– Eca – disse ele. – Que imbecil.
– O que houve? – perguntei.
– Reagan, sério mesmo? Meu Deus!
– É uma foto ótima. Achei lá em Tijuana.
– Você sabe quem é esse cara? – perguntou ele.
– Bom, embaixo está escrito: “Ronald Reagan”.
– É o governador do estado da Califórnia.
– É mesmo? Incrível! – retruquei. – Melhor ainda. Agora tenho o governador da Califórnia pendurado na parede.
– É, antigamente ele fazia filmes de faroeste – disse Artie.
COM FRANCO COMO PARCEIRO DE TREINO, eu podia me concentrar em meus objetivos de competição. Estava decidido a conquistar o título de Mister Universo da IFBB que não conseguira em Miami. Ainda estava tão mordido com a derrota para Frank Zane que não queria simplesmente ganhar a competição: queria uma vitória tão esmagadora que fizesse as pessoas esquecerem que um dia havia perdido.
Assim, fiz planos de ir a Londres e ganhar outra vez o Mister Universo da NABBA. Isso me renderia, aos 24 anos, quatro títulos de Mister Universo de ambos os lados do Atlântico, mais que qualquer outro praticante do esporte possuía. A vitória traria de volta o embalo que eu pensava ter perdido, a aura de invencibilidade que me punha sob os holofotes e deixava o público embasbacado. Mais importante ainda, a vitória sinalizaria que os únicos campeões de fisiculturismo em que o mundo deveria prestar atenção eram Sergio Oliva e eu. O meu objetivo era estar entre os seis ou oito melhores do mundo e então dar o salto para a primeira ou segunda posição no ranking. Fora para isso que eu me mudara para os Estados Unidos e só cabia a mim alcançar esse feito. Se tivesse sucesso e conseguisse consolidar minha posição no universo do fisiculturismo, a partir dali tudo avançaria mais depressa. Ninguém seria capaz de me deter.
Depois disso, o grande objetivo seguinte seria derrotar Sergio e conquistar o título de Mister Olympia. Eu não iria cometer o mesmo erro de quando fui para Miami, onde pensara que fosse conseguir uma vitória fácil. Passei a treinar o mais pesado possível.
Organizar a competição de Mister Universo em Miami fora um experimento dos Weider, e em 1969 eles voltaram para Nova York. Para aumentar a euforia, também haviam marcado as disputas de Mister América, Mister Universo e Mister Olympia para o mesmo dia, em sequência, na Academia de Música do Brooklyn, a maior casa de espetáculos da região.
Ao longo de todo o ano, eu tinha sido retratado e promovido à exaustão nas revistas de Weider junto com os outros principais fisiculturistas do mundo, mas a disputa de Mister Universo seria minha primeira desde o outono anterior. Eu estava ansioso para ver o que os jurados e os fãs achariam do meu corpo recém-americanizado. A competição correu ainda melhor do que eu planejara. Em uma das disputas mais concorridas já vistas, derrotei todos os adversários. Milhares de séries nos aparelhos de Joe Gold tinham me ajudado a ganhar uma definição muscular com a qual nem os competidores altos nem os baixos conseguiram se comparar. Para completar, eu estava com um belo bronzeado californiano!
Ganhar o título me deixou tão animado que voltei a pensar na disputa de Mister Olympia. E se eu tivesse subestimado meu progresso? Se conseguisse derrotar Sergio nessa competição, eu me tornaria o rei!
Na manhã do concurso, ele apareceu com suas típicas roupas chamativas: terno quadriculado de três peças feito sob medida, gravata escura, sapatos de couro preto, chapéu estiloso e muitas joias de ouro. Ficamos nos provocando enquanto assistíamos às prévias da disputa de Mister América.
– E aí, Monstro, está sarado? – perguntei.
– Ah, boneca, hoje você vai ter uma surpresa daquelas, eu garanto – respondeu Sergio. – Vai ver, mas não vai acreditar. Ninguém vai acreditar.
