Alonso deu de ombros sem se comprometer.
– E o que dizer do som das palmas? Isso afeta o significado da expressão schhhwiitttt?
TOC se dobrou visivelmente, como um animal que tinha acabado de levar um tiro.
– Eu preciso de um tempo – disse ele, e sem dizer uma palavra deixou a sala de interrogatório, fechando a porta suavemente atrás de si, murmurando algo bem baixinho.
Alonso olhou para mim e encolheu os ombros.
– Tempos difíceis – disse ele.
Eu assenti com a cabeça, concordando.
– Sim, especialmente para Gaito. Ainda não acredito que ele está levando isso a julgamento. Não faz nenhum sentido.
– Nem para mim – concordou ele. – Não acho que eu já tenha visto um caso mais amarrado do que este. É suicídio para Gaito. Alguém está dando alguns conselhos muito ruins a ele.
– Sim, como Brennan – disse eu. – Deve ser.
Alonso deu de ombros novamente.
– Ele tem algo a ver, com certeza, mas tem que ser mais que isso. Ron Fischetti é um dos melhores advogados de defesa no ramo, e eu não acredito que ele faria Gaito passar por isso apenas porque Brennan disse isso a ele. Sinto que estou deixando passar alguma coisa aqui. Você entende o que estou dizendo?
Eu assenti lentamente, resistindo à vontade de dizer a ele o que eu realmente pensava – que o Demônio de Olhos Azuis ia tentar subornar um dos jurados. Era tudo de que Gaito precisava: um jurado em quem se apoiar, e depois Gleeson seria forçado a anular o julgamento.
Claro, eu não tinha provas, mas histórias como essa tinham girado em torno do Demônio de Olhos Azuis por anos – desaparecimentos de arquivos, testemunhas fazendo retratação de suas declarações, juízes tomando decisões de surpresa em seu favor, promotores que abandonavam o caso na véspera do julgamento. Mantive os pensamentos para mim e disse:
– Meu palpite é que Fischetti vai tentar se concentrar em mim, não nos fatos. Ou seja, ele vai fazer com que o júri me odeie, ou melhor, me despreze, e então eles vão absolver em princípios gerais. – Dei de ombros. – Então, ele vai tentar me pintar como um viciado em drogas, um devasso, um mentiroso compulsivo, um trapaceiro, ou seja, todas as coisas boas da vida.
Alonso balançou a cabeça.
– Ele não vai ter essa chance, porque eu farei isso primeiro. Não leve para o lado pessoal quando eu o fizer, porque vou bater duro quando estiver depondo lá em cima. Não vou deixar de falar sobre nada, especialmente quando se trata de sua vida pessoal – ele inclinou a cabeça para um lado. – Você sabe do que estou falando?
Assenti, tristemente.
– Sim, o que aconteceu na escada com Nadine.
Ele acenou de volta.
– E o que aconteceu depois, também, com sua filha. Vou trazer tudo, todas as coisas obscuras. E você não pode tentar minimizá-las ou racionalizá-las. Você vai simplesmente dizer “Sim, eu chutei minha esposa escada abaixo” e “Sim, eu lancei meu carro contra uma porta de garagem com minha filha no banco do passageiro, sem o cinto de segurança”, porque, acredite em mim, se você tentar minimizá-las, Fischetti vai rasgá-lo ao meio durante o interrogatório. Ele vai dizer: “Ah, então o que você está dizendo, senhor Belfort, é que você não chutou sua esposa por um lance de escadas, porque ela estava apenas no terceiro degrau. Espere, perdoe-me, senhor Belfort, você realmente não a chutou, você a empurrou, o que é outra história. Assim, resumindo, o que você está dizendo é que tudo bem um homem empurrar sua esposa por três degraus e então arriscar a vida de sua filha jogando-a para o banco do passageiro de sua Mercedes de 90 mil dólares e enfiar o carro numa porta de garagem enquanto estava alterado com cocaína e Quaaludes?” – Alonso sorriu. – Percebeu como vai ser?
– Sim, entendi, mas não quero isso.
– Nenhum de nós quer isso – concordou ele –, mas esses são os fatos aos quais estamos presos.
