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A Duquesa saiu de sua poltrona. Ela correu e sentou-se na beira do sofá e abraçou as crianças também.

– Está tudo bem, crianças. Vai... Vai ficar tudo bem.

Eu olhei para a Duquesa e ela também estava chorando, suas palavras saindo com minúsculos soluços. Então comecei a chorar, ao ponto em que John também se levantou de sua poltrona. Ele veio se sentar na beirada da mesa de café e colocou os braços ao redor das crianças também, tentando consolá-las. Ele não estava chorando ainda, mas parecia prestes a fazer isso.

Não havia nada a fazer, a não ser deixar as crianças chorarem. Acho que todos nós sabíamos disso, até mesmo elas. Havia certa quantidade de lágrimas que precisavam ser derramadas antes que meus filhos conseguissem tentar entender o sentido de tudo aquilo, ou pelo menos aceitar o que estava acontecendo.

Finalmente, depois de alguns minutos afagando as costas e acariciando os cabelos, falando sobre os dias de visita e sobre como eles ainda poderiam conversar comigo pelo telefone e escrever cartas, eles começaram a se acalmar. Então, tentei explicar como tudo aquilo tinha acontecido, como tinha começado a Stratton muito jovem e como logo tudo rapidamente tinha saído do controle. Então eu disse:

– Muito do que aconteceu tinha a ver com drogas, que me deixaram fazer coisas que eu nunca faria normalmente. É muito importante que vocês dois aprendam com os erros do papai, porque, quando ficarem mais velhos, vocês poderão se ver em uma situação em que as pessoas estarão usando drogas e dizendo como é legal e como vocês se sentiriam bem e todo esse tipo de coisa. Na verdade, essas pessoas podem até mesmo tentar forçá-los a usar drogas, o que pode ser a pior coisa de todas – balancei a cabeça, seriamente. – E, se isso acontecer, eu quero que vocês pensem no papai e em todos os problemas que as drogas causaram a ele e como elas quase o mataram uma vez. Então vocês vão saber que não devem usar, tudo bem?

Ambos assentiram e disseram que sim.

– Ótimo, porque é muito importante para mim que vocês entendam isso, porque vai fazer com que o tempo em que eu estiver longe de vocês passe mais rápido, sabendo que entenderam – parei por um momento, percebendo que eu lhes devia mais que uma explicação alegando insanidade básica centrada no abuso de drogas. – Bem, havia outras razões pelas quais cometi esses erros e, por mais que não sejam tão graves quando as drogas, também são muito ruins. O que aconteceu com o papai foi que eu cresci sem ter tanto dinheiro, ao contrário de vocês – fiz um gesto para a parede de vidro, com sua deslumbrante vista para o Pacífico –, e eu realmente queria ser rico. Então eu cortei alguns caminhos, o que me fez ganhar dinheiro rapidamente. Vocês entendem o que isso quer dizer?

Carter balançou a cabeça negativamente. Chandler disse:

– Você roubou dinheiro?

Fiquei atônito. Olhei para a Duquesa, e ela mantinha os lábios comprimidos, como se estivesse tentando evitar uma risadinha. Olhei para John, que deu de ombros, como se dissesse: “Ela é sua filha!”. Então olhei para Chandler.

– Bem, eu não diria que realmente roubei dinheiro, Channy, porque não foi bem assim. Deixe-me dar um exemplo: vamos supor que sua amiga telefonou e disse que tinha um brinquedo muito legal que ela queria comprar e lhe pediu para dividir com ela. Você topou fazer isso e lhe deu metade do dinheiro, porque sua amiga disse que aquele era o melhor brinquedo do mundo. Mas depois, mais tarde, você descobriu que o brinquedo não custou tanto quanto ela disse que custaria e que ela usou seu dinheiro para comprar doces, que ela nem sequer dividiu com você – balancei a cabeça gravemente. – Você vê o que eu quero dizer? Não seria ruim?

Chandler concordou em tom acusador.

– Ela me roubou!

– Sim – acrescentou Carter. – Ela roubou!