Por fim, fomos nos aquecer nos bastidores. Sergio era famoso por seus longos aquecimentos, durante os quais sempre usava um jaleco de mangas compridas para os outros concorrentes não poderem ver seus músculos. Na hora de subirmos ao palco, ele tirou o jaleco e foi andando na minha frente pelo corredor. É claro que sabia que eu iria examiná-lo. Muito casualmente, ergueu um dos ombros e esticou o maior grande dorsal que eu já tinha visto na vida. O músculo era do tamanho de uma arraia-jamanta gigante. Ele então repetiu o movimento com o outro ombro. Suas costas eram tão imensas que pareciam bloquear toda a luz no corredor. A pressão psicológica surtiu efeito. Eu soube ali mesmo que iria perder.
Nós dois posamos – primeiro eu, depois Sergio – e ambos fizemos a casa vir abaixo com gritos e o barulho de pés batendo no chão. Então os jurados anunciaram que não estavam conseguindo chegar a uma decisão e nos chamaram de volta ao palco para posarmos juntos. Alguém gritou “Posem!”, mas, durante um minuto, nenhum de nós dois se mexeu – como se estivéssemos nos desafiando para ver quem posava primeiro. Por fim, eu sorri e fiz a pose de duplo bíceps, uma das minhas melhores. A plateia veio abaixo. Sergio respondeu com sua pose da vitória: os braços erguidos acima da cabeça. A plateia enlouqueceu outra vez e começou a entoar: “Sergio! Sergio!” Fiz uma pose de peito, que ele começou a imitar, mas então mudou de ideia e fez uma pose de “mais musculoso”. Mais gritos para Sergio. Fiz a pose que era minha melhor marca registrada – uma três quartos de costas –, mas isso não bastou para virar o jogo. Ele simplesmente ainda estava na minha frente.
Continuei sorrindo e fazendo poses. Já tinha alcançado meu objetivo ali e estava muito melhor que no ano anterior. Conseguira derrotar todo mundo exceto ele. Podia dizer a mim mesmo: “Arnold, você foi ótimo, e Sergio está com os dias contados.” Por enquanto, porém, estava claro que o campeão ainda era ele e, quando os jurados anunciaram sua vitória, eu lhe dei um forte abraço. Na minha opinião, Sergio merecia toda a atenção que estava tendo. Eu era bem mais jovem e seria o número um em bem pouco tempo, e então poderia ter aquela atenção toda para mim. Enquanto isso, era justo que ele brilhasse. Ele era o melhor.
NESSE OUTONO, JOE WEIDER ME FEZ iniciar a segunda fase do meu sonho americano: entrar para o cinema. Quando se espalhou a notícia de que alguns produtores estavam procurando um fisiculturista para estrelar um filme, ele indicou meu nome.
O que aconteceu no caso de Hércules em Nova York foi como uma daquelas fantasias típicas de Hollywood. Você desembarca do navio, começa a andar pela rua e alguém diz “É você! Você tem o visual perfeito!” e lhe oferece um papel no cinema. Ouvimos essas histórias o tempo todo, mas ninguém sabe se são mesmo verdadeiras.
Na realidade, o papel já tinha sido oferecido ao ex-Mister América Dennis Tinerino, que eu derrotara em 1967 na disputa do meu primeiro título de Mister Universo. Ele era um campeão legítimo: voltara à ativa para conquistar o título amador de Mister Universo em 1968. No entanto, Joe não queria que ele ficasse com o papel, pois Dennis costumava trabalhar mais com as outras federações de fisiculturismo. Então ligou para os produtores e lhes disse que, em Viena, eu tinha sido ator shakespeariano e que eles deveriam desistir de Dennis e me escolher. “Sei que Tinerino ganhou o Mister Universo, mas Schwarzenegger já ganhou esse título três vezes”, falou. “Vocês vão ter o melhor fisiculturista do mundo. Ele é o cara certo para o papeclass="underline" é extraordinário e tem uma presença de palco fenomenal.”
Não existem atores shakespearianos na Áustria. Isso é uma invenção. Eu não fazia a menor ideia do que Joe estava dizendo, mas ele informou que era meu empresário e não me deixou falar com os produtores, pois estava preocupado que meu inglês não fosse bom o bastante. Então, quando eles quiseram me encontrar, respondeu: “Não, Arnold ainda não chegou. Vai estar aqui em breve.” Achei isso tudo muito divertido. Depois de algum tempo, acabamos indo encontrar os produtores e Joe me alertou para não falar muito. Quando dei por mim, tinha conseguido o papel. Joe era um ótimo vendedor.