Vê-los em Essen foi uma ótima experiência. Eles ficaram muito orgulhosos ao me ver ser coroado Mister Olympia pela terceira vez, quebrando o recorde do maior número de títulos em fisiculturismo. E perceberam então: “É disso que ele tanto falava – é esse o seu sonho no qual não acreditávamos.” Minha mãe disse: “Não consigo acreditar que era você lá em cima do palco. E nem tímido você estava! Como conseguiu isso?”
As pessoas lhes davam os parabéns pelo meu sucesso, dizendo coisas como “Vocês ensinaram mesmo esse garoto a ter disciplina!” e lhes dando o crédito que mereciam. Entreguei à minha mãe a placa que servia de troféu e sugeri que ela a levasse para casa. Ela ficou muito feliz. Foi um momento importante – sobretudo para meu pai, cujo comentário em relação à minha prática do fisiculturismo sempre fora: “Por que você não faz alguma coisa útil? Vá cortar lenha.”
Ao mesmo tempo, meus pais pareciam se sentir deslocados. Não sabiam o que pensar em relação àquele mundo de gigantes musculosos, um dos quais era seu filho, desfilando com sungas minúsculas diante de milhares de fãs eufóricos. Nessa noite fomos jantar, e durante o café da manhã do dia seguinte, antes de eles irem embora, não conseguimos nos comunicar muito bem. Eu ainda estava com a cabeça na competição, e eles queriam falar sobre assuntos muito mais íntimos. Ainda estavam assimilando a dor da morte de Meinhard e agora tinham um neto órfão de pai. O fato de eu morar longe era difícil para meus pais. Não havia muita coisa que eu pudesse lhes dizer, e quando eles foram embora fiquei deprimido.
Eles não perceberam que eu não estava na minha melhor forma durante a disputa de Mister Olympia. Eu vinha passando tempo demais em salas de aula e não tanto quanto devia na academia. Meus negócios, as viagens promocionais e as exibições haviam tomado o lugar dos treinos. Além do mais, Franco e eu estávamos ficando preguiçosos, pulando treinos ou reduzindo as séries pela metade. Para tirar o máximo de minhas sessões de exercícios, eu sempre precisava de objetivos específicos, para fazer a adrenalina fluir. E foi assim que aprendi que estar no alto da montanha é mais difícil que escalá-la.
Antes de Essen, porém, essas motivações não existiam, pois defender o título até então tinha sido bem fácil. Em 1971, em Paris, eu conquistara com facilidade meu segundo título de Mister Olympia. O único desafiante possível era Sergio – ninguém mais estava no meu nível –, mas ele fora impedido de participar por causa de uma disputa entre federações. Naquela cidade do oeste da Alemanha, porém, parecia que todos os melhores fisiculturistas do mundo estavam presentes em sua melhor forma, exceto eu. Sergio estava de volta, ainda mais impressionante que na minha lembrança. E uma nova sensação do esporte, o francês Serge Nubret, também competiu no auge da forma, imenso e muito bem definido.
Foi a competição mais dura de que eu já havia participado e, se tivéssemos sido avaliados por jurados americanos, poderia muito bem ter perdido. No entanto, os jurados alemães sempre se deixaram impressionar mais pela pura massa muscular, e felizmente eu tinha o que eles estavam querendo. Ganhar por uma pequena margem, contudo, não me deixou com uma boa sensação. Eu queria que minha primazia fosse clara.
Depois de qualquer disputa, eu sempre ia falar com os jurados para saber sua opinião. “Eu sei que ganhei, mas por favor me digam quais foram meus pontos fracos e os fortes”, pedia. “Os senhores não vão ferir meus sentimentos. Se organizarem algum tipo de espetáculo, continuarei aceitando posar.” Um dos jurados de Essen, um médico alemão que acompanhava minha carreira desde que eu tinha 19 anos, me falou sem rodeios: “Você está flácido. Pensei que fosse imenso e que continuasse o melhor, mas está mais flácido do que eu gostaria de ter visto.”
