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– Ah! – rosnou a KGB. – Volte para a ex-mulher que deixou você escadaria do tribunal. Bela mulher esse!

Apesar de tudo, eu ainda sentia necessidade de defender a Duquesa.

Eu disse:

– Meu casamento com Nadine terminou muito antes de eu ser indiciado, mas isso não interessa. O que importa é o que está acontecendo conosco, com nosso relacionamento. Ele não está funcionando.

Blyad! Você não tem que me dizer isso. Você ser pesadelo para viver. Tudo o que você falar é de crianças e hipotecas, nada mais. Você grande chateação.

Com isso, ela desviou o olhar, murmurando mais maldições em russo.

Eu respirei fundo e disse:

– Ouça, Yulia, eu realmente não quero mais brigar. Você foi muito boa para mim num momento em que eu precisava que alguém fosse bom para mim – dei de ombros com tristeza. – Mas nós somos pessoas diferentes, você e eu. Somos de mundos diferentes, com diferentes livros de história. Não é nossa culpa que não vejamos as coisas da mesma forma. Nem poderíamos, mesmo que quiséssemos. – Dei de ombros novamente. – Além disso, meu coração está na Califórnia, que é onde eu preciso estar, perto de meus filhos. Não há outro caminho para mim – balancei a cabeça e deixei escapar algumas risadas. – Confie em mim, você vai ficar melhor sem mim. Eu ainda vou para a cadeia um dia, e não tenho ideia de quanto isso vai demorar. Seja como for, acho que você deveria se mudar nesta semana. Vou para a Califórnia amanhã e não estarei de volta até domingo.

Com grande orgulho, ela acrescentou:

– Já fazer planos para isso. Igor virá amanhã e arrumar minhas coisas. Você nunca vai me ver de novo.

Balancei a cabeça, triste. O que ela disse era verdade: eu nunca mais iria vê-la de novo. Nosso relacionamento, afinal, não era do tipo que se transformaria em amizade (não tínhamos sido amigos nem quando ficamos juntos). Ela mergulharia de volta para a “cena” e eu me mudaria para Califórnia tão logo fosse possível para construir uma nova vida lá. Alugaria uma casa na praia, assim como tinha jurado a Alonso, e veria meus filhos todos os dias, tentando compensar o tempo perdido.

Vislumbrei o anel de noivado da KGB, aquele que tinha sido da Duquesa. Olhei para ele por um momento, uma enxurrada de lembranças se despejando em cima de mim. Aquele anel era uma de minhas únicas posses que restaram dos velhos tempos. Tudo o mais se fora. A maioria de meus móveis tinha sido roubada do depósito, e eu tinha empenhado todos os meus relógios de ouro antes de tropeçar no boom dos refinanciamentos. De fato, além de alguns poucos ternos Gilberto, a única coisa que eu ainda possuía era minha Mercedes preta de quatro portas. Todo o resto tinha sido comprado com o dinheiro das hipotecas, quer dizer, com o dinheiro que eu ganhei de maneira honesta.

Aparentemente KGB me viu olhando para o anel, porque ela disse:

– Ohhh, então você quer anel de volta agora?

Virei os cantos da boca para baixo e balancei a cabeça lentamente.

– Não. Você pode ficar com ele, vender, guardar, usar, não dou a mínima para o que fará com ele. Esse anel é amaldiçoado, pelo menos no que me diz respeito. Pode ser que ele traga mais sorte para você do que trouxe para mim.

Fizemos com que o jantar fosse curto, e 10 minutos depois estávamos de volta ao carro, em direção ao apartamento. Estávamos cruzando a Noyack Road, uma estrada longa, escura e sinuosa que leva de Sag Harbor até Southampton. Estava frio e úmido; as estradas estavam escorregadias. Eu dirigia a menos de 60 por hora.

KGB estava olhando para fora, pelo parabrisa. Ela usava um casaco russo comprido e um chapéu combinando, e este último tinha uma aba larga e uma cauda fofa dependurada na parte de trás. Era o tipo de conjunto de pele que só mesmo uma mulher russa rica e que tinha sido eleita Miss União Soviética poderia usar sem parecer completamente ridícula. O anel de noivado estava voltado para dentro, com a pedra descansando na palma da mão, o pulso fechado com força.

