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KGB e eu estávamos morando juntos por tempo demais, e nós dois sabiamos disso. Na verdade, não fiquei nem um pouco surpreso quando, depois de meu primeiro empréstimo fechado, reservei um voo para a Califórnia e ela não ficou ofendida quando não a convidei para ir junto. Na verdade, ela parecera até aliviada...

E que viagem! Eu não conseguia me lembrar de alguma vez ter sido mais feliz. Por 79 dólares a noite, aluguei um quarto minúsculo no Manhattan Beach Hilton e, por um adicional de 29 dólares na diária, aluguei o carro mais barato que a Hertz tinha para oferecer. E como eu tinha voado? Na classe econômica! E também tinha feito escala em Boston, para economizar alguns dólares extras. O novo eu!

E as crianças? Bem, aparentemente, a Duquesa havia dito a eles que eu estava com problemas de dinheiro, pois quando fui comprar brinquedos eles se recusaram a comprar qualquer coisa que não fossem uns docinhos. No começo, me senti arrasado – não, pior, envergonhado. Eu sempre tentei ser o máximo para meus filhos, um pai que podia comprar tudo que eles quisessem e podia levá-los a qualquer lugar. Afinal de contas, era função do papai mostrar aos filhos apenas o melhor da vida, não?

Aparentemente não, porque, ao longo daquela semana, percebi algo muito importante, algo que minha vida anterior de riqueza e fartura tinha camuflado totalmente: meus filhos não davam a menor importância para toda a pompa. Tudo o que eles queriam era o pai. Tudo o que eles queriam saber era que ele os amava incondicionalmente e que sempre os amaria. Aquelas eram verdades simples, mas que tinham sido para mim as mais difíceis de entender.

Quando passei a conhecer seus novos amiguinhos, comer em seus restaurantes favoritos e brincar em seus parques prediletos, encontrei uma nova paz na vida. Comecei a pensar que esse poderia ter sido o plano de Deus o tempo todo: minha ascensão e queda em proporções bíblicas, apenas para ressuscitar com uma nova capacidade de apreciar as coisas.

Antes de voar de volta para casa, prometi às crianças que voltaria em duas semanas e que iria fazer isso a cada duas semanas, até que finalmente me mudasse para lá de vez. Então nos despedimos, com risos e sorrisos em vez de lágrimas. Sem dizer nada, todos sabíamos que papai estava de volta.

Quando cheguei a Nova York, fui direto para o trabalho e descobri que o boom de refinanciamentos estava acelerando a uma taxa exponencial. Em 2000, os americanos tinham se envolvido com as pontocom até morrer e, em 2001, estavam hipotecando até morrer. A bolha imobiliária estava se formando diante de meus olhos. Quando iria estourar? Era como se cada pessoa com quem eu conversasse quisesse refinanciar ou tivesse acabado de fazer isso. Consegui fe char 30 empréstimos em duas semanas e pulei de volta num avião para a Califórnia.

Obviamente, com todos aqueles contratos de empréstimos, fazia sentido ficar em um quarto um pouco maior no Hilton (uma suíte, na verdade) e alugar um carro um pouco melhor na Hertz (um Lincoln, na verdade). Na terceira viagem, os empréstimos foram fechados tão rápido que decidi voar de primeira classe do JFK. Quer dizer, que mal tinha? Eu estava ganhando meu dinheiro de forma legítima e, naquela velocidade, ficaria milionário num piscar de olhos!

Quando cheguei a Los Angeles, o motorista da minha limusine (sim, para economizar tempo, eu tinha uma limusine me esperando) disse que estava surpreso que um homem com dinheiro escolhesse ficar no Hilton. “Por que não fica na Beach House?”, perguntou ele calmamente. “Fica a poucos passos da areia, e cada quarto tem uma linda vista para o Pacífico. Quer dizer, o lugar não é barato, mas é sem dúvida o melhor!”

– Bem, que diabos você está esperando? – respondi ao motorista. – Leve-me para esse lugar, pelo amor de Deus!

Assim encontrei minha nova casa longe de casa: o Beach House. Era pitoresco, lindo e ficava a menos de 4 quilômetros de meus filhos. Em nossa terceira estadia, Chandler e Carter já eram como pequenas celebridades por lá. Todo mundo nos conhecia e nós conhecíamos todo mundo.

