Eu não podia dar à minha mãe o que ela mais queria: um filho ao seu lado, que se tornasse policial feito papai, desposasse uma moça chamada Gretel, tivesse um casal de filhos e morasse em uma casa a dois quarteirões da sua. Na maioria das famílias austríacas era assim. Ela e meu pai não tinham achado ruim eu me mudar para Munique, que ficava a 400 quilômetros de distância e aonde era fácil chegar de trem. Mas foi só com a morte de meu pai que me dei conta de que eu fora embora para os Estados Unidos em 1968 sem avisar, deixando meus pais chocados e magoados. Eu não iria voltar para minha terra natal, claro, mas queria me redimir por isso também.
Comecei a mandar dinheiro para minha mãe todo mês e a ligar para ela o tempo todo. Tentei convencê-la a se mudar para os Estados Unidos, mas ela não aceitou. Então quis lhe mandar uma passagem para ela ir conhecer minha casa. Minha mãe tampouco concordou com isso. Por fim, em 1973, uns seis meses depois de meu pai morrer, ela finalmente viajou e passou algumas semanas hospedada no apartamento em que eu morava com Barbara. Voltou no ano seguinte, e depois disso passou a nos visitar uma vez por ano. Também comecei a ter uma relação cada vez mais próxima com Patrick, meu sobrinho. Quando ele era pequeno e eu ia à Europa, sempre fazia questão de visitá-lo na casa em que ele morava com Erika e o segundo marido dela, militar, que era um padrasto dedicado. Então, quando Patrick completou uns 10 anos, desenvolveu um verdadeiro fascínio pelo tio que morava no exterior e começou a colecionar cartazes dos meus filmes. Erika pedia que eu mandasse suvenires para ele, e lhe enviei uma adaga do Conan e camisetas do filme O exterminador do futuro e de outros, e escrevia cartas para ele poder mostrar na escola. No ensino médio, de tempos em tempos ele pedia que eu lhe enviasse 20 ou 30 fotos autografadas, que usava sabe-se lá com que fins empresariais. Ajudei-o a entrar para uma escola internacional em Portugal e, com a permissão de Erika, prometi que, se ele continuasse a tirar boas notas, poderia fazer faculdade em Los Angeles. Patrick se tornou meu orgulho e minha alegria.
MESMO QUE O AEROPORTO SUPERSÔNICO não parecesse mais tão promissor, e Franco e eu continuássemos a pagar as parcelas pelos 6 hectares de deserto, eu seguia acreditando que imóveis eram o melhor investimento. Muitos de nossos trabalhos envolviam a reforma de casas antigas, e isso foi muito revelador. Os donos nos pagavam 10 mil dólares para consertar uma casa que custara 200 mil, em seguida a vendiam por 300 mil. Era óbvio que havia dinheiro a se ganhar com isso.
Assim, economizei o máximo que consegui e comecei a procurar possibilidades de investimento. Dois dos fisiculturistas que tinham fugido da Tchecoslováquia para a Califórnia pouco antes de eu chegar haviam juntado as economias e comprado uma casinha para morar. Até aí, ótimo, mas eles ainda estavam pagando a hipoteca. Eu queria um investimento que rendesse dinheiro, para poder pagar a hipoteca com aluguéis em vez de ter que tirar do meu bolso. A maioria das pessoas que tinha dinheiro comprava uma casa. Na época, era muito raro adquirir um imóvel para locação.
Eu gostava da ideia de ser dono de um prédio de apartamentos. Podia me imaginar começando com um prédio pequeno, pegando o melhor imóvel para morar e pagando todas as despesas com o aluguel dos outros. Assim poderia aprender os macetes do negócio e, à medida que o investimento fosse dando lucro, teria condições de me expandir.
Ao longo dos dois ou três anos seguintes, me dediquei a pesquisar. Diariamente examinava o caderno de classificados de imóveis do jornal, estudava os preços, lia as matérias e os anúncios. Cheguei a ponto de conhecer cada quarteirão de Santa Monica. Sabia quanto subiam os preços das propriedades ao norte do Olympic Boulevard em comparação com aquelas ao norte do Wilshire e do Sunset. Sabia onde ficavam as escolas e os restaurantes e conhecia a distância dos imóveis em relação à praia.