Aparentemente ela não teria desistido dele sem luta, de qualquer maneira.

Inclinei-me para a frente, liguei o rádio e apertei o botão de pesquisa. Uma canção de amor. Cupido de merda! Por que ninguém atira na bunda desse cretino com uma de suas próprias flechas? Apertei o botão de pesquisa de novo, outra canção de amor.

– Cuidado! – gritou KGB. – Animais na estrada!

Eu olhei para a frente. Porra! Cervos, três deles, a apenas 20 metros de distância e chegando perto rapidamente. Uma onda de adrenalina... Apertei o freio antitravamento e gritei:

– Segure-se!

Girei o volante para a direita, tentando levar o carro para dentro da floresta, mas a Mercedes começou a derrapar... Não!... Vamos, seus alemães de merda! Enfiei a mão na buzina, mas o cervo apenas olhou para o carro, confuso. Pisquei o farol alto em desespero. O cervo estava a menos de 10 metros. Buzinei de novo, nenhum efeito. Então, girei o volante com força para a esquerda... Mais rabeadas... Pisei no freio com ainda mais força... Senti o mecanismo de antitravamento das rodas entrar em ação... Esses boches! Vamos, seus boches... Meu coração estava batendo a mil por hora... Eu segurava minha respiração... Não... Tarde demais... Vai bater... Os focinhos indefesos dos cervos... Que desperdício terrível... Cruzei os braços e me preparei para o impacto.

– Segure-se! – gritei. – Nós vamos bater!

De repente, como por magia, o carro parou completamente a menos de um metro de um dos cervos. KGB e eu ficamos lá sentados, sem dizer uma palavra, a boca aberta, olhando para o cervo que ainda estava congelado pelos faróis do carro. Ao fundo, o cupido ainda estava me torturando com um dueto entre Lionel Richie e Diana Ross: And I’ll give it all to you, my love, my love, my love, my endless love.

– Caralho... – murmurei finalmente, ainda olhando para o veado. Balancei a cabeça devagar, enquanto os cervos olhavam para trás. Eles pareciam incomodados. Desliguei o rádio e olhei para KGB. Belo chapéu!, pensei. – Meu Deus, essa passou perto! Não posso acreditar!

SMASH!

O impacto do quarto cervo foi tão profundo que a Mercedes alemã de 1 tonelada pareceu voar alguns metros no ar e depois caiu ao solo em câmera lenta. Mesmo sem olhar, eu sabia que todo o lado traseiro do passageiro estava completamente destruído. E o cervo, é claro, estava morto. Eu me virei para KGB e seu chapéu.

– Você está bem? – perguntei.

Ela assentiu com a cabeça lentamente, com ar sonhador. Ela estava muito atônita para falar. Com o canto do olho, eu vi os três cervos se dispersarem pela floresta. Naquele momento, compreendi que eles eram uma família pequena, provavelmente à procura de comida. E eu tive a certeza de ter matado a mãe. Que triste! Disse à KGB para esperar no carro.

Fora, era uma carnificina pura. Um cervo muito grande de expressão gentil estava deitado sobre seu lado direito, imóvel. Senti um arrepio correr pela espinha. Levantei a gola de meu casaco esportivo para me proteger do frio e fiquei um tempo avaliando o veado. Que estranho, ele ainda estava lindo. Não havia danos externos. Seus olhos estavam abertos e sem vida. Seu corpo, completamente imóvel. Devia ter quebrado o pescoço.

Olhei para a Mercedes. Estava completamente destruída. Desde a porta traseira até a roda, todo o lado direito havia sido detonado. Parecia improvável que fosse possível tirá-la dali. Tudo bem, pensei. Era meu último bem contaminado. No dia seguinte eu faria com que fosse levado para o ferro-velho, junto com a KGB.

Virei-me para o veado, para dar uma olhada de perto. Estava morto? Ele não parecia morto. E, de uma só vez, um medo terrível veio subindo pela minha coluna. Um animal morto era portador de más notícias, um sinal que vinha lá das profundezas. Com o coração apertado, me agachei e coloquei a mão na garganta do cervo. Verifiquei a pulsação e, subitamente, os olhos do veado piscaram! Pulei para trás, espantado.