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Em meados de novembro, Alonso finalmente concordou em fazer uma nova tentativa diante de Gleeson. O único problema era que ele precisava obter autorização do novo chefe da divisão criminal, um homem chamado Ken Breen (Ron White havia mudado de lado, tornando-se um advogado de defesa). Breen estava em julgamento e não poderia ser perturbado.

Isso não fazia sentido para mim; afinal, Magnum não iria levar mais que 15 minutos para fazer uma apresentação para Ken Breen. Bo havia assegurado todos os depoimentos necessários e estava muito claro que a única coisa da qual eu deveria ser acusado era burrice. Eu disse a Magnum:

– Não me interessa o quanto ele está ocupado, eles sempre têm 15 minutos de sobra para algo importante.

Magnum explicou que era uma questão de protocolo. Quando um promotor vai a julgamento, é como um lutador entrando no ringue, e entre os assaltos ele não fala com seu melhor amigo. Tudo com que ele se preocupa é em derrubar o outro boxeador.

Assim, a possibilidade de eu estar em casa no dia de Ação de Graças desapareceu como um peido no vento. Por sorte, eu não tinha realmente esperado que isso acontecesse, então não me decepcionei muito. Sim, teria sido bom, claro, mas tinha sido uma perspectiva tão distante que eu não fora tolo o suficiente para alimentar minhas esperanças.

Como eu descobri rapidamente, as expectativas podem ser tanto seu melhor amigo como seu pior pesadelo quando você está atrás das grades. Um homem encarando 20 anos de prisão se apoia na esperança de ganhar uma redução da pena; quando ele perde essa apelação, ele se apoia na esperança da liberdade condicional; e quando ele perde isso também, e sua vida parece totalmente inútil e não vale mais a pena viver, ele encontra Jesus.

Eu caí em uma categoria única de quem ficaria ali por um tempo ultracurto, um detento cuja presença seria medida por questão de meses. No pior dos casos, Magnum assegurou-me, Gleeson me deixaria sair na primavera, simplesmente por misericórdia. No entanto, se a gente colocasse nossa moção para um pouco antes do Natal, ele não conseguia imaginar que John pudesse negar isso. Ele era um homem misericordioso, garantiu Magnum, e estaria disposto a me dar uma segunda chance.

Que assim seja, pensei. Eu teria de passar o dia de Ação de Graças na prisão. Disquei para Old Brookville na manhã de terça-feira da semana de Ação de Graças. A data era 23 de novembro. Como sempre, disquei os números com um sorriso no rosto, ansioso, mais que tudo, por ouvir a voz de meus filhos. Infelizmente, no segundo toque, eu ouvi: “Sinto muito, o número que foi chamado foi desconectado. Se você chegou a esta gravação por engano, por favor, desligue o telefone e tente novamente. Não existe mais nenhuma informação disponível”.

No começo, não desliguei o telefone. Fiquei com ele pressionado em meu ouvido. Eu estava simplesmente surpreso demais para me mexer. Enquanto meu cérebro procurava desesperadamente por respostas, meus instintos não precisavam fazer isso: meus filhos tinham se mudado para a Califórnia.

Dois dias depois, não foi nenhuma surpresa quando a Duquesa ligou para meus pais e deixou as novas informações de contato na secretária eletrônica deles, e tanto o código de área quanto o código postal pertenciam a Beverly Hills.

Sem perder a calma, anotei ambos. Então desliguei o telefone e fui para o fim da fila. Como havia sete pessoas na minha frente, eu tinha tempo para pensar, descobrir a sequência precisa de palavrões a pronunciar, as ameaças apropriadas a fazer e qualquer outra coisa que um homem na minha posição poderia dizer, quer dizer, um homem que não tinha poder sobre coisa alguma nem sobre ninguém, incluindo ele mesmo.

Eu iria chamá-la de puta e acusá-la de querer dar o golpe do baú e... Mas a quem eu estava enganando? Se eu a chamasse de qualquer dessas coisas, ela digitaria o 7-7 e cortaria todas as comunicações por telefone! Sem mencionar que poderia arrancar minhas cartas da caixa de correspondência e cortar toda a comunicação escrita também. Minha completa falta de poder estava começando a me irritar! Contudo, o que mais me enfureceu foi que, no fundo, eu sabia que ela estava certa.

