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E ele passou a explicar os prós e os contras do refinanciamento para mim.

Era uma coisa elegantemente simples. Quase todos os proprietários de imóveis na época tinham uma hipoteca com taxas entre 8% e 10%, ao passo que as taxas atualizadas pairavam próximas de 6%. Então, tudo que o corretor de hipotecas teria de fazer era assegurar um novo empréstimo (com a taxa de juros mais baixa) para quitar o empréstimo anterior, e o custo mensal da nova hipoteca para a pessoa iria despencar. Embora houvesse alguns custos menores envolvidos, os chamados custos de fechamento, era possível juntá-los à nova hipoteca, tornando-a um pouco maior que a antiga, mas sem representar um custo para o mutuário. Melhor ainda, os custos de fechamento eram uma ninharia em comparação à poupança de longo prazo, que poderia ser de centenas de milhares de dólares, dependendo do tamanho do empréstimo.

– Hummm – murmurei –, parece bem básico. Você tem contatos para ligar?

– Sim, comprei uma lista de proprietários de imóveis que estão pagando 8% ou mais. Estou lhe dizendo, vai ser como tirar doce da boca de uma criança!

– Tudo bem – respondi. – Dê-me algumas horas e enviarei um script por e-mail. – Então, como um adendo: – Por que você não me envia alguns contatos enquanto isso, para testar o script e ter certeza de que ele funciona?

Foi assim que tudo começou.

Ele me passou os nomes, eu escrevi o script e, no meio do meu primeiro contato de vendas, uma mulher haitiana muito animada me cortou no meio da frase, dizendo:

– Isso parece bom demais para ser verdade! Quando você pode vir até aqui para fazer a papelada?

Neste mesmo segundo!, pensei. Mas, não querendo parecer um vendedor desesperado, eu respondi:

– Bem, acontece que amanhã estarei em sua região – olhei para o endereço dela e notei que ela morava em Bushwick, no Brooklyn, um lugar bem perigoso. Por que eu estaria naquela área? Que explicação seria plausível? – fazendo o refinanciamento de um de seus vizinhos – rapidamente acrescentei. – Posso passar aí por volta do meio-dia. Está bom para a senhora?

– Perfeito! – respondeu ela. – Vou preparar um lanchinho para nós.

No dia seguinte, eu me vi dirigindo através da zona de guerra do leste do Brooklyn, maravilhado pelo modo como a falta de dinheiro pode tornar um homem corajoso. A casa da mulher era um prédio de dois andares em uma rua suja de duas mãos. Do lado de fora, parecia um antro de crack. No interior, cheirava a peixe cozido e bolor. Havia pelo menos 12 haitianos morando lá.

Ela me ofereceu um lugar em sua mesa de cozinha de fórmica verde-bosta, onde imediatamente começou a me servir feijão, arroz e peixe cozido, recusando-se a falar sobre a hipoteca até que eu limpasse meu prato. Enquanto isso, eu continuava a ouvir um grito vindo de um dos quartos no andar de cima. Parecia uma criança pequena.

– Está tudo bem lá em cima? – perguntei, forçando um sorriso.

Ela balançou a cabeça devagar, conscientemente, como se dissesse: “Tudo está do jeito que deveria ser”. Então ela comentou:

– É meu neto, que está com a febre.

A febre? O que ela quis dizer com aquilo? Pelo tom de voz, ela parecia dar a entender que algum jogo sujo, na forma de alguma força sobrenatural, estava envolvido.

– Bem, sinto muito por isso – disse eu. – Você chamou um médico?

Ela balançou a cabeça negativamente.

– Eu sou tudo de que ele precisa em termos de medicina.

Senti um arrepio na espinha. Obviamente, a mulher não tinha frequentado uma faculdade de medicina; ela era uma feiticeira, ou moomba, como se dizia. Seja como for, quando eu e Moomba finalmente começamos a tratar de negócios, consegui faturar 7 mil dólares de comissão em menos de 30 minutos e ajudei-a a economizar 300 dólares por mês em prestações. Pelo menos foi isso que eu tentei fazer. O que acabou acontecendo foi ligeiramente diferente.

