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Enquanto isso, Charles Gaines fazia amizades em Hollywood. Apresentou-me a Bob Rafelson, diretor de Cada um vive como quer, que havia comprado os direitos de filmagem de Stay Hungry, lançado no Brasil como O guarda-costas. Ao mesmo tempo que trabalhava com George no projeto do livro Pumping Iron, Charles também começou a colaborar com Rafelson no roteiro do filme. Eu o conheci quando Charles o levou para me ver malhar em Venice Beach. Toby, a mulher de Bob, foi junto e tirou várias fotos de mim e de Franco treinando. Ela adorou tudo aquilo.

Conhecer Bob Rafelson me fez entrar em um mundo totalmente diferente. Com ele vieram vários integrantes da “nova geração” de Hollywood: o ator Jack Nicholson e o diretor Roman Polanski, que estavam filmando Chinatown, e os atores Dennis Hopper e Peter Fonda, que tinham feito Sem destino com o produtor de Rafelson, Bert Schneider.

Gaines e Butler estavam pressionando Rafelson para me incluir no elenco de O guarda-costas. Havia um papel importante de um fisiculturista chamado Joe Santo. Rafelson não estava nem de longe convencido, mas me lembro de estar em minha casa certa noite, no início de 1974, e de ficar hipnotizado ao ouvi-lo falar sobre o que aquilo significaria para mim. “Se fizermos esse filme, quero que você saiba que vai ser um divisor de águas na sua vida. Lembra o que aconteceu com Jack quando ele fez Cada um vive como quer? E com Dennis Hopper e Peter Fonda depois de Sem destino? Todos eles viraram estrelas! Eu tenho um ótimo instinto para escolher pessoas, então, quando fizermos esse filme, ele vai mudar a sua vida. Você não vai poder ir a lugar nenhum sem que as pessoas o reconheçam.”

Fiquei extasiado, é claro. Um dos diretores da moda em Hollywood falando em me transformar em astro de cinema! Enquanto isso, Barbara, sentada ao meu lado no sofá, permanecia com o olhar perdido. Pude imaginar o que ela pensava. Que consequência aquilo teria para nossa relação? E para mim? Minha carreira estava me afastando dela. Barbara queria sossegar, queria que nos casássemos e que eu abrisse uma loja de produtos naturais. Ela podia ver uma imensa tempestade se aproximando.

É claro que seu instinto estava certo. Meu foco era treinar, atuar e garantir que Rafelson me contratasse, não me casar e formar família. Quando Bob foi embora, porém, eu pedi a Barbara que não se preocupasse com o papo dele, que era só coisa de quem tinha fumado um baseado.

Gostei de ser introduzido a um mundo de celebridades. A casa de Nicholson fazia parte de um “complexo” em Mulholland Drive e ele era vizinho de porta de Polanski, Warren Beatty e Marlon Brando. Eles convidavam a mim e outros fisiculturistas para festas, e às vezes iam ao meu prédio para fazermos churrascos no pequeno pátio dos fundos. Era hilário: os vizinhos que passavam na calçada não conseguiam acreditar quando viam quem estava lá. Ao mesmo tempo, eu dizia a mim mesmo para não me animar demais. Ainda não tinha chegado nem perto de fazer parte daquele universo. Àquela altura, eu era apenas um fã.

Estava entrando em contato com um mundo que não conhecia. Era bom conviver com aquelas pessoas, observá-las, ver como elas se comportavam e tomavam decisões, e ouvi-las falar sobre projetos de filmes, sobre a construção de suas casas e de casas na praia, ou sobre garotas. Eu perguntava sobre a arte de atuar e o segredo de se tornar protagonista. Nicholson e Beatty, claro, eram grandes defensores das técnicas de interpretação. Viviam falando sobre como se preparavam, quantas vezes ensaiavam uma cena e como conseguiam viver o momento e improvisar. Jack estava filmando Um estranho no ninho e falou sobre o desafio que era interpretar o paciente de um manicômio. Enquanto isso, Polanski, que dirigira Nicholson em Chinatown, falava sobre as diferenças entre se fazer um filme em Hollywood e na Europa: nos Estados Unidos havia mais oportunidades, mas os filmes obedeciam mais a fórmulas e eram menos artísticos. Ambos tinham imensa paixão pela profissão.

