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EU ME PERGUNTAVA QUANDO CHEGARIA a minha vez de ir para os Estados Unidos. Um cantinho do meu cérebro estava permanentemente focado nessa questão. Quando servi o exército austríaco, por exemplo, descobri que condutores de tanque estavam sendo mandados para um treinamento avançado lá, então fiquei sonhando em seguir a carreira militar por causa disso. O problema, claro, era que quando o período de treino terminasse eu teria que voltar para o meu país e continuar no exército.

Assim, mantive meu plano originaclass="underline" eu iria receber uma carta ou um telegrama me convidando para ir aos Estados Unidos. Cabia a mim ter um bom desempenho e fazer algo extraordinário. Afinal, se Reg Park conseguira ir para lá fazendo algo fora do comum, eu também poderia. Na avaliação de meu progresso, eu usava Reg e Steve Reeves como referências. Assim como Reg, eu havia começado cedo na carreira – mais cedo ainda, já que ele começou aos 17 anos, pouco antes de entrar para o exército, e eu aos 15. Ganhar o Mister Universo aos 20 anos me valera uma boa dose inicial de publicidade no mundo do fisiculturismo, pois eu batera a duradoura marca de Reg, vencedor aos 23 anos, em 1951.

Quando minha obsessão pelo fisiculturismo começou, eu sonhava que vencer o Mister Universo em Londres fosse me garantir fama e imortalidade. Na verdade, porém, as competições tinham se tornado bem mais complexas. Como no boxe hoje em dia, o fisiculturismo tinha várias federações, que viviam competindo pelo controle da modalidade. Elas administravam os campeonatos que atraíam a elite do esporte: a disputa de Mister Universo na Grã-Bretanha; a de Mister Mundo, que a cada ano se realizava em um país diferente; a de Mister Universo nos Estados Unidos; e o Mister Olympia, um concurso novo destinado a escolher o melhor fisiculturista profissional do mundo. Os fãs precisavam ter tudo anotado para se lembrarem de tantos eventos. Para mim, o importante era que nem todos os melhores fisiculturistas competiam em todas as disputas. Alguns dos melhores americanos, por exemplo, pulavam o Mister Universo em Londres e só participavam da versão americana. Sendo assim, a única forma de um fisiculturista se tornar campeão mundial inconteste era ganhar os títulos de todas as federações. Somente depois de ter desafiado e vencido todos os rivais era possível ser reconhecido mundialmente como o melhor. No auge da carreira, Reg Park havia dominado a cena mundial ao vencer o Mister Universo de Londres três vezes em 14 anos. Bill Pearl, um excelente fisiculturista californiano, dominara conquistando três títulos de Mister Universo mais o Mister América e o Mister Estados Unidos. Steve Reeves fora Mister América, Mister Universo e Mister Mundo. Eu estava ansioso não apenas para bater os recordes de todos eles, mas também para ser muito superior a eles: se alguém podia ganhar o Mister Universo três vezes, eu queria vencer seis. Era jovem o suficiente para isso e sentia que era capaz.

Eram esses os meus sonhos durante a preparação para a disputa de Mister Universo marcada para acontecer em Londres em 1968. Para chegar aos Estados Unidos, eu primeiro precisava dominar inteiramente a cena do fisiculturismo na Europa. Ter vencido o Mister Universo na categoria amadora no ano anterior era um ótimo começo. No entanto, isso me alçava automaticamente ao status profissional, o que trazia toda uma nova gama de adversários, ou seja, eu precisava vencer o título profissional de forma ainda mais decisiva do que vencera como amador. Isso me tornaria duas vezes campeão do Mister Universo, e então eu realmente iria deslanchar.

Eu me certifiquei de que nada pudesse interferir nos treinos. Nem a diversão, nem o meu emprego, nem as viagens, nem as garotas, nem a organização da disputa de Mister Europa. É claro que eu reservava tempo para todas essas coisas, mas minha prioridade era treinar duro umas quatro ou cinco horas por dia, seis dias por semana.