Assenti com a cabeça, resignado. Alonso continuou:
– Mas o lado bom das coisas é que podemos passar algum tempo conversando sobre como você foi para a reabilitação e ficou sóbrio. E então você também pode levantar o assunto das palestras escolares sobre o perigo das drogas – ele sorriu, tranquilo. – Acredite em mim, desde que você seja honesto, as coisas funcionarão. A dependência em drogas é uma doença, e as pessoas vão perdoá-lo por isso. – Ele deu de ombros. – Agora, se ser mulherengo também fosse uma doença, então estaríamos feitos! – e começou a rir. – Engraçado, né?
– Sim – respondi, com uma porra de um sorriso histérico! Eu teria de admitir, sob juramento, que tinha abatido umas mil prostitutas de todas as formas e tamanhos. A única questão era: se isso acabaria nos jornais. Era exatamente o tipo de fofoca que o New York Post adorava!
Alonso tirou do bolso da calça um maço de Marlboro novinho e um isqueiro Bic barato.
– Veja, eu não tenho o hábito de burlar a lei – disse ele –, mas, apesar de este ser um edifício onde não se pode fumar, vou acender de qualquer maneira – ele fez exatamente isso, dando uma tragada leve, como se dissesse: “Eu não sou um fumante convicto, só faço isso quando estou estressado”.
Eu fiquei em silêncio e deixei que ele fumasse em paz. Entendi que era algo importante, ser capaz de participar de um simples prazer viril sem ser interrompido por conversa fiada. Meu pai, um dos maiores fumantes de todos os tempos, havia explicado isso para mim em numerosas ocasiões. “Filho”, ele dizia, “se eu quero me matar com esses palitos de câncer do caralho, então pelo menos deixe eu me matar em paz, pelo amor de Deus!”.
Alonso sorriu para mim e disse:
– Entãooo... Como você está, Jordan?
Eu inclinei a cabeça para o lado e olhei para ele por um momento.
– Como estou? – perguntei. – Você está sendo sarcástico, Alonso?
Ele virou os cantos da boca para baixo e balançou a cabeça lentamente.
– Não, não mesmo. Eu só quero saber como você está.
Eu dei de ombros.
– Bem, já faz um longo tempo desde a última vez que alguém me fez essa pergunta, então preciso pensar sobre isso por um segundo. – Parei por cerca de um décimo de segundo, então disse: – Ah, uma merda! E você, como vai, Alonso?
Ele ignorou minhas últimas palavras e disse:
– As coisas vão melhorar; você só tem que dar tempo ao tempo. Após o julgamento, nós podemos fazer uma moção para tirar sua tornozeleira. – Uma breve pausa, então: – Tenho certeza de que Gleeson vai aprovar, assim que ele ouvir seu depoimento. Isso vai depender de quanto você demonstrar que está arrependido.
Eu balancei a cabeça.
– Bem, eu estou arrependido. Mais do que você pode imaginar.
Ele acenou com a cabeça.
– Eu sei, venho fazendo isso há bastante tempo para saber quando alguém está cheio de merda e quando não está. Mas, deixando isso de lado, você ainda não respondeu à pergunta.
– Sobre o quê, como estou?
– É. Como você está?
Eu dei de ombros.
– Eu tenho problemas, Alonso. Estou encarando anos de prisão, estou noivo de uma mulher por quem não estou apaixonado, não tenho carreira, meus filhos vivem do outro lado do país, estou usando uma porra de uma tornozeleira, traí meus amigos mais próximos, eles me traíram e, ainda por cima, estou prestes a ficar sem dinheiro e não tenho como ganhá-lo agora.
– Você vai ficar rico novamente – disse ele, conscientemente. – E não acho que alguém em sã consciência apostaria contra isso.
Eu dei de ombros.
– Sim, bem, você provavelmente está certo sobre isso, mas acho que não ficarei rico por um longo tempo. Estou no meio de uma onda de má sorte e, até que ela passe, não há nada que eu possa fazer. Enfim, meu objetivo é morar na Califórnia para ficar perto de meus filhos. É isso aí. Eu fiz um juramento à minha filha de que faria isso e não vou desapontá-la. Eu gostaria de ir para lá antes de ser condenado. Você acha que é realista?