Depois da competição de Mister Olympia, Franco e eu fomos para Londres, onde conquistei mais um título de Mister Universo da NABBA, estabelecendo um recorde como primeiro fisiculturista a conquistar quatro coroas de Mister Universo. Então peguei um avião de volta para Nova York para me tornar o novo Hércules.
Hércules em Nova York era uma sátira de baixo orçamento aos filmes épicos clássicos. O argumento era: Hércules se cansa de viver no Monte Olimpo e desce à Terra montado em um raio até a Nova York da nossa época, embora seu pai, Zeus, o tenha proibido de ir embora. Ele então faz amizade com um sujeito chamado Pretzie, um tímido vendedor de pretzels que tem uma carrocinha no Central Park, e este tenta ajudá-lo a se adaptar à medida que ele se envolve com mafiosos, luta com um urso-pardo, passeia de carruagem pela Times Square, desce ao inferno, aprende a comprar guloseimas nas máquinas automáticas e se envolve com a bela filha de um professor de mitologia. Exatamente quando Hércules está se acostumando à vida na cidade grande, Zeus perde a paciência e manda outros deuses descerem para buscá-lo.
A ideia em si não era ruim – fazer Hércules visitar a Nova York moderna –, e o filme era bem engraçado, sobretudo Arnold Stang, o ator que fazia Pretzie. Ele era minúsculo, e eu, gigante. Admito que a experiência foi um desafio. Pensei que fosse ter que esperar até pelo menos os 30 anos para estrear no cinema. Mas ali estava eu, aos 22, nos Estados Unidos, fazendo o papel de um semideus. Quantas pessoas conseguem viver um sonho assim? “Você deveria estar feliz!”, falei para mim mesmo.
Ao mesmo tempo, pensei: “Mas eu não estou pronto. Nem aprendi nada sobre interpretação!”
Se eu tivesse experiência como ator, tudo teria sido muito melhor. Os produtores contrataram um instrutor de interpretação e outro para os diálogos, mas duas semanas de trabalho com eles não conseguiram compensar minhas deficiências no inglês e minha falta de experiência. Eu não estava à altura. Não fazia a menor ideia do que esse tipo de atuação deveria envolver. Nem sequer era capaz de compreender todas as frases do roteiro.
O cara que fazia Zeus era Ernest Graves, um veterano de novelas de televisão. Lembro que um dia comecei a rir durante uma filmagem, porque ele fez uma voz portentosa de Zeus para um discurso que devia pronunciar, e a voz soava totalmente diferente da do cara que eu conhecera no trailer de maquiagem. Ele realmente incorporou o personagem, e achei aquilo engraçado. Mas é claro que não se pode rir em um set de filmagem. É importante ser solidário e mostrar que você acredita na interpretação do colega. Quando se está por trás das câmeras, deve-se manter o personagem, representar o seu papel e dar o melhor de si para ajudar o ator que está em cena a alcançar o melhor resultado. Isso é fundamental, mas eu não fazia a menor ideia. Quando alguma coisa me parecia engraçada, eu ria e pronto.
No penúltimo dia, finalmente senti o que significava atuar. Estávamos filmando uma cena carregada de emoção: o adeus entre Hércules e Pretzie. Entrei totalmente no personagem, da forma que todo mundo sempre fala quando se refere a interpretação. Depois da cena, o diretor veio falar comigo:
– Fiquei todo arrepiado quando você fez isso.
– É, foi estranho mesmo – respondi. – Eu senti a cena de verdade.
– Você tem potencial. Acho que tem chance como ator, porque à medida que as filmagens foram avançando você começou mesmo a aprender como se faz.
Um dos produtores perguntou se podia me pôr nos créditos como Arnold Strong – “forte” –, pois, segundo ele, ninguém conseguia pronunciar Schwarzenegger, um sobrenome absurdo. Além do mais, pôr Arnold Strong e Arnold Stang no cartaz seria engraçado. Na edição, minha voz foi dublada pela de outro ator, porque meu sotaque era carregado demais para ser compreensível. Talvez a coisa mais incrível em relação a Hércules em Nova York tenha sido que, durante muitos anos, o filme nem sequer foi exibido nos Estados Unidos: a produtora faliu, de modo que ele foi parar na gaveta antes de ser lançado.
