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– Mas por que você está dizendo isso?

– Pois é! – acrescentou o rapaz de Yale, atordoado. – Discordo totalmente. Você seria uma excelente testemunha para o governo. Por que está pensando o contrário?

Deixei escapar um profundo suspiro.

– Por uma série de razões, Nick, e a não menos importante é o fato de que estou bem no topo da cadeia alimentar. Qualquer pessoa que eu denunciar estará numa posição mais baixa que a minha. Sem falar que a maioria das pessoas nas quais o governo poderia estar interessado são meus melhores amigos. Por isso, me digam, como diabos vocês acham que eu poderia delatar meus melhores amigos e manter pelo menos um grama de respeito próprio? Eu não seria capaz de andar por Long Island com a cabeça erguida. Eu seria um leproso – fiz uma pausa, balançando a cabeça em desespero. – E se eu decidir cooperar, vou ter de dizer a verdade sobre todos os meus crimes, contar tudo a eles, não é assim?

Ambos concordaram.

Eu disse:

– Foi o que pensei. Então, quer dizer que basicamente estarei confessando ser culpado de todos os negócios que fiz, o que significa que minha multa vai ser enorme. Vão tirar tudo de mim – o que também significaria dar tchauzinho pra Duquesa – e eu teria de recomeçar do zero. Não acho que eu possa lidar com isso agora. Tenho uma esposa e dois filhos em quem pensar. Quer dizer, o que é melhor? Passar quatro anos na cadeia, enquanto minha família vive no luxo, ou passar um ano na prisão, enquanto minha família se pergunta de onde virá sua próxima refeição?

– Calma, não é uma coisa assim tão simples e direta – replicou Magnum. – Quer dizer, sim, definitivamente você vai se declarar culpado de tudo. É assim que as coisas funcionam quando se passa a cooperar com o governo. Mas não, você não vai ficar absolutamente sem nada. O governo vai lhe deixar com alguma coisa para seu sustento, talvez algo como 1 milhão de dólares, por aí. Mas todo o restante vai embora: as casas, os carros, as contas bancárias, sua carteira de ações, tudo!

Houve alguns momentos de silêncio. Então, Nick disse, com grande fervor:

– Mas você é um cara novo, Jordan. E ainda é um dos caras mais inteligentes que já conheci na vida! – afirmando isso, sorriu tristemente. – Você vai reconstruir sua vida. Memorize minhas palavras, você vai refazer sua fortuna. Um dia vai voltar ao topo novamente, e ninguém em sã consciência apostaria contra você.

– Ele está certo – acrescentou Greg. – Se você acha que este é o fim para você, está seriamente enganado, meu amigo. Este é o começo. É hora de começar sua vida de novo. Você é um vencedor. Nunca se esqueça disso. – Ele fez uma pausa por um breve instante. – Sim, você cometeu alguns erros ao longo do caminho, alguns erros absurdos. Mas isso não desmente o fato de que você é um vencedor. Da próxima vez, fará as coisas direito. Estará mais velho e mais sábio, irá construir sua vida em bases mais sólidas do que alicerces de areia. E então ninguém será capaz de tirar isso de você. Ninguém.

Ele acenou com a cabeça lenta e sabiamente.

– Quanto a delatar seus amigos, bem… Eu não ficaria tão preocupado. Se isso acontecesse com qualquer um deles e os papéis estivessem trocados, pode acreditar, cada um deles se voltaria contra você. Neste exato momento, o que você precisa fazer é o melhor para si e para sua família. É só isso que importa. Esqueça o resto do mundo, porque certamente eles vão se esquecer de você – disse Magnum, que de repente adotou um tom nostálgico. – Sabe, a gente costumava usar um ditado na Procuradoria: os italianos cantam na Mulberry Street e os judeus cantam na Court Street*. Em outras palavras, as pessoas ligadas à máfia não cooperam, elas não “cantam” sobre quem são os outros mafiosos. Mas isso é tudo um monte de merda agora. Com a RICO*, as penas agora começam em 20 anos de prisão e vão daí para cima. Por isso, os mafiosos começaram a cantar também. Os judeus cantam, os italianos cantam, os irlandeses cantam, todo mundo canta.

Ele deu de ombros.

– Seja como for, o maior problema que vejo em sua cooperação se chama Joel Cohen, o promotor assistente do seu caso – ele soltou um grande suspiro. Então, como se fosse uma batida em staccato, disse: – Joel Cohen é um sujeito em quem não se pode confiar. Vou repetir: não se pode confiar nele. É um ovo podre no cesto.

