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Na nossa opinião, os concursos de fisiculturismo nunca eram grandes o suficiente – sempre os mesmos 500 ou mil espectadores – e pareciam muito desorganizados. Às vezes não havia música, ou o apresentador era ruim e a iluminação era precária. Ninguém ia nos receber no aeroporto. Era tudo errado. Havia exceções, como o concurso Mister Mundo em Columbus ou o Mister Universo em Londres, mas a maioria das competições era amadora. Fizemos uma lista de tudo o que queríamos mudar e começamos a dar telefonemas para pedir conselhos.

Franco e eu agendamos nossa competição para o dia 17 de agosto. O lugar que alugamos era um teatro antigo e grandioso de 2.300 lugares no centro de Los Angeles chamado Embassy Auditorium. Em seguida, contratamos uma relações-públicas, Shelley Selover, cujo escritório ficava em Venice. Quando fomos conversar com ela, duvido que ela sequer soubesse o que era fisiculturismo. No entanto, depois de fazer várias perguntas e de nos ouvir um pouco, concordou em nos representar. “Posso fazer algo com isso”, disse ela. Era um importante voto de confiança.

Shelley nos pôs imediatamente em contato com um repórter veterano da Sports Illustrated chamado Dick Johnston, que pegou um voo do Havaí, onde morava, para se familiarizar com nosso esporte. Antes do encontro, ela nos instruiu cuidadosamente. “Ele quer convencer o editor da revista de que fisiculturistas são atletas, atletas sérios, e fazer uma reportagem grande”, informou ela. “Acham que podem ajudá-lo com isso?” Portanto, cheguei para a entrevista com vários exemplos de como determinado atleta, se não tivesse escolhido o fisiculturismo, teria sido estrela do basquete, e de como um outro teria sido boxeador. Eles teriam sido atletas de qualquer maneira, mas o fisiculturismo era sua paixão, e era nessa modalidade que eles acreditavam que tinham mais potencial. Dick Johnston gostou da ideia e ficou de voltar a Los Angeles para cobrir nosso evento.

Franco e eu demos um duro danado para promover o concurso. Sabíamos que jamais conseguiríamos fechar as contas só com a venda dos ingressos. Tínhamos que comprar as passagens para trazer fisiculturistas do mundo inteiro e precisávamos pagar os jurados, o aluguel do teatro, a publicidade e as ações promocionais. Então começamos a procurar patrocinadores. Isaac Hayes sugeriu que conversássemos com o grande boxeador Sugar Ray Robinson, seu amigo, que era dono de uma fundação. “Ele vai gostar da ideia”, disse Hayes. “Sua fundação é para pessoas realmente sem recursos, entendeu? Ele dá dinheiro para crianças carentes e minorias. Então você só precisa explicar que, como é um fisiculturista austríaco na Califórnia, você é uma minoria!” Franco e eu achamos bastante engraçado o fato de sermos minorias. Meu amigo ficou entusiasmado com a perspectiva de conhecer um dos maiores boxeadores de todos os tempos. Eu também fiquei animado: lembrava-me de ter visto Robinson nos noticiários quando era pequeno. Em 1974, já fazia quase 10 anos que ele tinha se aposentado do boxe.

Quando chegamos à sua fundação, a sala de espera estava lotada. Pensei em todas as pessoas que deviam estar lhe pedindo dinheiro e em quanto ele, um ex-campeão, era generoso por estar gastando seu tempo com aquele trabalho.

Nossa vez finalmente chegou. Sugar Ray nos recebeu em sua sala e foi muito caloroso. Estávamos tão impressionados que, nos primeiros segundos, sequer ouvimos o que ele falou. Ele não estava com pressa e ouviu nosso pedido de financiamento para comprar os troféus para nosso evento. No final, começou a rir. Aquilo era muito estranho: dois estrangeiros tentando promover um campeonato internacional de fisiculturismo em Los Angeles. Ele nos deu 2.800 dólares – um bom dinheiro na época. Saímos de lá e compramos uns troféus bem bacanas, com plaquinhas que diziam “Doado pela Fundação Sugar Ray Robinson para Jovens”.

