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Eu queria ficar rico muito depressa. Quando descobri a história do aeroporto, pensei: “Poderia ser um ótimo investimento.” Dito e feito: um ou dois meses depois, recebemos um exemplar do jornal da região, o Antelope Valley Press, que trazia na primeira página um magnífico desenho de como ficaria o aeroporto: imenso, bem futurista, exatamente como eu imaginara que seriam os Estados Unidos. Aquilo, sim, era pensar grande! Em Graz, as autoridades se preocupavam se o aeroporto deveria receber três ou quatro aviões por dia. “Isso vai ser importante”, pensei.

Imaginei que, quando se constrói um aeroporto dessa magnitude, é preciso ter armazéns em volta, além de shoppings, restaurantes, empreendimentos residenciais, prédios públicos – mais e mais crescimento. Então disse a Franco: “Vamos descobrir se tem alguma coisa à venda.” Não demorou muito para o Antelope Valley Press publicar outra matéria de capa sobre como havia empresas comprando grandes terrenos que depois loteavam para revender.

Um senhor de uma dessas empresas nos levou para ver um terreno. Na época, o Vale dos Antílopes era uma região abandonada, não passava de deserto. Levamos duas horas para chegar lá, de ônibus, e o cara passou a viagem inteira falando sobre o projeto. Explicou como iriam construir uma autoestrada até Palmdale e disse que o aeroporto seria internacional. No futuro, poderia vir até a ser usado para aviões espaciais. Ficamos impressionados. Quando chegamos, ele nos mostrou por onde chegariam a energia elétrica e a água, confirmando meu instinto de que aquela seria uma boa oportunidade. Comprei 4 hectares de terreno por um total de 10 mil dólares, e Franco, 2, bem ao lado de onde ficaria a pista de pouso e perto do local onde haveria um complexo de arranha-céus. Não tínhamos 15 mil dólares em dinheiro vivo, de modo que combinamos pagar 5 mil e mais 13 mil de principal e juros ao longo dos anos seguintes.

É claro que nada disso levava em conta o problema do ruído supersônico e de como ele afetaria as pessoas que morassem sob a rota dos aviões. A questão virou uma enorme disputa no mundo inteiro, não apenas nos Estados Unidos. Os governos acabaram decidindo que as companhias aéreas só poderiam fazer os aviões voarem numa velocidade superior à do som quando estivessem acima dos oceanos – e Franco e eu acabamos com vários hectares de deserto encalhados. O empreendedor insistia que tudo não passava de um obstáculo passageiro. “Não vendam”, dizia ele. “Seus netos ainda vão aproveitar essas terras.”

EU NÃO ESTAVA MENTINDO PARA JOE WEIDER quando lhe disse que tanto eu quanto Franco seríamos campeões. Foi estarrecedor ver a rapidez como meu amigo italiano se transformou em um fisiculturista de categoria internacional. O fato de sermos parceiros de treino era uma grande vantagem. Quando começáramos a malhar juntos, em Munique, não tínhamos como saber muita coisa sobre o que os fisiculturistas americanos estavam fazendo, então tivemos que aprender sozinhos, do zero. Descobrimos dezenas de princípios e técnicas de treino, que fomos avaliando progressivamente. Podia ser algo importante, como as flexões plantares com 453 quilos que aprendi com Reg Park, ou coisas mais sutis, como fazer uma rosca bíceps com o pulso virado em determinada direção. Uma vez por semana, escolhíamos um exercício novo e fazíamos séries e repetições até não conseguirmos mais continuar. Então, no dia seguinte, analisávamos que músculos e grupos musculares estavam doloridos e anotávamos. Dessa forma, passamos um ano inteiro fazendo um levantamento sistemático de nossos corpos e elaborando um inventário com centenas de exercícios e técnicas. Mais tarde, essas anotações serviram de base para a Enciclopédia de fisiculturismo e musculação, livro que publiquei em 1985.

