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De início, meu orgulho masculino me pediu para resistir à generosidade de George, mas só por um segundo. O local seria perfeito para meus filhos, e George era, de fato, como um pai para mim. Além do mais, para um homem tão rico quanto ele (tão rico como eu costumava ser), 120 mil não era nada. Nesse nível de riqueza, o dinheiro é apenas uma entrada no balanço financeiro, e você tem mais alegria em ajudar as pessoas com ele do que vê-lo crescer 4% no Bridgehampton National Bank. Tudo o que você quer em troca é amor, respeito e, claro, gratidão, tudo o que eu já sentia por George. Além disso, um dia eu pagaria de volta, depois de me tornar rico novamente.

Então fiz as malas e voltei para os Hamptons. Senti-me como uma porra de uma bola de pingue-pongue! Até que recebi um telefonema surpreendente de Magnum. Era início de junho, e eu atendi a chamada em minha nova sala de estar, que, como George tinha indicado, parecia mesmo um pavilhão de caça.

Magnum disse:

– Achei que você gostaria de saber que Dave Beall foi indiciado hoje por fraude de valores mobiliários. Aconteceu nesta tarde na frente do juiz Gleeson.

Com o coração apertado, me sentei em uma cadeira de couro meio detonada. Acima de mim pendia a cabeça de um alce gigante morto. O alce morto parecia indignado.

– Indiciado... – murmurei. – Como ele poderia ser indiciado, Greg? Eu pensei que ele estivesse cooperando com os federais!

– Aparentemente não – respondeu Magnum, e então começou a explicar como Dave Beall não tinha me delatado; ele havia chegado bêbado como um gambá e, então, tinha contado a um de seus amigos sobre o tal bilhete. O amigo, como se viu, era um dedo-duro no sempre em expansão depósito de dedos-duros do TOC. E o resto, como dizem, é história.

As crianças passaram o verão em Southampton e se divertiram muito; no dia em que partiram, Elliot Lavigne foi indiciado por fraude em títulos. Ele jogou toda a culpa em mim, é claro, o que foi bastante irônico, considerando que um dia eu tinha salvado a vida dele, no que eu agora considerava um lapso momentâneo de julgamento. Na verdade, eu ainda estava contente por ter salvado sua vida, porque durante a semana que se seguiu todo mundo estava me chamando de herói; mas agora, meia década depois, Elliot estava encarando cinco anos, e eu não dava a mínima.

Com o Chef, no entanto, a história foi diferente, e eu dava a mínima.

No que se configura a maior ironia de todas, o Chef tinha decidido desafiar a lógica convencional e levar o caso dele a julgamento. Mas por quê? Com as fitas de vídeo, as fitas de áudio, meu testemunho, o testemunho de Danny, o testemunho de James Loo e o hermético rastro de papel da minha história suíça como álibi, que estava carregado com as impressões digitais do Chef, sem falar das duas espetaculares descrições de seu submarino, o SS Lavador de Dinheiro, ele não tinha absolutamente nenhuma chance de ser absolvido. Ele seria considerado culpado da acusação e ficaria na cadeia por quase uma década.

De minha parte, eu ia sofrer a humilhação pública de ter que testemunhar em tribunal aberto contra um homem que eu havia chamado um dia de amigo. Isso sairia nos jornais, nas revistas, na internet, em todo lugar. E quão irônico seria que o que eu tinha feito com Dave Beall entraria para a história como nada mais que uma nota de rodapé, uma ação mínima para uma dúzia de atos de traição.

Naquele momento, eu estava sentado na sala de interrogatórios com Alonso e TOC, rindo por dentro quando TOC disse:

– Sabe de uma coisa, Alonso? Você tem o pior caso de TOC que eu já vi!

– Do que você está falando? – retrucou Alonso. – Eu não tenho TOC! Eu só quero ter certeza de que as transcrições são precisas.

– Elas são precisas – TOC rebateu, balançando a cabeça, incrédulo. – Quer dizer, você realmente acha que o júri dá a mínima se Gaito disse, “Badabip, badabop, badabup” ou “Badabop, badabip, badabing”? Ambas são a mesma coisa, porra! O júri sabe disso!

