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Assim como eu, ela também tinha o hábito de poupar cada centavo. Em vez de ir a lugares elegantes, nós fazíamos churrascos no quintal de casa e passávamos o dia na praia. Por estar muito envolvido na carreira, eu não era o melhor candidato do mundo a um relacionamento sério, mas gostava de ter uma companheira. Era ótimo ter alguém em casa quando chegava.

O fato de Barbara ser professora de inglês era outra vantagem. Ela me ajudou muito com a língua e os trabalhos da faculdade. Também era muito útil no trabalho de vendas por correspondência e para escrever cartas, embora eu logo tenha contratado uma secretária. Mesmo assim, aprendemos que, quando você se relaciona com alguém que fala outra língua, tem que tomar um cuidado especial com as falhas de comunicação. Nós tínhamos brigas ridículas. Certa vez, fomos assistir ao filme Desejo de matar. Na saída ela comentou:

– Eu gosto de Charles Bronson porque ele é bem robusto, bem másculo.

– Não acho Charles Bronson tão másculo assim – falei. – Ora, o cara é magrelo! Em vez de másculo, eu diria que ele é atlético.

– Não – retrucou ela. – Você acha que eu estou chamando ele de musculoso, mas não é isso que estou dizendo. Falei que ele é másculo. Isso é outra coisa.

– Másculo, musculoso, é tudo a mesma coisa, porra. Para mim ele é atlético.

– Mas para mim ele é muito másculo.

– Não, você está errada... – insisti, e a discussão continuou.

Assim que chegamos em casa, fui consultar o dicionário. Ser másculo era totalmente diferente de ser musculoso – significava que Bronson era viril e forte, o que de fato ele era. Pensei: “Que idiotice. Puxa vida, você tem que aprender essa língua! Que besteira bater boca por causa de uma coisa dessas.”

DEPOIS QUE GANHEI O MISTER OLYMPIA, Weider começou a me mandar em viagens promocionais pelo mundo inteiro. Eu embarcava em um avião e ia me apresentar em algum shopping onde seus produtos fossem distribuídos ou para o qual ele estivesse tentando se expandir. Vender era uma das coisas que eu mais gostava de fazer. Por exemplo, postado no meio do shopping Stockmann, na Finlândia, com uma tradutora, rodeado por algumas centenas de pessoas das academias da região, já que a minha visita fora divulgada com antecedência. E vendia, vendia, vendia sem parar. “A Vitamina E dá uma energia extra fantástica para treinar muitas horas por dia e ficar com um corpo igual ao meu! E não preciso nem falar na potência sexual que ela também proporciona...” Todo mundo comprava, e eu fazia sempre muito sucesso. Joe mandava que eu empreendesse essas viagens porque sabia que as lojas diriam: “Vendemos muito hoje. Vamos fazer um contrato.”

Eu ia de camiseta sem manga e, de vez em quando, no meio do discurso de venda, fazia uma pose. “Agora vou falar sobre proteína. Você pode comer quantos bifes quiser, ou quanto peixe quiser, mas o corpo só consegue absorver 70 gramas por vez. A regra é: 1 grama para cada quilo de peso corporal. A solução para preencher a lacuna da sua dieta são os shakes proteinados. Assim, se quiserem, vocês podem consumir cinco vezes essa quantidade! Não é possível equiparar a proteína em pó a comer bifes, porque o pó é muito concentrado.” Eu preparava a bebida em um shaker cromado, daqueles que se usam para preparar martínis em bares, e dizia para alguém da plateia: “Quer provar?” Era como vender aspiradores de pó. Eu ficava tão animado que acabava atropelando a tradutora.

Eu então vendia vitamina D, vitamina A, óleo especial para o corpo. No final, o gerente comercial via todo aquele interesse e encomendava os suplementos alimentares de Weider para o ano seguinte. Pedia também conjuntos de pesos fabricados por ele. E para Weider isso era o paraíso. Então, um mês depois, lá ia eu para outro shopping, em um país diferente.

Viajava sempre sozinho. Joe nunca pagava a passagem de mais ninguém, pois considerava isso um desperdício. Porém eu não tinha problema nenhum em viajar sem companhia, porque, graças ao fisiculturismo, aonde quer que eu fosse havia sempre alguém para me buscar e me tratar como se fôssemos irmãos. Era divertido viajar pelo mundo e treinar em academias diferentes.