Da Alemanha, fui fazer exibições na Escandinávia e de lá fui à África do Sul dar seminários para Reg Park. Tínhamos superado os ressentimentos da minha vitória sobre ele em Londres e foi ótimo revê-lo. Entretanto, a viagem não correu tão bem assim. Eu tinha uma exibição marcada em Durban, mas quando cheguei lá descobri que ninguém se lembrara de providenciar uma plataforma para que eu posasse. Mas, afinal, eu trabalhava na construção civil, então falei “Que se dane!” e construí eu mesmo a plataforma.
No meio da série de poses, a coisa toda desabou com um estrondo medonho. Caí de costas, fiquei com a perna presa debaixo do corpo e lesionei bastante o joelho – rompi a cartilagem, e a patela saiu do lugar. Os médicos sul-africanos me socorreram o suficiente para que eu pudesse terminar a turnê com ataduras. Tirando esse percalço, foi uma viagem maravilhosa. Fiz um safári, participei de exibições e seminários, e na viagem de volta enfiei os milhares de dólares dos cachês dentro das minhas botas de caubói para ninguém roubá-los enquanto eu dormia no avião.
Quando estava passando por Londres, a caminho de casa, liguei para Dianne Bennett para saber como ela estava.
“Sua mãe está querendo falar com você”, disse-me Dianne. “Ligue para ela.” Telefonei para minha mãe e de lá fui direto para a Áustria ficar com meus pais. Meu pai tinha tido um derrame.
Quando cheguei, ele estava no hospital e me reconheceu, mas foi horrível. Não conseguia mais falar. Mordia a língua o tempo todo. Fiquei lhe fazendo companhia, e ele parecia consciente, mas tinha sequelas preocupantes. Por exemplo, podia se confundir quando estava fumando e tentar apagar o cigarro na própria mão. Era doloroso e perturbador ver um homem tão inteligente, tão forte – um campeão de curling – perder a coordenação motora e a capacidade de raciocínio.
Passei um bom tempo na Áustria, e meu pai parecia estável quando fui embora. Perto do Dia de Ação de Graças, já em Los Angeles, fiz uma cirurgia no joelho. Acabara de sair do hospital, de muletas, com a perna inteira engessada, quando recebi um telefonema de minha mãe. “Seu pai morreu”, disse ela.
Fiquei com o coração partido, mas não chorei nem me desesperei. Barbara, que estava comigo, ficou chateada com a minha falta de reação. Mas eu me concentrei nas questões práticas. Liguei para meu cirurgião, que me desaconselhou a voar com aquele gesso pesado. Assim, mais uma vez, não pude estar presente a um funeral da família. Pelo menos sabia que minha mãe tinha um sistema de apoio enorme para ajudá-la a organizar a cerimônia e cuidar de todos os detalhes. A Gendarmerie sempre se mobilizava para enterrar um de seus membros, e a banda que meu pai passara tantos anos regendo iria tocar, assim como ele havia tocado em muitos funerais. Os padres das redondezas, de quem minha mãe era próxima, cuidariam dos convites. Os amigos iriam reconfortá-la, e nossos parentes compareceriam ao funeral. Apesar disso tudo, eu, agora seu único filho, não fui; a verdade é essa. Sei que ela sentiu muito a minha falta.
Fiquei chocado, paralisado. No entanto, para falar francamente, também fiquei contente com o fato de o joelho operado me impedir de viajar, porque ainda queria me manter afastado de todo esse lado da minha vida. Minha maneira de lidar com a situação foi negá-la e tentar seguir em frente.
Eu não queria que minha mãe ficasse sozinha. Em menos de dois anos, meu pai e meu irmão tinham morrido, e tive a sensação de que a nossa família estava desmoronando depressa. Mal conseguia imaginar a dor que ela devia estar sentindo. Portanto, precisava me responsabilizar por ela. Eu tinha apenas 25 anos, mas já estava na hora de entrar em cena e tornar a vida dela maravilhosa. Era o momento de retribuir as infindáveis horas e os dias de cuidados, e tudo o que ela fizera por nós quando éramos bebês e crianças.