Uma de nossas descobertas mais importantes foi que você não pode simplesmente copiar o treino de outra pessoa, porque cada corpo é único. Cada um tem sua própria proporção entre tronco e membros e diferentes vantagens e desvantagens genéticas. Você pode até pegar uma ideia de outro atleta, mas precisa entender que o seu corpo talvez reaja de maneira muito diferente.

Esses experimentos nos ajudaram a encontrar formas de corrigir fraquezas específicas. Franco, por exemplo, tinha as pernas arqueadas, então inventamos um jeito de ele desenvolver as partes internas de suas coxas fazendo agachamentos com as pernas mais afastadas uma da outra. Depois bolamos técnicas para fazer as partes internas de suas panturrilhas ficarem maiores. Ele nunca conseguiria enganar os jurados e fazê-los pensar que tinha as pernas perfeitamente retas. Mas eles ficariam impressionados ao ver como ele dera um jeito de contornar aquela deficiência.

Para o confronto com Sergio Oliva, eu estava decidido a aprimorar minhas poses. Franco e eu passamos semanas treinando nossas sequências. Para ganhar, você precisa conseguir manter cada pose por vários minutos. A maioria dos fisiculturistas que eu conheço consegue fazer uma pose de vácuo, por exemplo, na qual se encolhe a barriga no intuito de chamar atenção para o desenvolvimento do peito. Mas muitas vezes eles não conseguem manter a pose, ou porque se aqueceram demais nos bastidores, ou então porque estão ofegantes em consequência das poses anteriores. Ou ainda porque ficam com cãibras ou começam a tremer.

Assim, um de nós mantinha uma pose por vários minutos, enquanto o outro ia assinalando o que precisava ser ajustado. Eu fazia uma pose de bíceps e Franco dizia: “Estou vendo seu braço tremer. Pare de tremer.” E eu fazia o braço parar de tremer. Então ele dizia “Certo, agora sorria”, ou “Gire um pouco a cintura”, e depois: “Certo, agora faça uma pose de três quartos de costas. Ah, você deu um passo a mais. Não pode. Comece outra vez.”

É preciso treinar cada pose e cada transição, porque esse passo a mais é exatamente o que pode fazer você perder diante dos jurados. Eles vão pensar: “Isso foi antiprofissional. Você não está pronto para o pódio. Você é um imbecil, porra! Desça do palco. Não consegue nem manter a pose. Não treinou nem as coisas mais simples.”

No caso do Mister Olympia, o mais importante não é necessariamente o que acontece enquanto você está posando. Os jurados partem do princípio de que isso você sabe fazer. O que interessa mesmo é o que você faz entre as poses. Como as mãos se movem? Qual é a expressão do rosto? E a postura geral do corpo? É parecido com o balé. O que vale é estar com as costas eretas e a cabeça erguida, e não virada para baixo. E nunca, jamais dar um passo desnecessário. À medida que você encadeia as poses, precisa visualizar a si mesmo como um tigre: lento e fluido. Fluidez, sempre. E precisão: não pode parecer que você está fazendo força, pois isso também é sinal de franqueza. Você tem que ter controle total do próprio rosto. Pode estar fazendo um baita esforço e estar completamente sem ar, mas tem que respirar pelo nariz e manter a boca relaxada. Ofegar seria o pior de tudo. Então, quando você volta ao palco para a pose seguinte, tem que parecer confiante e ter uma aparência perfeita.

Minha preparação para enfrentar Sergio não se restringia aos exercícios na academia. Comprei um projetor, juntei toda uma coleção de apresentações dele em competições e, em casa, assisti a esses filmes inúmeras vezes. Sergio tinha mesmo um físico espantoso, mas reparei que ele vinha usando a mesma sequência de poses havia muitos anos. Era uma informação que eu poderia usar na preparação para nosso derradeiro confronto na disputa do Mister Olympia. Decorei as poses na ordem em que ele as fazia e me preparei para cada uma com três poses minhas. Ensaiei e visualizei essa sequência vezes sem conta: “Quando ele fizer aquilo, eu farei isso, e isso, e isso!” Meu objetivo era ofuscar cada pose que Sergio fizesse.