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Pensando em um aspecto mais positivo, entretanto, desde que deixara o escritório de Magnum, eu tinha praticamente conseguido chegar a um acordo comigo mesmo em relação a minha cooperação, ou pelo menos já havia racionalizado as coisas até o ponto de deixar tudo um pouco mais palatável. Sim, iria fornecer ao governo todas as informações que eles desejassem, mas iria ser mais esperto quanto a isso, fornecendo informações de uma forma que ajudasse a proteger meus amigos. Quando fosse necessário, fingiria ignorância; quando fosse plausível, fingiria lapsos de memória; e, o mais importante, quando chegasse a uma encruzilhada ou quando me visse em uma bifurcação da estrada, conduziria os homens do governo a um caminho que os levasse para longe de meus amigos. Com um pouco de sorte, as pessoas com as quais eu de fato me importava também iriam cooperar, e eu seria poupado de ter que trair a todos eles.

Enquanto isso, a Duquesa ficaria encantada ao descobrir que eu estava cooperando. Uma de suas principais queixas era a de que eu a tinha colocado em risco, e agora eu poderia lhe dizer que esse risco não era mais uma possibilidade. Naturalmente, eu iria omitir o fato de que realmente a pusera em risco. Eu não era bobo, afinal, então qual seria a vantagem de lhe dar munição fresca contra mim? Seria muito mais produtivo focar nos aspectos positivos de minha cooperação com o governo: a saber, que eu não teria de passar nem mesmo um dia na cadeia e que, mesmo depois de ter pagado minha multa, eu, ou melhor, nós teríamos dinheiro suficiente para nos sustentar pelo resto da vida. Embora a primeira afirmação fosse um pequeno exagero e a última fosse de fato uma tremenda mentira, ainda se passariam muitos anos até que a Duquesa descobrisse. Assim, por enquanto eu não precisava me preocupar com isso.

Nesse momento, escutei o som de cascalho sendo revolvido na entrada de casa. A traidora da Duquesa finalmente voltara, pronta para causar mais dores emocionais em mim. Alguns minutos depois, ouvi a porta da frente bater e alguns passos bastante irritados subindo a suntuosa escadaria em espiral. Os passos não pareciam pertencer à Duquesa loira de 50 e poucos quilos, pareciam mais de um búfalo agitado. Deitei de costas na cama e me preparei para mais torturas.

A porta se abriu completamente e a Duquesa entrou, vestindo um conjunto jeans azul-claro. Puta merda! Apesar de ela ter vindo de limusine para casa, parecia que tinha acabado de descer de uma diligência a caminho do Velho Oeste. A única coisa que lhe faltava era o chapéu de caubói e o cinturão com o Colt de seis tiros. Enquanto ela se mexia, caminhando para seu lado da cama, dediquei alguns momentos a olhá-la. Nadine estava usando uma longa saia jeans com pequenos plissados na bainha inferior e uma fabulosa fenda que corria por toda a frente. Eu não era exatamente um especialista em saias femininas, mas tinha uma leve suspeita de que poucas mulheres do Velho Oeste poderiam ousar com uma daquelas. Ela ainda vestia uma blusa de algodão de manga curta azul-clara, com um decote na frente e bem apertada na cintura, que acentuava as curvas naturais de seu corpo, além de destacar seus seios cirurgicamente aumentados.

Sem dizer uma única palavra, aquela Duquesa do Oeste alcançou o abajur cor de damasco que ficava no criado mudo e acendeu a luz. Rolei para o lado e a encarei. Ela realmente sabia como controlar suas emoções. Isso era uma coisa que eu invejava demais.

Baixei os olhos… Ahhh, aquelas botas de caubói! Eram bem familiares. Bege e branco, com arremates em vermelho-cereja e com a biqueira prateada. Fora eu quem comprara esse par de botas um ano antes, em um ataque de euforia, durante uma viagem ao Texas para um torneio de golfe. Tinha me custado 13 mil dólares, uma verdadeira pechincha, considerei na época. Hoje, me perguntava se tinha sido isso mesmo…

Nesse momento ela inclinou a cabeça para a direita e tirou um brinco de prata, colocando-o na mesa com grande cuidado. Depois, inclinou a cabeça para o lado esquerdo e tirou o brinco esquerdo, pousando-o ao lado do outro. Forcei um sorriso e resisti à vontade de dizer “Oi, querida, como foi a prospecção hoje à noite? Conseguiu encontrar algum metal precioso?”. Mas, com muito amor e ternura na voz, perguntei:

– E aí, como foi a festa da Gigi?

