eu lhe mandei um telegrama que dizia: “Ganhei. Quando é que vou para aí?” Reg cumpriu sua palavra. Mandou uma passagem para mim e em 1967, durante as férias de verão do hemisfério norte, passei três semanas em Johanesburgo com ele, sua mulher, Mareon, e os dois filhos do casal, Jon Jon e Jeunesse. Reg e eu percorremos toda a África do Sul fazendo exibições, inclusive em Pretória e na Cidade do Cabo.