Pensei que talvez, mais para a frente, eu pudesse ter a chance de fazer filmes com eles em algum papel de coadjuvante. Mas o que mais pensava era: “Que promoção incrível para o fisiculturismo o fato de esse pessoal estar aceitando o esporte.”

MINHA CARREIRA EM HOLLYWOOD PODERIA jamais ter deslanchado se não fosse uma sucessão de acontecimentos que começou quando Franco e eu organizamos uma competição de fisiculturismo em Los Angeles naquele verão. Eu continuava decidido a ver o esporte se tornar popular. Ficava frustrado com o fato de os concursos nunca serem divulgados para o grande público. Isso me parecia totalmente errado. Afinal, o que tínhamos para esconder? As pessoas reclamavam que os jornalistas só escreviam coisas negativas sobre o fisiculturismo e que suas matérias eram idiotas. Bem, era verdade, mas algum de nós estava falando com a imprensa? Alguém havia explicado aos repórteres o que fazíamos? Então Franco e eu chegamos à conclusão de que, para que o fisiculturismo nos Estados Unidos um dia saísse da concha, nós mesmos teríamos de promovê-lo. Alugamos um grande auditório no centro e negociamos os direitos de organização da edição de 1974 do concurso Mister Internacional.

Havia pequenos indícios de que era a época certa para isso. Muitos atores estavam começando a malhar na Gold’s. Gary Busey era frequentador assíduo. Isaac Hayes, que havia ganhado um Oscar pela música-tema do filme Shaft, aparecia diariamente no seu Rolls-Royce para treinar. Até então, os únicos atores que malhavam em público eram aqueles que reforçavam o estereótipo gay relacionado ao fisiculturismo. Atores como Clint Eastwood e Charles Bronson eram musculosos e exibiam corpos incríveis na tela. Eles malhavam, mas em segredo. Sempre que alguém comentava sobre seus músculos, diziam: “Eu nasci assim.” Mas essa atitude estava começando a mudar, e a musculação aos poucos se tornava mais aceitável.

Outro sinal positivo era que mais mulheres estavam começando a aparecer na Gold’s – não para ficar “secando” os caras, mas querendo ingressar na academia. No início, isso não foi possível. Do ponto de vista prático, teria sido difícil para Joe Gold aceitar mulheres, porque só havia um vestiário. A verdade, porém, era que os homens ainda não estavam preparados para isso. O fisiculturismo era um universo masculino demais. A última coisa que alguém queria era ser cuidadoso com o que dizia na academia. Ouviam-se muitos palavrões e muitas conversas de homem. Eu disse a Joe que ele deveria aceitar mulheres. Tinha visto os benefícios disso em Munique: a presença de mulheres na academia nos fazia treinar mais pesado, ainda que tivéssemos de moderar um pouco o palavreado.

Algumas das mulheres que queriam entrar eram irmãs ou namoradas de fisiculturistas. Outras eram garotas que já malhavam na praia. Se uma mulher precisava treinar para um teste físico – para entrar para a polícia ou para o corpo de bombeiros, por exemplo –, Joe sempre lhe dava uma permissão especial. Ele dizia: “Venha às sete da manhã. A essa hora a academia está mais vazia e você pode malhar. É por conta da casa, não precisa pagar nada.”

Joe nunca tomava uma decisão sem o consentimento dos fisiculturistas. A academia devia ter música? O chão devia ser acarpetado? Ou será que isso estragaria o aspecto rústico? Aquela era uma academia rígida em seus princípios, frequentada por uma clientela igualmente rígida. Tivemos discussões intermináveis sobre a inclusão de mulheres. Por fim, decidimos liberar a inscrição, mas só para as mais duronas, que assinassem um termo cujo teor, na prática, era o seguinte: “Estou ciente de que haverá linguajar chulo, de que pesos cairão em cima de pés e de que haverá lesões. Estou ciente de que há apenas um vestiário, e usarei o da praia.” Eu queria que o fisiculturismo se abrisse totalmente para as mulheres, a ponto de haver campeonatos femininos. Mas aquilo pelo menos era um começo, e dava para ver que o interesse existia.