Dei uma rápida olhada para Gleeson, que estava balançando a cabeça. Ele estava balançando a cabeça concordando, talvez? Era difícil dizer. Aquele juiz era frio como uma pedra de gelo. Não iria mostrar sua jogada antes da hora.
– Obrigado – disse Gleeson. – Eu acho que todo mundo aqui demonstrou bom senso em não falar tanto quanto poderiam, tendo em vista os extremos deste caso, desde o contato criminoso extremo envolvendo o senhor Belfort até a cooperação extrema da parte dele. Uma cooperação extraordinária, devo reconhecer – ele me olhou nos olhos. – Isso ajudou a derrubar muitos, muitos anos de prisão que ele deveria cumprir em outra situação, mas isso fica equilibrado por seus muitos anos de fraude arrogante.
Ele tinha ligado seu incrível raio encolhedor, e eu me vi encolhendo cada vez mais enquanto ele dizia:
– Você vitimizou milhares e milhares de pessoas inocentes que confiavam em você, que confiavam nas pessoas que trabalharam para você. Você achou que os reguladores eram uma piada e os tratou com desprezo. Você viveu uma vida boa – ah, merda – no mais alto jet-set, não porque seus talentos o fizeram chegar até lá, e não tenho dúvidas de que você seja um homem talentoso, mas porque estava disposto a mentir, a enganar e a roubar. Seus concorrentes foram colocados em desvantagem, certamente não todos, mas a maioria deles fez o que a maioria das pessoas faz, tentaram realizar negócios de maneira honrada e honesta, sem roubar o dinheiro de muitas pessoas, tantas que você não tem como pedir perdão a todas elas. É importante para a sentença que estou impondo que você tenha aparentemente mudado sua vida. O que li sobre você na carta da Promotoria, o que o senhor Alonso disse sobre você, penetrou em mim. Parece-me que você virou uma página. Eu acho que o mais importante e difícil de prever em todo esse processo é o que se traduz no quanto de punição você merece.
Ele fez uma pausa e soltou um grande suspiro, o tipo de grande suspiro que o rei Salomão teria produzido se tivesse sido confrontado com a obrigação de sentenciar o agora redimido Lobo de Wall Street.
Eu tensionei minhas nádegas e fiz uma oração ao Todo-Poderoso. Gleeson havia condenado Danny a quatro anos, o que, após as deduções, equivalia a pouco menos de dois. Do jeito que Magnum e eu havíamos imaginado, ele iria me dar uma pena menor.
– É uma decisão muito, muito difícil. Eu tenho pensado sobre isso bastante e durante muito tempo e determinei que uma pena de prisão de quatro anos é apropriada, e é isso que estou impondo.
Uma súbita onda de murmúrios veio da seção dos espectadores.
Meu estômago começou a revirar antes que minha mente colocasse todas as informações em ordem. As crianças, o que elas iriam dizer? Mais lágrimas. Abaixei a cabeça, derrotado. Eu não podia acreditar. Foi o que de pior havia na extremidade do espectro, exatamente o que Danny tinha recebido. Meu cérebro começou a voar no meio dos cálculos. Quarenta meses davam quanto depois das deduções? Havia 15% de desconto por bom comportamento, o que dava 7,2 meses, mais 18 meses pelo programa de drogas, isso somado dava 25,2 meses no total, deduzido de 48, dava entre 22 e 23 meses na prisão...
Então Gleeson disse:
– Estou impondo a restituição no valor de 110 milhões de dólares – não é grande coisa, pensei – a pagar no valor de 50% de sua renda bruta. – Puta merda!
Mais murmúrios na seção dos espectadores! Estavam rindo de mim? Não podia ser, mas era o que parecia. O que meus pais estariam pensando?
O tempo parecia andar mais devagar; eu conseguia ouvir Magnum pedindo ao juiz se ele podia me recomendar para o programa de drogas... Gleeson concordou... Magnum estava pedindo um adiamente na notificação... Gleeson recomendou 90 dias. Embora Magnum e eu tivéssemos falado antes sobre adiar até depois do Ano Novo, ele disse que não deveria ser um problema. Ele estava pedindo a Gleeson que me permitisse cumprir a pena na Califórnia, para eu poder ficar perto das crianças. Gleeson, naturalmente, concordou.
De repente, percebi Gleeson se levantar da cadeira, e foi assim. Tudo acabou desse jeito. Não haveria recursos, não haveria uma ajuda sobrenatural, nada. Eu estava indo para a cadeia por quase dois anos. E a multa... 50%! Um pesadelo! Como eu poderia pagar aquilo? Eu teria de ganhar na loteria... E nesse meio-tempo seria forçado a ganhar duas vezes mais que todos os outros para viver a mesma vida. Tudo bem, pensei. Eu iria conseguir facilmente.
Fora do tribunal, toda a equipe estava reunida no corredor – Alonso, TOC, Mórmon, Magnum, o homem de Yale e meus pais. Ainda era tudo um borrão para mim. Eu não tinha me recuperado do choque. Havia muitas expressões sombrias. Desculpas de Alonso, de TOC e do Mórmon, desejando que as coisas tivessem corrido melhor. Agradeci, prometendo manter contato. Eu sabia que TOC e eu o faríamos. Ainda que fôssemos tão diferentes, tínhamos aprendido muito um com o outro. Apesar de tudo, eu me considerava melhor depois de tê-lo encontrado.
Então eu me virei para Magnum e o homem de Yale e trocamos abraços. Eles haviam feito um trabalho incrível, especialmente quando eu mais precisei. Se alguém que eu amava estivesse em apuros, eu recomendaria o escritório de advocacia De Feis O’Connell & Rose de olhos fechados. Nós certamente manteríamos contato.
Então abracei meus pais, meu pai primeiro.
Mad Max estava frio como um pepino, a proverbial rocha de Gibraltar. Mas isso era de esperar; afinal, nada o acalmava mais que uma boa catástrofe. Por dentro, ele estava chorando por mim, mas acho que nós dois sabíamos que não era isso que eu precisava dele. Com o mais triste dos sorrisos, ele estendeu os braços para mim e me segurou pelos ombros. Então, me olhou nos olhos e disse:
– Nós vamos superar isso, filho. Sua mãe e eu estaremos sempre a seu lado.
Eu balancei a cabeça, compreensivo, com a certeza de que sempre seria assim. Eles eram pessoas de bem, talvez a única coisa boa gerada pela Stratton tenha sido a segurança financeira que eles conseguiram, resultado do salário de meu pai quando ele tinha trabalhado lá. Eles iriam envelhecer com graça, dignidade e decência. Eles não seriam sobrecarregados com preocupações financeiras. Eu estava orgulhoso disso.
Minha mãe tinha lágrimas nos olhos quando eu a abracei, e eu podia senti-la chorando em meus braços. Era exatamente isso que eu precisava dela. Eu precisava saber que havia uma pessoa em todo o mundo que estava mais machucada que todos os outros juntos. Minha mãe era uma mulher brilhante e complicada. Leah Belfort era uma mulher da mais alta fibra moral, que tinha visto o filho viver o tipo de vida que representava tudo aquilo que ela mais detestava, o hedonismo, a ostentação e a falta de respeito pelos outros. No entanto, mesmo assim ela ainda me amava, talvez mais do que nunca, simplesmente porque eu precisava.