Descobrimos que na verdade as pessoas não tinham uma imagem negativa do fisiculturismo. Elas tinham a mente aberta, mas ninguém lhes dizia nada. Estávamos nos Estados Unidos, um país receptivo, pronto para aprender algo novo. Nossa abordagem foi educar as pessoas. Eu tinha a personalidade certa para isso. Sabia que as matérias de Gaines tinham sido bem recebidas. Nosso lema era “Apresentação é tudo”.

À medida que a disputa do Mister Internacional se aproximava, espalhamos nossos cartazes com a chamada “O maior show de músculos de todos os tempos” pelas Associações Cristãs de Moços e pelos pontos de encontro da cidade. O cartaz tinha fotos minhas (cinco vezes Mister Universo, quatro vezes Mister Olympia), de Franco (Mister Universo, Mister Mundo), de Frank Zane (Mister América, Mister Universo), de Lou Ferrigno (Mister América, Mister Universo), de Serge Nubret (a maior estrela do fisiculturismo europeu) e de Ken Waller (Mister América, Mister Mundo).

Para meu assombro, Shelley não apenas conseguiu que vários jornais nos entrevistassem como também deu um jeito de fazer com que eu fosse convidado para programas de entrevistas transmitidos no país inteiro como The Merv Griffin Show, The Tonight Show e The Mike Douglas Show. Foi então que percebemos que estávamos certos: havia mesmo um interesse pelo assunto; não era só nossa imaginação.

Naturalmente, por causa da imagem estereotipada dos fisiculturistas, ninguém me deixaria ir ao ar sem fazer uma pré-entrevista. Eu chegava aos estúdios à tarde, horas antes dos programas, para os produtores verem se aquele fortão sabia abrir a boca e dizer coisa com coisa. Então eu conversava com o pré-entrevistador, que, depois de algum tempo, comentava:

– Que ótimo! Você acha que consegue dizer isso tudo quando estiver sob pressão, diante de uma plateia?

E eu respondia:

– Bem, o interessante é que eu não vejo a plateia. Fico tão envolvido que não vejo ninguém. Então não se preocupe: eu consigo esquecer que o público está lá.

– Ótimo, ótimo.

O primeiro programa de que participei foi o de Merv Griffin. O apresentador convidado naquele dia era o humorista Shecky Greene. Eu me sentei, falamos algumas amenidades e então Shecky passou alguns segundos calado, apenas olhando para mim. Por fim, exclamou: “Não acredito! Você fala!” O comentário rendeu boas risadas.

Quando alguém nivela a situação tão por baixo assim, é impossível errar. Shecky não parou de me elogiar. Ele era muito engraçado e, consequentemente, me tornou engraçado também. A entrevista foi uma promoção não apenas para mim, mas também para o fisiculturismo nos Estados Unidos de forma geraclass="underline" os espectadores puderam ver um fisiculturista que tinha um aspecto normal quando estava vestido, que sabia falar, que tinha um passado interessante e uma história para contar. De repente, o esporte adquiriu um rosto e uma personalidade, o que levou as pessoas a pensar: “Não tinha percebido que esses caras eram divertidos! Eles não são estranhos, são ótimos!” Também fiquei feliz por conseguir promover o concurso Mister Internacional.

Franco e eu estávamos bastante nervosos com o evento, sobretudo depois de conversar com George Eiferman, um dos muitos ex-campeões de fisiculturismo que tínhamos convidado para ser jurado. George era um representante do esporte já de certa idade (vencera o Mister América em 1948 e o Mister Olympia em 1962) que agora tinha uma rede de academias em Las Vegas. Uma semana antes da disputa, ele foi nos visitar para dar alguns conselhos. Encontrou-se comigo, com Franco e com Artie Zeller na Zucky’s.

– Agora se certifiquem de que têm tudo o que precisam – disse ele.

– Como assim? – perguntei.