Quer dizer, o que ela poderia fazer? Eu estava na cadeia e o dinheiro estava acabando. A Duquesa tinha contas a pagar, filhos para criar e o teto sobre a cabeça dela estava prestes a ser confiscado. E lá estava John Macaluso na ponte, como um cavaleiro de armadura brilhante. O cara tinha dinheiro, uma mansão e, por coincidência, era um sujeito pra lá de legal. Ele iria apoiá-la, cuidar dela e amá-la.

E ele iria cuidar das crianças.

Falando nisso, e elas? O que seria melhor para elas? Deveriam crescer em Long Island, sob a sombra escura de meu legado? Ou seria melhor para elas ter um novo começo na Califórnia? Claro, o lugar de meus filhos era perto de mim. Disso eu tinha certeza. Mas a que lugar eu pertencia? O que era melhor para mim?

Tendo tão pouca escolha, fiz o que eu não tinha dúvida de que muitos homens com a infelicidade de ser um prisioneiro na Cela 7N fizeram antes de mim: voltei para a cama e puxei as cobertas sobre a cabeça.

E então eu chorei.

CAPÍTULO 26

UMA NOVA MISSÃO

Finalmente, a liberdade!

Ar fresco! Ar livre! O céu azul sobre mim! A bola alaranjada do sol! As fases gloriosas da lua! O doce perfume das flores frescas! E o perfume ainda mais doce da perereca soviética! E pensar que eu não dava o devido valor a essas coisas! Como eu era tolo! Os simples prazeres da vida sempre foram os mais importantes, não é mesmo? Eu tinha sido enviado para o inferno e sobrevivido.

Foi assim que saí do Centro de Detenção Metropolitano, numa manhã fria de segunda-feira, com um sorriso no rosto e um sobressalto no coração – e com todos os aspectos de minha vida totalmente em frangalhos.

Muita coisa pode mudar em quatro meses e, em meu caso, era isso que tinha acontecido: meus filhos estavam morando na Califórnia; Meadow Lane estava nas mãos do governo, meus móveis, num depósito, meu dinheiro, se esgotando e, para piorar tudo, eu usava uma tornozeleira com restrições tão draconianas que eu não podia nem mesmo sair de casa, a não ser para ir ao médico.

Eu tinha alugado um apartamento duplex que se espalhava pelo 52o e 53o andares do Edifício Galleria, uma ultraluxuosa torre de vidro e concreto que se erguia na Park Avenue com a Rua 57, em Manhattan (Por que não ficar preso com estilo?, pensei).

O edifício era um refúgio de luxo para o lixo da Europa, das duas variedades, oriental e ocidental. Do Oeste, eles vinham de lugares como Roma, Genebra e da Gay Parrrris; e do Leste, vinham dos países que formavam o antigo bloco soviético, a maioria mafiosos, que também mantinham casas em Moscou ou São Petersburgo quando não estavam em fuga. Não surpreendentemente, KGB encaixou-se perfeitamente ali, e um de seus amigos russos tinha sido gentil o suficiente para nos alugar o fabuloso apartamento.

Foi no começo de dezembro que Magnum me perguntou para qual endereço eu queria ser liberado assim que Gleeson tivesse aprovado a aplicação da fiança. Meadow Lane não servia mais, ele explicou, porque seu confisco seria executado no final daquele ano.

Dada a atual situação, minhas opções eram poucas: comprar uma casa seria ridículo, ficar em Southampton seria ainda mais ridículo. Com as crianças vivendo em Beverly Hills e o coração da KGB pertencendo a Manhattan, não havia nenhum sentido em morar no meio do nada. Além disso, eu precisava ficar perto do escritório da Procuradoria, porque, para minha decepção, o Chef tinha se recusado a cooperar e estava ameaçando levar seu caso a julgamento; se ele realmente fizesse isso, eu iria passar muitas noites queimando as pestanas me preparando no Gabinete do Procurador.