– Sim – respondeu ela, suavemente. – Mas por que você não pode se mudar para a Califórnia agora?
– Porque ainda não acabei de pagar. Ainda vai levar algum tempo, querida, porque foi muita gente que perdeu dinheiro.
– Eu tenho 12 dólares em meu cofrinho. Isso ajuda?
Eu sorri e a acariciei.
– Guarde esse dinheiro. Eu vou pagar as pessoas com meu próprio dinheiro. Mas ouça uma coisa, Channy, porque vou lhe fazer uma grande promessa agora. Você está pronta?
– Sim – murmurou.
– Tudo bem: eu prometo a você que, não importa o que aconteça, não importa o que eu tenha de fazer, mesmo se eu tiver que andar até lá... Eu vou me mudar para a Califórnia. Você tem a minha palavra.
Seu sorriso iluminou o quarto.
– E quando vai ser isso?
Sorri em resposta.
– Assim que eu puder, gatinha. Mas você vai precisar de um pouco de paciência. Mas prometo que vou para lá.
Ela sorriu e acenou com a cabeça ansiosamente.
– Tudo bem, papai.
– E não precisa mais chorar, hein? – acrescentei com um sorriso.
– Tudo bem – disse ela, me abraçando. – Eu te amo, papai.
– Eu também te amo – respondi rapidamente, e, por mais estranho que parecesse, apesar de todas as chances se empilharem tão fortemente contra mim, eu sabia que ia concretizar meu objetivo.
CAPÍTULO 27
A PALAVRA DA MODA É IRONIA
Na manhã seguinte, eu estava deitado na cama assistindo ao Financial News Network quando uma âncora loira falou algo sobre a NASDAQ ter aberto com “forte queda” naquela manhã. Parece que havia um maciço desequilíbrio com um infeliz viés para o lado da venda.
Não é grande coisa, pensei. A loira provavelmente está exagerando e, mesmo se ela não estiver, não importa de qualquer maneira. Afinal, os mercados sobem e descem, e um corretor experiente pode ganhar dinheiro em qualquer mercado.
Meu plano era infalíveclass="underline" com os 250 mil dólares que eu ainda tinha, iria negociar as ações mais altas da NASDAQ com a precisão do Lobo e faria uma pequena fortuna no processo. A NASDAQ tinha mais que duplicado nos últimos 12 meses, e quem melhor que o próprio Lobo para aproveitar a maior bolha especulativa desde 1929? Seria como tirar doce da boca de uma criança.
Infelizmente, o destino tinha planos diferentes.
Por volta das 9h30 da manhã, a NASDAQ tinha caído mais de 4% e, dois dias depois, caiu outros 5%. No Dia da Mentira, tinha perdido mais de 20%, e eu não estava com sorte. A bolha pontocom tinha finalmente estourado e continuaria a esvaziar, a uma taxa imprevisível, por um futuro previsível. E, sim, embora fosse verdade que um profissional experiente poderia ganhar dinheiro em qualquer mercado, ele não poderia fazê-lo com recursos limitados, para não ser eliminado com um único negócio malfeito. Então abandonei meu plano infalível antes de começá-lo.
KGB e eu tínhamos nos dado bem enquanto eu estivera “sentado na cadeia”, como ela havia se expressado, mas agora que estava fora as coisas tinham ficado mais tênues. Naturalmente, o sexo ainda era ótimo, mas nossas conversas eram mínimas. Na terceira semana de abril, eu estava certo de que não tínhamos futuro juntos. Isso era óbvio; na verdade, não tão óbvio, já que no dia 17 de abril, dia do aniversário da KGB, fiquei de joelhos e a pedi em casamento. Com o coração apertado, disse:
– Quer se casar comigo, maya lubimaya, e ser minha terceira esposa legalmente? – o que eu não disse, mas sabia que seria verdade, foi: “Você promete me torturar, me deixar louco e garantir que eu permaneça o homem mais miserável do planeta até que a morte nos separe?”.