– Tudo bem – disse ela, com uma simpatia surpreendente. – Nada de especial.

Ela se virou para mim e quase perdeu o equilíbrio, de modo que eu percebi que a Duquesa do Oeste tinha bebido naquela noite bem mais do que apenas refrigerante. Na verdade, ela estava bêbada.

– Você está se sentindo bem? – perguntei, segurando um sorriso e me preparando para segurá-la se ela caísse. – Precisa de ajuda, querida?

Ela balançou a cabeça negativamente. Um pouco oscilante, ela se sentou na beirada do colchão. Então, de uma só vez e mais rápido do que percebi, a Duquesa jogou as botas de caubói em cima da cama, rolou de lado, e se estatelou sobre seu cotovelo esquerdo ao meu lado. Ela descansou a bochecha esquerda na palma da sua mão e olhou em meus olhos, sorrindo:

– E como foi com seu advogado hoje?

Muito interessante, pensei, fazendo uma nota mental de agradecer ao gênio mexicano que tinha inventado a tequila, bem como ao barman que tinha sido gentil o suficiente para servir muitas delas à Duquesa naquela noite. Nadine não tinha estado tão próxima de mim na semana quanto naquele momento. E ela estava linda demais sob o brilho do abajur. Seus enormes olhos azuis, agora parecendo um espelho, estavam exuberantes. Respirei profundamente para saborear seu cheiro, que era uma mistura interessante do perfume Angel com tequila dourada. Senti um formigamento agradável, uma onda de fogo em minha virilha! Talvez, pensei, talvez esta noite. Senti uma vontade incontrolável de saltar sobre ela exatamente naquele momento, antes que ela se acalmasse e começasse a me torturar novamente. Mas resisti à vontade e disse:

– Foi muito bem, querida. Para falar a verdade, tenho novidades muito boas para você.

– Ah, é? O quê? – disse ela, esfregando minha bochecha com a palma da mão. Então ela correu os dedos com grande ternura por meus cabelos.

Eu não podia acreditar! A Duquesa tinha finalmente caído em si! Ela iria fazer amor comigo naquele instante, e então tudo ficaria bem novamente. Sempre tinha sido assim com a gente. As coisas poderiam ficar complicadas por algum tempo, mas não muito mais que aquilo. No final, nós sempre fazíamos amor e tudo era esquecido.

“Será que eu devo pular sobre ela agora?”, eu me perguntava. Como ela reagiria? Ela ficaria com raiva de mim ou me respeitaria? Eu era um homem, no fim das contas, e a Duquesa era alguém que entendia esse tipo de coisa. Ela conhecia os meandros do mundo, especialmente quando se tratava dos homens e, mais especialmente ainda, quando se tratava de sua manipulação…

Só que agarrar a Duquesa naquele momento não seria a coisa mais prudente a fazer. Antes, eu precisava tentar uma abordagem diferente, uma abordagem muito diferente, sobre meus problemas jurídicos. Precisava fazer com que ela se sentisse totalmente confiante de que minha mina de ouro estava prestes a abrir outra vez para a extração de minério, sem restrições.

Respirei profundamente, amarrando todas as pontas soltas de minha história fictícia, e fui em frente, sem medo de colocar tudo a perder.

– Em primeiro lugar – disse eu, muito confiante –, quero que saiba que eu sei que você estava preocupada com toda aquela porcaria que o Coleman vomitou em você e que nada daquilo, nem mesmo uma gota daquilo, jamais teve a mínima possibilidade de acontecer – essa era a mentira número um. – Nós dois sabemos que você jamais fez algo de errado – e essa era a mentira número dois, considerando que ela de fato tinha me visto contando dinheiro, do jeito que Joel Cohen tinha alegado – e, é claro, o governo também sabe disso. Coleman só falou aquilo para amedrontar você e deixar as coisas mais difíceis para mim. É isso.