Uma corretora maravilhosa chamada Olga Asat passou a me ajudar. Acho que ela era egípcia ou de algum outro país do Oriente Médio. Era mais velha, baixinha e parruda, tinha cabelos crespos e só usava preto, porque achava que essa cor a deixava mais magra. Você poderia olhar para alguém assim e pensar: “O que tenho a ver com essa pessoa?” Mas o que me atraiu foi o ser humano, o coração, o amor materno: Olga me considerava um companheiro, estrangeiro como ela, e torcia mesmo pelo meu sucesso. Ela era uma espoleta.
Acabamos trabalhando juntos por muitos anos. Depois de algum tempo, com a ajuda dela, eu já conhecia todos os prédios da cidade. Estava a par de todas as transações: quem vendia, a que preço, quanto o imóvel tinha se valorizado desde a última transação, se havia dívidas atreladas a ele, o custo anual de manutenção, a taxa de juros do empréstimo. Tive reuniões com proprietários e gerentes de banco. Olga fazia milagres. Ela tentava até não mais poder, e ia de prédio em prédio, sem descanso, até encontrarmos a oportunidade certa.
Eu de fato me identificava com a matemática do setor imobiliário. Sempre que visitava um prédio, perguntava qual era a metragem, se as unidades estavam livres, qual seria o custo de administração por metro quadrado, e logo calculava de cabeça quantas vezes a renda bruta anual do imóvel eu poderia oferecer enquanto pagava as parcelas do empréstimo. O corretor então me olhava de um jeito estranho, como quem se pergunta: “Como é que ele fez essa conta?”
Era um talento que eu tinha. Eu sacava um lápis e dizia:
– Não tenho como oferecer mais de 10 vezes o valor da renda bruta anual do imóvel, porque calculo que a despesa média de manutenção de um prédio assim seja 5%. Então esse percentual da renda bruta tem que ficar disponível. E a taxa de juros anual está em 6,1%, ou seja, o empréstimo vai custar tanto por ano. – E anotava tudo para o corretor.
A pessoa então retrucava:
– Bom, o senhor tem razão, mas não se esqueça de que o valor do imóvel vai subir. Talvez precise gastar um pouco de seus próprios recursos, mas não importa: no final das contas, o valor vai aumentar.
– Entendo – eu respondia –, mas nunca pago mais de 10 vezes o valor da renda bruta anual. Se o imóvel vier a se valorizar, isso vai ser o meu lucro.
Negócios interessantes começaram a surgir depois do embargo do petróleo do Oriente Médio em 1973 e do início da recessão. Olga ligava e dizia “Tal vendedor está com problemas financeiros”, ou “Eles se endividaram além da conta, acho que você deveria fazer uma oferta rápida”. No início de 1974, ela encontrou um prédio residencial de seis apartamentos na Rua 19, logo ao norte do Wiltshire Boulevard – o lado mais disputado daquela localidade. Os donos estavam se transferindo para um prédio maior e queriam vender depressa. Melhor ainda: as condições de compra do outro prédio eram tão boas que eles até se dispuseram a baixar o preço do antigo.
O prédio me custou 215 mil. Peguei cada dólar dos 27 mil que tinha economizado, mais 10 mil que Joe Weider me emprestou, para dar a entrada. Não era grande coisa: uma construção atarracada de dois andares, do início dos anos 1950, feita de madeira e tijolo. Mesmo assim, fiquei feliz com a compra quando Barbara e eu nos mudamos. O bairro era agradável, e os apartamentos, amplos e bem conservados. O meu era imenso, com 223 metros quadrados, uma varanda na frente, uma garagem com espaço para dois carros embaixo e um pequeno pátio nos fundos. Havia também outras vantagens: passei a alugar os outros apartamentos para pessoas do ramo do entretenimento. Atores que eu conhecia da academia viviam procurando lugar para morar, então em determinado momento houve quatro vivendo no prédio. Era uma forma de estabelecer relações no ramo para o qual eu queria entrar. O melhor de tudo foi que me mudei de um apartamento que me custava 1.300 dólares por mês de aluguel para um imóvel que se pagou desde o primeiro instante, exatamente como eu tinha planejado.