Alonso, que estava sentado à minha direita, virou a cabeça para mim um pouco e lançou uma piscadela, como se dissesse: “Você e eu sabemos que isso é importante, por isso não dê importância aos resmungos desse cara do FBI!”.

Então, ele olhou para TOC, que estava sentado do outro lado da mesa, e disse-lhe:

– Bem, Greg, quando você se formar na faculdade de direito e passar no exame da ordem, então poderá ficar no comando do gravador! – e soltou uma risadinha irônica. – Mas, até lá, eu controlo o gravador! – e apertou o botão de retroceder novamente.

Já era perto das 11 da noite, e o julgamento de Gaito estava a menos de um mês. Há seis semanas, desde logo depois do Dia do Trabalho, estivéramos trabalhando desde as primeiras horas da manhã, tentando avaliar cada parte das transcrições. Era um processo árduo, durante o qual nós três nos sentávamos no porão do prédio número 26 do Federal Plaza, ficávamos ouvindo as fitas e fazendo as correções naquilo que estava rapidamente se tornando a transcrição mais precisa de toda a história do Direito.

Alonso era, de fato, um bom homem, e fora tão profundamente ferido que eu estava convencido de que um dia ele iria respirar fundo e simplesmente parar de respirar. Todos o chamavam de Alonso. Não sei por qual motivo, ele era uma daquelas pessoas que nunca são chamadas pelo primeiro nome. Embora nunca tivesse tido o prazer de conhecer os pais dele (que eram ricos aristocratas argentinos, segundo Magnum), eu estava disposto a apostar que eles também o chamavam de Alonso desde o momento em que ele saiu do ventre da mãe.

Alonso apertou o botão de parada e disse:

– Muito bem, agora virem para a página 47 da transcrição 7-B e me digam o que pensam disso.

TOC e eu assentimos cansados, nos inclinamos para a frente e começamos a folhear nossas transcrições de 12 centímetros de espessura, enquanto Alonso fazia a mesma coisa. Finalmente, quando estávamos todos na página 47, Alonso apertou o play.

Tudo o que eu pude ouvir no início foi um zumbido baixo, então um estalo e aí minha própria voz, que sempre soou estranha para mim quando a ouvia em uma fita: “... o risco é de James Loo contrabandear meu dinheiro para fora do país”, dizia minha voz. “E se ele for detido na alfândega?”

Então vinha a voz do Chef: “Bem, e daí? Não se preocupe com isso! Ele sabe como fazer. Tudo que você precisa saber é que o dinheiro vai chegar até lá. Você dá sua grana a ele, ele dá para sua gente e badabip, badabop, badabup... Schhhwiitttt!” – uma palmada aguda do Chef – “e tudo certo! Não há como...”.

Alonso pressionou o botão de pausa e balançou a cabeça lentamente, como se estivesse profundamente perturbado. TOC revirou os olhos, preparando-se para a dor. Eu me preparei também. Finalmente Alonso começou a murmurar:

Schhhwiitttt, ele continua usando essa palavra – ele soltou mais um de seus profundos suspiros, que eram sua marca registrada. – Eu não entendo.

TOC balançou a cabeça e suspirou.

– Nós já passamos por isso antes, Alonso. Significa apenas “e isso é tudo”. Como, schhhwiitttt! Isso é tudo. – TOC me olhou com desespero nos olhos.

– Certo?

– Sem dúvida – respondi, assentindo.

– Ahh, sem dúvida? – declarou Alonso, levantando o dedo em defesa – Mas nem sempre! Dependendo do contexto, pode significar algo diferente – ele olhou para mim e levantou as sobrancelhas. – Certo?

Eu assenti com a cabeça lentamente, com ar cansado.

– Sim, poderia. Às vezes ele usa isso para amarrar as pontas soltas de uma história construída como álibi. Por exemplo, ele vai usar schhhwiitttt para dizer: “E com esse último documento falso que criamos, o governo nunca vai ser capaz de descobrir as coisas!”. Mas na maior parte do tempo significa o que disse Greg.