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Joe jamais daria ouvidos ao argumento sentimental, de modo que eu o traduzi em termos comerciais. “Se você trouxer Franco, vai dominar o fisiculturismo profissional”, eu lhe disse. “Durante muitos anos! Vai ter o melhor homem alto na categoria de pesos pesados – ou seja, eu – e o melhor homem baixo de pesos leves.” Contei a ele que, em relação a seu peso, Franco era o maior levantador do mundo (o que era verdade, pois ele conseguia erguer mais de quatro vezes o próprio peso no levantamento terra), e como vinha se reorientando para o fisiculturismo.

Em segundo lugar, eu disse a Joe que Franco era o meu parceiro de treino ideal e que, se pudéssemos trabalhar juntos, eu teria ainda mais sucesso. Em terceiro lugar, assegurei-lhe que Franco era um cara trabalhador, que não se aproveitaria do fato de estar na Califórnia só para ficar na praia sem fazer nada. Já tinha sido pastor de ovelhas, pedreiro e taxista. “Ele não é um preguiçoso cara de pau”, falei. “Você vai ver só.”

JOE DEMOROU UM POUCO A SE DECIDIR. Sempre que eu mencionava Franco, ele fingia nunca ter escutado esse nome, então eu tinha que repetir a argumentação toda de novo. Finalmente, porém, em meados de 1969, ele cedeu e concordou em convidar Franco e lhe pagar os mesmos 65 dólares por semana que pagava a mim. E começou imediatamente a se gabar do fantástico fisiculturista baixo que ia trazer da Europa. Só que Joe não era muito bom para decorar nomes e ainda não conseguia se lembrar muito bem do de Franco.

– Adivinhem quem vamos trazer agora? – anunciou ele durante o almoço. – Francisco Franco!

Artie Zeller, o fotógrafo que me recebera no aeroporto no ano anterior, por acaso estava presente e o corrigiu.

– Francisco Franco é o ditador da Espanha.

– Não. Eu quis dizer Colombo, é esse o nome dele.

– Tem certeza? – indagou Artie. – Colombo foi o descobridor da América.

– Não, esperem, eu quis dizer Franco Nero.

– Esse é um ator italiano. Faz faroestes.

– Arnold! Quem é mesmo que nós vamos trazer, caramba? – perguntou Joe por fim.

– Franco Columbu.

Ai, meu Deus. Filho da mãe! Um italiano! Por que os italianos têm nomes tão esquisitos? Parece tudo a mesma coisa.

Fui no meu fusca branco buscar Franco no aeroporto. Já havia incrementado o carro com um volante de corrida, e ele estava ótimo. Para receber meu amigo em solo americano e comemorar sua chegada, pensei que o melhor seria preparar um cookie de maconha. Eu tinha ficado amigo de Frank Zane, o fisiculturista que havia me derrotado em Miami, e ele gostava de fazer seus próprios cookies. De vez em quando ele me dava um. “Vai ser engraçado”, pensei. “Vou buscar Franco, ele vai estar com fome depois de um voo tão longo, então darei a ele metade do cookie.” Não lhe daria o cookie inteiro, pois não sabia como seu corpo reagiria.

Assim que Franco entrou no carro, perguntei:

– Está com fome?

– Estou, morrendo.

– Bom, por sorte tenho um cookie aqui. Vamos dividir.

Então fomos para o apartamento de Artie, o primeiro lugar para o qual o levei. Josie, mulher de Artie, era suíça, e achei que Franco fosse se sentir mais à vontade com pessoas que falassem alemão. Depois que chegamos, ele passou uma hora inteira deitado no tapete da sala, rindo.

– Ele é sempre engraçado assim? – perguntou o fotógrafo.

– Deve ter tomado uma cerveja ou algo do tipo – respondi. – Mas, sim, normalmente ele é um cara engraçado.

– Ah, sim, ele é hilário. – Artie e Josie também estavam rindo loucamente.

Alguns dias depois, perguntei a Franco:

– Sabe por que você estava rindo tanto? – E contei a ele sobre o cookie.