Foi nesse momento que Nick entrou na conversa:

– Greg tem razão no que está dizendo. Já passamos por experiências ruins com esse Joel no passado. Veja bem, a forma como as coisas funcionam quando você coopera é a seguinte: o promotor assistente deve escrever uma carta ao juiz atestando quanto você tem sido útil nas investigações e como tem sido uma ótima testemunha, e assim por diante. Então, de acordo com a lei, Joel terá de escrever a carta, mas é aqui que as coisas ficam um pouco complicadas. O conteúdo da carta depende exclusivamente dele, ou seja, se ele quiser ferrar com você, poderá pintar a carta em tons bem negativos para seu lado. E então você estaria numa merda total…

– Bem, foda-se! – murmurei. – Parece que um desastre se aproxima, caralho – balancei a cabeça em espanto. – E, sem querer ofender, mas não preciso que vocês dois fiquem aí me contando como esse Joel é idiota. Eu poderia dizer isso só de olhar para a cara dele. Quer dizer, vocês não viram como ele foi desprezível na audiência preliminar de fiança? Se dependesse dele, eles iriam me pregar na cruz!

– Mas não depende dele – argumentou Magnum. – Na verdade, provavelmente nem será Joel a escrever sua carta quando chegar a hora. Veja bem, se você cooperar, o processo vai se arrastar por uns quatro ou cinco anos, e você não receberá sua pena até que sua cooperação esteja completa. Há uma grande chance de que Joel já tenha saído do gabinete a essa altura, ingressando em nossas humildes fileiras, dos advogados de defesa.

Passamos os minutos seguintes debatendo os prós e os contras de minha eventual cooperação com o governo, e quanto mais eu aprendia sobre isso, menos me parecia atraente. Ninguém estaria a salvo, fora de perigo; eu seria forçado a delatar todos os meus velhos amigos. A única exceção seria meu pai, que tinha sido Diretor Financeiro da Stratton (ele não tinha feito nada ilegal, de qualquer forma), e minha assistente de longa data, Janet1 (que tinha feito coisas ilegais, mas que estava tão lá embaixo na pirâmide que ninguém se importaria com ela). Greg me garantiu que conseguiria “passe livre” para os dois.

O que mais me incomodava, porém, era a ideia de delatar meu antigo sócio, Danny Porush, que havia sido indiciado junto comigo e ainda estava na prisão, tentando conseguir fiança. E havia também meu melhor e mais antigo amigo, Alan Lipsky. Ele também estava sendo acusado, embora seu processo fosse apenas parcialmente relacionado com o meu. Nós éramos melhores amigos desde que usávamos fraldas. Ele era mais meu irmão que meu próprio irmão.

Exatamente nesse instante, soou um barulho insolente do telefone de Greg. A secretária disse de maneira bem casuaclass="underline"

– Joel Cohen está na linha um. Você vai atender ou devo dizer que retornamos mais tarde?

Naquele exato momento, dentro da sala de canto da firma de advocacia De Feis O’Connel & Rose, no 26º andar do edifício, você poderia ouvir um alfinete caindo ao chão. Nós três ficamos apenas sentados ali, um olhando para a cara do outro, boquiabertos.

Eu fui o primeiro a falar:

– Esse traidor filho da puta! Ele já está substituindo as acusações! Puta merda! Puta merda do caralho!

Magnum e o homem de Yale concordaram com a cabeça. Então Magnum colocou o dedo indicador nos lábios, dizendo um rápido “Psssst!”, e pegou o telefone.

– Oi, Joel, e aí?… Ahã, ahã… Certo. Bem, acontece que estou com sua pessoa favorita sentada bem aqui a minha frente neste exato instante… Certo, é isso mesmo. Estávamos por acaso conversando sobre o flagrante ato disfuncional da Justiça que é essa coisa toda – Greg me deu uma piscadela confiante e, em seguida, recostou-se na poltrona, começando a balançar. Ele era um guerreiro poderoso, pronto para assumir o controle sobre aquele insolente Joel Cohen. Magnum poderia esmagá-lo com um só golpe. – Ahã… Ahã… – continuou Magnum, balançando para a frente e para trás na poltrona. – Ahã… Ahã… – então, de repente, seu rosto demonstrou surpresa e ele parou de se balançar em seu fabuloso trono de couro preto, como se o dedo de Deus tivesse acabado de descer sobre sua cabeça. Meu coração perdeu uma batida antes de Magnum falar. – Ei, ei, ei, calma aí, Joel. Devagar. Não faça nada precipitado. Você não pode estar falando sério sobre isso… Ela não é do tipo de… Ahã… Ahã… Bem, vou conversar com ele sobre isso. Mas não faça nada até eu retornar. Certo?