Mesmo assim, fazer o papel de Hércules ia além de qualquer sonho que eu pudesse ter tido. E eles ainda me pagaram 1.000 dólares por semana. O melhor de tudo foi poder mandar fotografias para meus pais e escrever: “Estão vendo? Eu disse que iria dar tudo certo. Vim para os Estados Unidos, ganhei o Mister Universo e agora estou trabalhando no cinema.”
VOLTEI MUITO FELIZ PARA A CALIFÓRNIA. Joe Weider prometera me bancar por um ano, e o tempo havia se esgotado. Mas não havia dúvida de que ele queria que eu ficasse. Conforme eu ia fazendo mais e mais sucesso, ele ia inventando novas maneiras de me incluir nas matérias e nos anúncios de suas revistas. Perguntou se eu poderia entrevistar outros fisiculturistas com um gravador. Não precisaria escrever as matérias, apenas gravar as fitas, e os redatores as transformariam em uma série de artigos para mostrar aos leitores os bastidores do esporte. Tudo o que eu precisaria fazer seria conversar com os outros sobre suas rotinas de treino, suas dietas, as vitaminas que eles tomavam e assim por diante. Os entrevistados foram à nossa casa e Franco lhes preparou uma farta refeição italiana – bancada por Joe, é claro, assim como as garrafas de vinho que foram abertas. Quando todo mundo já estava bem relaxado, saquei o gravador. Não sei muito bem como, mas não conseguimos chegar ao assunto dos treinos e da alimentação. A primeira coisa que eu disse foi:
– Queremos conhecer todas as suas namoradas. Vocês já saíram com algum cara? O que costumam fazer na cama?
Quando mostramos a fita a Joe, no dia seguinte, os olhos dele foram se arregalando até se esbugalharem.
– Mas que droga! Que droga! – explodiu ele. – Seus idiotas! Palhaços! Não tem nada aqui que eu possa usar!
Franco e eu morremos de rir, mas eu prometi refazer as entrevistas.
Comecei a fazer as gravações com os fisiculturistas um a um. A maioria não tinha nenhuma rotina de treinos muito interessante. No entanto, percebi que os redatores de Joe podiam escrever matérias a partir de qualquer coisa. Assim, depois das primeiras vezes, sempre que eu ficava entediado, simplesmente interrompia a entrevista. As fitas que entregava a Joe foram ficando cada vez mais curtas. Ele reclamava, mas continuava querendo muito que eu seguisse com o projeto, e eu dizia com cara de inocente:
– Não posso fazer nada se eles não têm nenhuma ideia.
As últimas duas entrevistas tinham cinco e oito minutos, e Joe finalmente desistiu.
– Ah, que droga – vociferou. – Devolva meu gravador, então.
CAPÍTULO 7
Especialistas em mármore e pedra
O DINHEIRO QUE JOE ME PAGAVA NUNCA durava muito. Eu vivia tentando encontrar maneiras de ganhar mais. À medida que meu inglês foi melhorando e pude começar a explicar como treinar, passei a dar seminários na Gold’s e em outras academias. Cada um deles me rendia 500 dólares.
Também criei um negócio de vendas por correspondência com sede no meu próprio apartamento. Tudo começou por causa das cartas de fãs que eu recebia. As pessoas queriam saber como era meu treinamento para os braços ou o peito e me perguntavam como elas próprias poderiam entrar em forma. Eu não conseguia responder a tantas cartas, então, no início, pedi aos redatores da revista que me ajudassem a elaborar alguns modelos que eu pudesse enviar. Foi assim que tive a ideia de vender uma série de apostilas.
Ao contrário da Europa, nos Estados Unidos não havia um milhão de obstáculos para se abrir um negócio. Eu só tive que ir à prefeitura e pagar 3,75 dólares por um alvará, depois alugar uma caixa postal para receber os pedidos. Em seguida precisei ir ao Conselho de Uniformização Fiscal do estado da Califórnia e à Receita Federal. Eles me perguntaram:
– Quanto o senhor acha que vai ganhar?
– Mil dólares por mês, assim espero.