Qualquer que fosse o caso, Igor gostava de beber, embora, de acordo com ele, estivesse simplesmente limpando seu fígado da forma russa, ou seja, com vodca.
Sim, não havia como negar que Igor fosse inteligente, bem como muito ambicioso. Mais que qualquer outra coisa, tive a nítida impressão de que o que ele realmente desejava era possuir a arma do juízo final, para que o mundo todo fosse seu refém. E por qual motivo? Não por dinheiro ou poder, nem mesmo pelo sexo! Tudo o que Igor queria é que todo mundo calasse a boca e concordasse com ele.
Era um pouco depois das 8 da noite e decidimos celebrar o Ano Novo na longa mesa de jantar de 6 metros que, como o resto dos móveis, era grande, solene e revestida de laca preta italiana. A sala de jantar era grudada à sala de estar e as duas tinham a mesma vista espetacular de Manhattan. Àquela hora da noite, as luzes da cidade se elevavam para nós em uma deslumbrante exibição.
Apesar de eu ser teoricamente o dono da casa, Igor parecia determinado a ser o centro das atenções naquela noite, enquanto Chandler, Carter e eu – todos usando chapéus iluminados de Ano Novo no formato de chapéu de burro da escola – fingíamos ouvi-lo. KGB usava um deles também, mas ela estava se dependurando em cada palavra dita por Igor. Era repugnante.
Do outro lado da mesa de jantar, Igor disse-me:
– En-ten-da! Eu, com um estalar de dedos – e ele estalou o dedo, enquanto Chandler e Carter olhavam confusos –, posso fazer fogo impossível.
KGB entrou na conversa.
– Ele pode, eu já vi isso.
Foi a vez de Chandler:
– Você devia chamar Smokey, o urso.
E depois, a minha vez:
– Ela está certa, Igor. O urso Smokey iria cair matando em cima de você se soubesse que pode fazer o fogo impossível.
Carter disse:
– Por que seu nome é Igor? É nome de monstro.
KGB, que tinha feito uma espécie de conexão com Carter por causa do Crash Bandicoot, disse:
– Igor é como Gary. É nome russo.
Carter deu de ombros, sem se impressionar.
Igor perguntou a Chandler:
– Quem é esse urso Smokey de quem você fala?
– Ele é um urso que luta para acabar com os incêndios florestais – respondeu ela, alegremente. – Passa na TV.
Igor balançou a cabeça, compreensivo. Em seguida, levantou uma taça de conhaque Baccarat de 250 dólares, encheu até o topo de vodca Stolichnaya e bebeu como se fosse água. Então colocou a taça de boca para baixo com um baque.
– Vocês têm que entender! – declarou. – O fogo não pode existir sem oxigênio. Então, aquele que controlar o oxigênio controla o fogo.
Depois de alguns instantes de silêncio, Chandler pegou um apito, prendeu-o na boca, olhou para Igor e soprou tão forte quanto pôde. Igor apertou a mandíbula e cerrou os dentes. Então ele se serviu de outra dose de vodca e bebeu.
Mais tarde, antes de ir embora, Igor prometeu me dar uma demonstração de suas habilidades de controle de fogo, mas não naquele momento. Primeiro ele precisava me conhecer melhor, depois ele provaria o que estava dizendo. E foi assim que a noite de Ano Novo terminou.
NA MANHÃ SEGUINTE, os problemas começaram quando chegou a hora de dizer adeus. Na verdade, eu tinha planejado ter uma conversa em particular com cada um de meus filhos antes que eles fossem embora, mas eu simplesmente não conseguia encontrar as palavras. Carter, pensei, seria o mais fácil, sua idade, seu sexo, sua composição genética... Não sei por qual razão, mas as coisas pareciam deslizar para longe de seus ombros sem efeitos nocivos.
Chandler, naturalmente, era o oposto. Ela era uma garotinha complicada, bastante esperta para sua idade. Eu sabia que me despedir dela seria muito difícil e que lágrimas seriam derramadas. O que eu não contara, porém, fora a quantidade.
Eu a encontrei lá em cima, em seu quarto, sozinha. Ela estava deitada de bruços na cama, seu nariz pressionado profundamente contra o edredom rosa. Ao contrário de quando chegou, quando ela tinha se vestido toda caprichada para o papai, estava agora com uma roupa mais prática, com um moletom com capuz rosa.
Com o coração apertado, sentei-me na beira da cama, estiquei a mão para debaixo de sua camiseta e comecei a acariciar suas costas suavemente.