Weider queria que eu me aprimorasse a ponto de conseguir fechar sozinho o acordo com o gerente do shopping, ter reuniões com editores para conseguir mais edições estrangeiras das suas revistas e, eventualmente, assumir os negócios. Só que esse não era o meu objetivo. Foi como a oferta que recebi, no início dos anos 1970, para gerenciar uma importante rede de academias por 16 mil dólares ao mês. Era muito dinheiro, mas recusei, pois isso não me levaria aonde eu queria ir. Gerenciar uma rede é um trabalho de 12 horas por dia, e essa longa jornada me impediria de me tornar campeão de fisiculturismo e não me deixaria entrar para o cinema. Nada iria me desviar do meu objetivo. Nenhuma proposta, nenhum relacionamento, nada.

Entrar em um avião para vender, no entanto, encaixava-se com perfeição no meu plano. Sempre me vi como um cidadão do mundo. Queria viajar o máximo que pudesse porque pensava que, se a imprensa da região estava se interessando por mim naquele momento como fisiculturista, em algum outro eu acabaria voltando como astro de cinema.

Assim, fazia várias viagens por ano. Só em 1971, fui a Japão, Bélgica, Áustria, Canadá, Grã-Bretanha e França. Muitas vezes, para ganhar um dinheiro a mais, eu acrescentava exibições remuneradas ao meu itinerário. Também fazia exibições e seminários gratuitos em prisões da Califórnia. Isso começou quando fui visitar um amigo da Gold’s que estava cumprindo pena no presídio federal de Terminal Island, perto de Los Angeles. Ele tinha sido condenado a dois anos por roubo de automóvel, mas queria continuar a treinar. Fui vê-lo se exercitar com os amigos no pátio da prisão. Ele ficara famoso como o presidiário mais forte da Califórnia ao quebrar o recorde estadual presidiário de agachamento com 272 quilos. O que me deixou impressionado foi que ele e os outros detentos que levavam o esporte a sério eram prisioneiros-modelo, pois era assim que conseguiam privilégios para treinar e permissão para trazer de fora a proteína que os ajudava a se transformarem nos homens fortíssimos que eram. Se não fosse assim, as autoridades do presídio diriam “Você só está treinando para bater nos outros” e se livrariam dos pesos. Quanto mais popular o fisiculturismo se tornasse nas prisões, pensei, mais os detentos entenderiam que era preciso se comportar bem.

O esporte também os ajudava quando eles saíam da prisão. Se fossem à Gold’s ou a outras academias de fisiculturismo, era fácil fazer amigos. Enquanto a maioria dos ex-detentos era largada na rodoviária com 200 dólares no bolso e acabava à toa, sem emprego e sem vínculo nenhum com quem quer que fosse, o pessoal da Gold’s reparava quando você conseguia levantar 136 quilos no supino com barra. Alguém perguntava “Ei, quer treinar comigo?”, e pronto: um contato humano se estabelecia. No quadro de avisos da academia havia sempre cartões oferecendo serviços para mecânicos, agricultores, personal trainers, contadores etc., e podíamos também ajudar os ex-presidiários a arrumar um trabalho.

Assim, no começo dos anos 1970 visitei presídios masculinos e femininos – de San Quentin a Folsom e Atascadero, onde ficavam os criminosos com distúrbios mentais –, percorrendo o estado inteiro para divulgar o fisiculturismo. Isso nunca teria acontecido se os agentes penitenciários achassem que fosse má ideia, mas eles apoiavam, e os diretores das prisões me recomendavam aos colegas.

NO OUTONO DE 1972, MEUS PAIS FORAM a Essen, na Alemanha, para assistir à minha participação no concurso de Mister Olympia, que estava se realizando pela primeira vez naquele país. Eles nunca tinham me visto em uma competição internacional, e fiquei contente com a presença deles, embora esse não tenha sido nem de longe o meu melhor desempenho. Só tinham me visto competir no Mister Áustria, em 1963, e mesmo assim porque haviam sido convidados por Fredi Gerstl, que ajudara a conseguir os patrocinadores e os troféus.