Embora eu usasse as dicas aprendidas com Wag Bennett e Reg Park, o foco do meu treino permanecia o mesmo. Meu físico continuava a se desenvolver e eu queria tirar vantagem de um dom naturaclass="underline" uma estrutura óssea capaz de suportar mais massa que a de qualquer outro adversário que teria que enfrentar. Meu objetivo era aparecer no Victoria Palace ainda maior e mais forte que no ano anterior e realmente pulverizar a concorrência. Com 1,88 metro e 113 quilos, eu estava mais impressionante do que nunca.

A véspera do concurso não começou bem. A caminho do aeroporto, fui à academia esperando que Rolf Putziger fosse pagar meu salário normal, com o qual eu estava contando para as despesas diárias em Londres. Mas não: tudo o que ele me deu foi um papel e uma caneta.

“Assine aqui para receber seu dinheiro”, falou. Era um contrato que o tornava meu agente e lhe garantia uma porcentagem de toda a minha renda futura! Superei suficientemente o choque para dizer não, mas fui embora da academia bufando. Todo o dinheiro que tinha era o que levava no bolso e nem sequer sabia se o emprego ainda era meu. Albert teve que me emprestar 500 marcos para eu poder viajar. É claro que a viagem terminou muito melhor do que começou: no dia seguinte, ganhei a disputa de Mister Universo pela segunda vez, uma vitória decisiva. Várias revistas de fisiculturismo publicaram uma foto minha segurando uma garota de biquíni no braço esquerdo enquanto exibia o bíceps do direito. Melhor ainda, porém, foi o telegrama que encontrei à minha espera no hotel. Era de Joe Weider.

“Parabéns pela vitória”, dizia ele. “Você é a jovem sensação do momento. Vai se tornar o maior fisiculturista de todos os tempos.” Ele também me convidava para ir aos Estados Unidos na semana seguinte a fim de competir no concurso de Mister Universo da sua federação, em Miami. “Nós pagamos as despesas”, prosseguia o telegrama. “O coronel Schuster lhe dará mais detalhes.”

Receber um telegrama do maior promotor de campeões do fisiculturismo me deixou muito empolgado. Ser o maior empresário da modalidade nos Estados Unidos tornava Joe Weider o maior empresário de fisiculturismo do mundo. Ele havia construído um império internacional de exibições, revistas, equipamentos e suplementos alimentares para fisiculturistas. Meu sonho agora estava mais próximo: não apenas o de ser um campeão, mas também o de ir para aquele país. Mal pude esperar para ligar para meus pais e contar que estava a caminho. Não achava que fosse acontecer, mas talvez conseguisse acumular um terceiro título de Mister Universo! Aos 21 anos, seria um feito incrível. Eu estava em plena forma física para a competição – e estava embalado. Iria impressioná-los lá em Miami.

O coronel Schuster era um cara de estatura mediana, de terno, que foi me visitar no hotel de Londres mais tarde nesse dia. Na verdade, ele era coronel da Guarda Nacional dos Estados Unidos e ganhava a vida fazendo o marketing da empresa de Weider na Europa. Ele me entregou a passagem de avião, mas mal começara a falar sobre os planos de viagem quando se deu conta de que eu não tinha visto para entrar no país.

Fiquei na casa do coronel esperando, sem nada para fazer, enquanto ele ia à embaixada americana mexer uns pauzinhos. A papelada acabou levando uma semana. Ocupei meu tempo da melhor forma que pude, embora na verdade não tivesse uma dieta adequada nem uma academia onde pudesse treinar cinco horas por dia. Fiz o possíveclass="underline" passei a frequentar o depósito de Weider, onde haviam conseguido alguns pesos e halteres, e treinei lá. Estava distraído, porém, e não era a mesma coisa.

No minuto em que pisei no avião, toda a frustração desapareceu. Tive que fazer conexão em Nova York e, ao sobrevoar a cidade, minha primeira visão dos arranha-céus, do porto e da Estátua da Liberdade foi fantástica. Não sabia ao certo o que esperar de Miami, e chovia quando cheguei lá. Mas a cidade também me deixou impressionado, não só por causa dos prédios e das palmeiras, mas também em razão do calor que fazia naquele mês de outubro e da felicidade que isso parecia provocar nas pessoas. Adorei as casas de espetáculos com música latina para turistas. E a mistura de latinos, negros e brancos era fascinante: eu já tinha visto isso no circuito do fisiculturismo, mas nunca na Áustria quando era mais jovem.