Como ela não era capaz de ler meus pensamentos, respondeu depressa:
– Da, maya lubimaya, eu vou ser esposa – e então eu enfiei em seu dedo anelar soviético um diamante amarelo canário de 7 quilates engastado em um anel de platina e fiquei olhando por um momento. Ah, era lindo, tudo bem, e também muito familiar; de fato, era o anel de noivado da Duquesa, que eu tinha conseguido manter comigo durante a divisão das posses.
Seria má sorte?, me perguntei. Quer dizer, não era todo dia que um homem perguntava a uma mulher se ela queria ser sua terceira esposa e então colocava no dedo dela o anel de seu último casamento fracassado como sinal de amor, afeto e compromisso com ela. Ainda assim, eu tinha minhas razões, não sendo a última delas o fato de eu não ter bem certeza do que dar a ela de aniversário (sem mencionar o fato de que um presente de aniversário iria me custar uma bela grana e eu estava tentando ter um bom controle financeiro das coisas).
Mas quando telefonei a George e tentei explicar tudo isso, ele explodiu em cima de mim:
– O que diabos há de errado com você? – gaguejava. – Você poderia ter vendido a coisa por mais de 100 mil, seu imbecil!
Blá-blá-blá, pensei. KGB tinha ficado comigo nos momentos mais tristes, então eu devia a ela pelo menos um casamento, não devia? Além do mais, e sua posição como primeira, última e única Miss União Soviética na história da agora defunta nação? Aquilo devia valer alguma coisa! Então George disse:
– De qualquer forma, ela nem sequer se dá bem com seus filhos, então sei que nunca vai dar certo.
Tudo bem. Se as coisas ficassem ruins, bastaria apenas me divorciar novamente.
Enquanto isso, a Duquesa estava sendo extraordinariamente agradável. Nem bem tinham se passado três semanas desde que meus filhos deixaram Nova York, ela já os mandara para outra visita. Além disso, ela havia concordado em me deixar ficar com eles pelo verão inteiro. O único problema era: como eu poderia mantê-los entretidos em um prédio de apartamentos de Manhattan infestado por lixo europeu enquanto estivesse sob prisão domiciliar com uma noiva emocionalmente desconectada ao meu lado e que não conseguia dizer a palavra “o”? Seria difícil. Sem gramado para correr, piscina para nadar ou praia para construir castelos de areia, eles ficariam entediados até a morte. Sem mencionar que a ilha de Manhattan teria uma temperatura de mais de 30 graus com uma umidade de 1.000%! Como as crianças poderiam sobreviver a isso? Iriam parecer minúsculos girassóis no deserto de Gobi.
A cidade não era lugar para crianças, sobretudo no verão! Todo mundo sabia disso, especialmente eu. Todos os amigos deles estariam nos Hamptons. Como eu poderia decepcioná-los de novo? Eu já os tinha colocado em um inferno suficiente apenas do jeito que as coisas estavam. No entanto, seria obscenamente caro alugar um lugar nos Hamptons, e eu estava tentando conservar meus fundos. Se a NASDAQ pelo menos não tivesse caído!
Mais uma vez, no entanto, George tinha uma solução. Ele me telefonou do celular enquanto estava no meio de um jogo de golfe em Shinnecock e disse:
– Fiquei sabendo de uma propriedade de 60 mil metros quadrados em Southampton. O proprietário é um principe alemão, ou algo assim, que tem um monte de títulos de nobreza e nada de dinheiro, então está vendo se consegue alugar o lugar baratinho.
– E como é o lugar? – perguntou o mendigo exigente.
– Bem, não é Meadow Lane – respondeu ele –, mas ainda é bom. Tem piscina, quadra de tênis, um quintal enorme. É perfeito para as crianças. Tem até veados correndo em seu quintal!
– Quanto é? – perguntei cautelosamente.
– Cento e vinte mil – respondeu ele. – É um roubo, considerando que o lugar parece um pavilhão de caça suíço.
– Eu não posso pagar isso – disse eu rapidamente, ao que George respondeu ainda mais rapidamente:
– Não se preocupe, eu vou pagar a locação para você. Você pode me pagar quando estiver com dinheiro novamente – completou. – Você é como um filho para mim, Jordan, e seria bom dar uma parada agora. Então, aceite isso e lembre-se, de cavalo dado não se olham os dentes.