Moomba lançou-me um sorriso, que expôs um incisivo central de ouro, e disse:

– Eu não dou a mínima sobre baixar minha hipoteca e meus pagamentos, Jordan. Eu só quero conseguir algum dinheiro com a minha casa – ela deu uma piscada. – Sabe como é, um pouco de dinheiro vivo? Você nunca sentiu vontade de torrar algum dinheiro?

Seu nome era Thelma. Eu sorri e devolvi:

– Bem, Thelma, houve uma vez em que eu estava tão doido com Quaaludes que decidi esticar meu iate para fazer caber meu hidroavião. – Então, completei: – De quanto dinheiro você gostaria, Thelma?

Como eu descobriria logo, a resposta de Thelma foi típica de muitos proprietários de imóveis americanos, a maioria dos quais atrasaria seus pagamentos de hipoteca e acabaria no arresto jurídico.

Ela respondeu:

– Ouça, Jordan, consiga para mim o máximo de dinheiro que puder, eu não dou a mínima se a taxa for exatamente a mesma de agora. Eu só quero redecorar minha casa, viajar para lugares exóticos, comprar uma nova máquina de costura, uma televisão de tela plana e uma lancha de dois motores e, então, quero pagar o saldo em meus cartões de crédito para que possa acabar com tudo em 6 meses e refinanciar mais uma vez! E, a propósito, Jordan, se você conseguir descobrir uma maneira de me aprovar numa dessas novas hipotecas de taxa ajustável, em que o pagamento é superbaixo nos primeiros anos e depois explode a um nível que não vou, possivelmente, ser capaz de suportar, então isso é o que eu quero também. Vou me preocupar com os pagamentos quando estiver vivendo em um abrigo para sem-teto!

Ahhhh, o boom do refinanciamento! Era mesmo igual ao que meu amigo havia me dito. Um dia, claro, seria um inferno pagar por todas essas hipotecas com taxas reajustáveis, um produto que permitiu que qualquer pessoa que estivesse respirando e tivesse um número do Seguro Social (independentemente de crédito e de avaliação de renda) pudesse emprestar 110% do valor de sua casa e só se preocupar em ser capaz de suportar o pagamento mensal em algum ponto obscuro no caminho. Mas, ainda assim, naquele momento era maravilhoso, e todos os proprietários, construtores, banqueiros, corretores de hipoteca, corretores e avaliadores das imobiliárias, varejistas de artigos de luxo e, claro, gestores de fundos de hedge de Wall Street que estavam comprando essas hipotecas malucas para colocar em lucro presumido – que eles poderiam depois propagandear aos investidores para apoiar a noção de que ainda mantinham o domínio do universo –, toda essa gente não poderia estar mais feliz. Eu, claro, era o mais feliz de todos.

Depois de uma semana eu tinha arrecadado 50 mil dólares em comissões, e na semana seguinte esse dinheiro tinha duplicado. E assim, do nada, meus problemas de dinheiro acabaram. A nuvem negra que havia me seguido desde aquele dia horrível nos degraus do tribunal tinha finalmente se evaporado.

No começo, KGB não percebeu nada. Não foi nenhum choque; afinal, ela passava a maior parte dos dias jogando Crash Bandicoot III (Crash Super Smash, como ela chamava) e as poucas palavras que trocávamos eram na forma de grunhidos e gemidos, durante o sexo.

No entanto, ela era minha noiva, então eu achei que era direito contar-lhe a boa notícia: que dali a um mês, quando os contratos de empréstimos fossem fechados, eu estaria rolando na grana de novo. Então nós poderíamos retomar a aparência de uma vida normal.

– Que bom – foi tudo o que ela disse. – Então você pode me levar para shopping novamente.

Nos 18 meses em que nós vivemos juntos, a garota tinha proferido os artigos “a” e “o” apenas uma vez, e tinha sido na hora errada. Esse importante acontecimento se deu enquanto ainda estávamos vivendo na cidade e eu estava sob prisão domiciliar. Que momentos felizes eram aqueles! Ela me disse:

– Belo dia lá fora. Vou ao Central Park agora dar uma caminhada.