Inacreditável!, pensei. Sim, talvez eu tivesse roubado, mas pelo menos tinha feito isso com um pouco de brio! Quer dizer, eu não tinha usado uma arma nem nada! Mas como é que eu ia explicar táticas de venda de alta pressão e manipulação de ações para meus filhos?

A Duquesa entrou na conversa:

– Bem, é um pouco como roubo, mas a diferença é que quando você é mais velho, como seu pai ou eu, deveria saber que não pode enviar seu dinheiro a estranhos para comprar brinquedos, sabe? Ou seja, você deveria assumir a responsabilidade por suas próprias ações. Entenderam?

– Sim – eles responderam em uníssono, embora eu não tivesse tanta certeza de que fosse verdade. De qualquer forma, eu estava feliz porque a Duquesa tinha feito um esforço.

Houve algumas lágrimas mais à noite, mas o pior já tinha passado.

Não tendo outra escolha, as crianças rapidamente se resignaram com o fato de que me veriam apenas nos dias de visita, durante um tempo. No final, meu único consolo foi que, naquela noite, acabei adormecendo do jeito que eu queria, com Chandler e Carter em meus braços. E, claro, eu tinha mantido a promessa à minha filha e me mudado para a Califórnia.

EPÍLOGO

A TERRA DOS MULLETS

Por que todos esses mullets?

Esse não foi o primeiro pensamento que tive ao entrar no prédio de tijolos da administração do Instituto Correcional Taft, mas foi quase o primeiro. Meu primeiro pensamento foi que o edifício até parecia bastante tranquilo. A área de recepção era aberta e arejada, com um teto muito alto, algumas muitas bandeiras americanas e uma pequena sala de estar com cadeiras estofadas de um lado. Dois guardas uniformizados, um de cada sexo, estavam sentados atrás de uma grande mesa de fórmica na recepção, parecendo mais entediados que qualquer coisa.

Curiosamente, ambos ostentavam mullets.

O mullet do homem era composto de um cabelo marrom-avermelhado que tinha a consistência de palha de aço. Era bem alto em cima, elevando-se uns bons 3 centímetros acima de seu crânio moreno, e muito esticado nos lados. No entanto, na parte de trás, o mullet era tão fino quanto cabelo de milho e descia alguns bons centímetros abaixo do colarinho da camisa cinza-claro de seu uniforme de guarda. O mullet da mulher era de construção semelhante, embora seu cabelo fosse loiro abacaxi e muito mais comprido na parte de trás.

Eu tinha investigado um pouco na semana anterior e alguém que “sabia das coisas” (ou seja, um antigo convidado) me disse que eu deveria aparecer vestindo moletom cinza, camiseta branca e tênis brancos. Qualquer outra coisa seria confiscada e enviada de volta para minha família em uma caixa. A única exceção era uma raquete de tênis, que eu poderia levar comigo. Ele recomendou que eu fizesse isso, porque as raquetes oferecidas eram de qualidade duvidosa.

Foi por essa razão que, precisamente às 11 horas da manhã de sexta-feira, 2 de janeiro de 2004, entrei no prédio da administração vestindo um agasalho cinza e carregando uma raquete de tênis nova debaixo do braço direito.

– Eu sou Jordan Belfort – disse para os dois mullets da entrada. – Estou aqui para começar a cumprir minha pena.

– Bem-vindo ao Taft – disse a mullet fêmea em um tom surpreendentemente amigável. – Sente-se ali – ela fez um gesto em direção à sala de estar. – Alguém virá buscá-lo em alguns minutos.

Depois de uns minutos, um terceiro guarda surgiu. Ele era baixo, atarracado e de aparência simples, com quadris largos e com o tipo de marcha pesada que denota baixa inteligência. Ele usava o mesmo uniforme cinza dos outros guardas, embora o dele parecesse mais fortemente acolchoado. Em sua mão direita havia uma prancheta. Em seu crânio estreito havia um mullet castanho-claro que parecia exuberante o suficiente para abrigar um ninho de passarinho. Ele olhou para a prancheta e disse:

– Você que é o Belfort?

– Sim – respondi, observando o fato de que eu não era mais o senhor Belfort ou mesmo Jordan Belfort. Eu era simplesmente Belfort.

– Tudo bem – disse ele, cansado. – Siga-me, Belfort.