– O que há de errado, gatinha? Gwynnie me disse que você não está se sentindo bem.
Ela assentiu com a cabeça sem falar, o rosto ainda pressionado no edredom.
Eu continuei esfregando suas costas.
– Você está muito doente para viajar de avião?
Ela assentiu com a cabeça da mesma maneira, com um pouco mais de força.
– Ah, entendi – disse, com ar sério. – Você está com febre?
Ela encolheu os ombros.
– Posso sentir sua testa?
Ela encolheu os ombros novamente.
Parei de esfregar suas costas e coloquei a palma da mão contra sua testa. Ela estava fria.
– Bem, parece normal, gatinha. Tem alguma coisa doendo?
– Minha barriga – murmurou ela, no tom de um enfermo.
Eu sorri por dentro.
– Ohhhh, sua barriga. Entendi. Bem, por que não se vira para que eu possa fazer uma massagem, hein?
Ela balançou a cabeça negativamente.
Eu coloquei as mãos em seus ombros e, com muito cuidado, virei-a suavemente.
– Venha aqui, querida, deixe-me dar uma olhada em você – coloquei seus cabelos para trás e fiquei um momento olhando para ela.
O que eu vi, jamais irei esquecer: o rosto totalmente angustiado de minha filha, os olhos vermelhos e inchados, o lábio inferior ainda tremendo. Ela estava chorando em seu travesseiro porque não queria que eu visse.
Lutando contra minhas próprias lágrimas, sussurrei:
– Ah, Channy, está tudo bem. Por favor, não chore, meu amor. Papai te ama e sempre vai amar.
Ela apertou os lábios em uma linha firme e balançou a cabeça rapidamente, tentando lutar contra as lágrimas. Mas foi inútil. Pequenos fios de lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Foi quando perdi o controle.
– Ah, Deus – disse eu, suavemente. – Eu sinto muito, Channy.
Eu a agarrei com força e segurei-a perto de mim.
– Eu sinto muito, muito. Você não tem nenhuma ideia, a culpa é toda minha. Por favor, não chore, querida.
Desabei totalmente, incapaz de dizer mais uma palavra. Depois de alguns segundos, ouvi a vozinha dela:
– Não chore, papai, eu ainda te amo. Desculpe por fazer você chorar – e então ela rompeu o choro, tremendo incontrolavelmente em meus braços.
Nós dois choramos deitados sobre o edredom, pai e filha, agarrados um nos braços do outro. Eu me senti como o maior perdedor do mundo, a advertência final do que pode acontecer na vida de um homem. Eu nasci com todos os dons, todas as vantagens. Eu poderia ter tido o que quisesse, mas destruí tudo. Minha própria ganância e meus excessos tinham tirado tudo de mim.
Depois de alguns minutos, eu estava finalmente apto a me recompor. E disse:
– Ouça-me, Chandler. Precisamos ser fortes um para o outro. Nós podemos passar por isso, prometo a você! Um dia ficaremos juntos de novo o tempo todo. Eu lhe prometo isso, Channy, do fundo de meu coração!
Com minúsculos soluços, ela respondeu:
– Volte para a Califórnia comigo, papai, por favor, volte. Eu vou morar com você lá.
Balancei a cabeça, triste.
– Não posso, querida. Por mais que eu queira, não posso.
Ela começou a soluçar de novo.
– Por que não? Eu queria que fosse como era antes!
Abracei-a gentilmente, rangendo os dentes e balançando a cabeça com raiva. Eu tinha que fazer isso certo de alguma forma. Não havia nenhuma maneira de eu permitir que meus filhos crescessem sem mim. Eu ia descobrir um jeito de me mudar para a Califórnia. Essa seria minha única missão na vida, nada mais.
Respirei fundo e me fortaleci.
– Ouça, Chandler, eu quero dizer uma coisa.
Ela olhou para cima.
Limpei as lágrimas de suas bochechas com as costas de minha mão.
– Tudo bem, querida, muito do que vou dizer talvez não faça sentido para você agora, mas um dia vai fazer, quando você crescer mais um pouco. – Fiz uma pausa e balancei a cabeça, perguntando-me se não seria melhor que ela nunca soubesse o vigarista que eu tinha sido. – Muito tempo atrás, fiz algumas coisas erradas na minha empresa, que foram muito ruins, e por causa disso as pessoas perderam dinheiro. Foi onde eu estava nos últimos meses: estava ocupado pagando a elas. Você entendeu?