A vida parecia maravilhosa.

SÓ EXISTIAM DUAS COISAS me corroendo.

A primeira era minha amada noiva, KGB.

Nós nos odiávamos. Por que ainda continuávamos vivendo juntos, acho que nenhum de nós saberia responder. Talvez tivesse algo a ver com a inércia. Suas roupas estavam em meus armários, suas calcinhas estavam em minhas gavetas, seus lençóis estavam na minha cama, e ninguém, nem mesmo Mary Poppins, gosta de fazer as malas. Mas, infelizmente, à medida que o ano de 2001 chegava ao fim, o sexo começou a desvanecer, o que significava que não havia mais razão para viver no mesmo código postal.

Era o Valentine’s Day de 2002, um dia tão bom quanto qualquer outro para romper o noivado mais mal concebido desde Johnny Depp e Winona Ryder. Na verdade, por que não acabar com aquilo ali mesmo, no jantar? Nós estávamos sentados em uma mesa para dois no Hotel American em Sag Harbor. Era um estabelecimento elegante e, o mais importante, era o tipo de estabelecimento onde alguém tão refinada quanto KGB iria pensar duas vezes antes de derramar um copo de Louis Jadot Montrachet safra 1992 sobre minha cabeça. O sommelier, vestido com um impecável smoking preto e sapatos de couro preto, acabara de tirar a rolha da garrafa, que tinha o módico preço de 350 dólares.

Os fabulosos olhos azuis da KGB estavam olhando para mim com desprezo à distância de uma minúscula mesa apenas. Ela estava ligada a cada uma de minhas palavras, desgostosa com cada uma delas – já! –, apenas 15 minutos depois de nos sentarmos. Mas eu estava só começando, não deveria me apressar. Aquilo tinha de ser mais que uma de nossas brigas típicas para instigar a soviética a fazer as malas. De seus lábios vermelho-comunistas, deliciosos como sempre, vieram as palavras:

On polny mudak! – seu testículo de merda! – Você acha que vocês ganha Guerra Fria? Ah, por favor! É só o dinheiro com a América! Dinheiro, dinheiro, dinheiro! – o desprezo pingava de cada palavra que ela dizia. – Vocês fazer meu país à falência! Seu Ronald Reagan nos chama Império do Mal e fazer Star Wars! E quem salvar vocês na Segunda Guerra Mundial? Nós salvar! Perdemos 20 milhões de pessoas para derrotar o nazismo. Quanto vocês perder... Dez pessoas? Inacreditável! Foda-se América... Pizda mudak! Suas bichas do caralho!

Dei de ombros, pouco impressionado com seu mais recente discurso antiamericano.

– Bem, se você odeia tanto este país, Yulia, então por que não – comecei a levantar a voz – dá o fora daqui e volta para a porra de seu próprio país ou para o que sobrou daquela merda? – Outros casais começaram a olhar. – Mas antes de ir embora – peguei uma baguete do prato de pães e ofereci a ela –, tome, leve um pedaço de pão com você, assim não vai precisar ficar na fila quando chegar em casa – balancei a cabeça desdenhosamente. – Bela merda, essa Rússia! Um escárnio! Certa vez uma superpotência, e agora, olhe só o que sobrou... Vocês não conseguem sequer derrotar a Chechênia, eles estão jogando as porras das pedras em vocês!

Blyad! Quem você pensa que é? Você nunca conseguir garota como eu de novo! Olhe para você e olhe para mim. Você se arrepender.

Infelizmente, Yulia tinha razão. Ela sem dúvida tinha me derrotado no departamento das aparências. Era o momento de melhorar sua disposição. Olhei diretamente em seu rosto e soprei-lhe um beijo carinhoso.

Ela franziu o nariz pequeno de modelo e murmurou:

Mudilo! – seu saco encolhido! – Idi na khui! – Vá chupar seu próprio pinto!

– Bem, Yulia, a aparência não é tudo – enviei-lhe um sarcástico sorriso. – E quero agradecer a você por me ensinar isso. Veja, meu problema é que eu tive sorte com minhas duas primeiras esposas, então assumi que beleza e personalidade vinham juntas, como num pacote. – Dei de ombros inocentemente. – Agora eu sei que não é bem assim.