– Eu sabia que tinha alguma coisa esquisita! – disse o italiano. – Vai ter que me dar outro, porque foi muito bom!

Na verdade, porém, Franco teve uma séria reação à vacina contra varíola que tomara logo antes de sair de Munique. Seu braço inchou, ele teve febre e calafrios e não conseguia comer. Isso durou uns 15 dias. De tantas em tantas horas, eu preparava bebidas proteinadas para ele. Acabei levando um médico ao apartamento, pois tive medo que Franco morresse, mas o médico prometeu que ficaria bem.

Meu trabalho de vendedor fora tão bom que Joe Weider estava ansioso para conhecer Franco e ver como ele era musculoso. Só que o meu amigo tinha secado de 77 quilos para cerca de 68. Quando Joe aparecia, eu o escondia no quarto e dizia: “Ah, Franco está muito ocupado, foi malhar na Gold’s outra vez.” Ou então: “É, ele está muito a fim de conhecer você e quer estar com um visual perfeito, então foi à praia pegar uma cor.”

O plano sempre foi que Franco morasse comigo. Mas o meu apartamento só tinha um quarto, de modo que fiquei lá, enquanto ele passou a dormir no sofá-cama. O apartamento era tão pequeno que sequer havia espaço para colar cartazes. Em Munique, porém, eu morava dentro de um closet na academia, ou seja, aquilo ali para mim era puro luxo. Franco também pensava assim. Nós tínhamos uma sala e um quarto, e havia cortinas nas janelas. Além disso, a praia ficava a apenas três quarteirões. Nosso banheiro tinha pia, privada e banheira com chuveiro, muito melhor que o que tínhamos na Europa. Por menor que fosse o espaço, nossa sensação era de ter melhorado de vida.

Eu havia visitado Franco várias vezes no quarto em que ele morava em Munique. O lugar estava sempre um brinco. Então sabia que ele seria um ótimo companheiro de apartamento, e foi isso mesmo que aconteceu. Nossa casa estava sempre impecável. Passávamos o aspirador com frequência, não deixávamos a louça se acumular na pia da cozinha e a cama estava sempre feita ao estilo militar. Nós dois tínhamos a disciplina de acordar de manhã e dar um jeito na casa antes de sair. Quanto mais se pratica, mais o hábito se torna automático e menos esforço ele exige. Nosso apartamento foi sempre bem mais limpo que qualquer outro que eu tenha visitado, fosse de homens ou mulheres. Sobretudo mais que os das mulheres. Elas pareciam umas porquinhas.

O combinado era o seguinte: Franco cozinhava e eu lavava a louça. Ele não demorou muito para encontrar lojas de produtos italianos que vendessem o macarrão, as batatas e a carne do jeito que gostava. Mas torcia o nariz para os supermercados. “Ah, esses americanos”, dizia. “Bom mesmo é comprar na mercearia, na loja italiana.” Ele vivia chegando em casa com pequenos embrulhos e vidros de comida e dizia: “Isto aqui você só encontra nas lojas italianas.”

Fomos muito felizes nesse apartamento – até o proprietário nos enxotar de lá. Um belo dia, ele bateu na porta e disse que tínhamos que sair porque o imóvel só tinha um quarto. Naquela época, no sul da Califórnia, era considerado suspeito dois caras dormirem em um apartamento de um quarto só. Expliquei que Franco dormia no sofá da sala, mas o proprietário não arredou pé: “O apartamento na verdade é para uma pessoa.”

Queríamos mesmo um lugar maior, então não ligamos. Achamos um lindo apartamento de dois quartos em Santa Monica e nos mudamos para lá.

Na casa nova, havia espaço nas paredes para decoração, mas não tínhamos nada para pregar nelas. E meu dinheiro com certeza não dava para comprar obras de arte. Foi então que certo dia, em Tijuana, vi um cartaz em preto e branco muito maneiro de um caubói com duas armas apontadas. Como custava apenas 5 dólares, eu comprei. Ao chegar em casa, preguei-o na parede com fita adesiva. Ficou lindo.

Um dia Artie foi nos visitar. Assim que viu o cartaz, começou a dar várias fungadas e agir como se estivesse bravo.