Ele revirou os olhos.
– Isso é o que eles sempre dizem.
– Como assim, o que você quer dizer com isso?
– Eu quero dizer que eles fazem dinheiro extra jogando as pessoas no Buraco. Taft não faz realmente parte do Bureau de Prisões, eles são uma corporação privada, que visa a lucro. Você sabia disso, não?
Assenti com a cabeça.
– Sim, é propriedade da Corporação Wackenhut.
– Exatamente – disse ele. – Para cada dia que você passa no Buraco, Wackenhut cobra do governo mais 100 dólares. Enfim, sou Sam Hausman2. – Ele estendeu o punho fechado em direção a mim para um aperto de mão da prisão.
– Jordan Belfort – respondi, batendo as juntas dos meus dedos nas dele. – E você, está no Buraco por qual motivo?
– Entrei com pedido de penhora da casa do diretor da prisão e da casa de alguns guardas também.
Meus olhos quase saltaram para fora de meu crânio.
– Você entrou com um pedido de penhora da casa do diretor? Por que você faria isso?
Ele deu de ombros casualmente.
– Eu tenho meus motivos. Fiz o mesmo contra o juiz que me condenou. E o promotor também. Basicamente, destruí o crédito deles. E agora estou começando o processo de alienação desses bens. E você, está na prisão a troco de quê?
Meu Deus, aquele mullet era insano!
– Manipulação de ações. Um monte de outras coisas também. Tudo de colarinho branco. E você?
Conscientemente, ele me disse:
– Eu não fiz nada, sou inocente.
Nossa, que surpresa!, pensei.
– Bem, o que eles dizem que você fez?
– Eles dizem que dei cheques sem fundo, mas isso é mentira. Eu posso escrever todos os cheques do jeito que eu quiser, independentemente de quanto dinheiro há na minha conta. Essa é a lei.
– Ah, é mesmo? Por que isso? – perguntei.
– Porque o governo roubou minha certidão de nascimento no dia em que nasci e escondeu em algum cofre em Porto Rico. Em troca, eles me deram um laranja chamado SAM HAUSMAN, sim, em letras maiúsculas, não o legítimo Sam Hausman, em letras minúsculas. Quem eu realmente sou: Sam Hausman, em letras minúsculas.
Ele caminhou até sua cama, que estava a menos de 1 metro de distância, e me entregou um livro intitulado Redenção pela lei.
– Acredite em mim – disse ele –, depois que terminar de ler este livro, você vai entrar com pedidos de penhora contra o diretor, também. Entenda uma coisa: você não é nada mais que um escravo, Jordan. Você precisa recuperar seu laranja, não há outra maneira.
Eu balancei a cabeça e aceitei o livro. Então, para tirar uma com aquele maluco, perguntei:
– E o que dizer do pessoal do Imposto de Renda? Qual é a história com eles?
Ele sorriu conscientemente.
– A Receita Federal nem mesmo existe; de fato, se você encontrar uma lei que seja na Constituição dos Estados Unidos autorizando a Receita Federal a cobrar impostos, eu raspo a cabeça. – Você quer dizer, corta os mullets. – Existe apenas uma emenda que faz menção aos impostos, e ela nunca foi ratificada – com isso, ele estendeu a mão para uma pilha de papéis em sua cama e me entregou um que estava no topo. – Esta é uma lista de todos os senadores norte-americanos que ratificaram a 14a Emenda. Vá em frente e conte: você verá que não é suficiente para obter uma maioria legítima.
Assenti com a cabeça e peguei meu material de leitura, subindo para o beliche de cima. Passei os dias seguintes aprendendo tudo o que havia para saber sobre resgatar meu laranja. Quando eu não estava lendo sobre isso, Sam estava falando sobre isso, enquanto refeições pouco comestíveis eram deslizadas através de uma pequena abertura na porta de aço, três vezes ao dia. Sam insistia que qualquer coisa que eu não comesse devia ser jogada na privada, incluindo maçãs meio comidas e pacotes fechados de ketchup. Afinal, os malfeitores da Wackenhut reciclavam tudo o que sobrava, em uma tentativa de cortar custos.
A cada manhã, Sam sorria e dizia:
– É hora de alimentar o diretor!
Então ele fazia um número dois fenomenal e soltava a descarga com um aceno de cabeça.
Consegui escrever duas cartas por dia, uma para Chandler e outra para Carter. Decidi que seria melhor mentir para eles, dizendo-lhes como o Acampamento era maravilhoso e que eu estava jogando tênis todos os dias e me exercitando no ginásio. A única razão pela qual eu ainda não tinha telefonado era que demorava um pouco para conseguir ter uma conta de telefone.
E enquanto um dia se misturava ao seguinte, Sam me passou tudo sobre o Acampamento, que era, de fato, um lugar confortável para se cumprir a pena. Por uma taxa nominal, explicou ele, eu poderia viver como um rei; cozinheiro, mordomo, empregado, massagista e alguém para fazer o trabalho que me tivesse sido determinado, tudo isso poderia ser assegurado por um custo mensal de menos de mil dólares, pagos em selos, cigarros ou comida que eu tivesse comprado na intendência ou, ainda, ao pedir que um de meus amigos do lado de fora fizesse uma ordem de pagamento para a conta de outro detento. Embora esta última estratégia fosse um pouco contra as regras, todos estavam fazendo isso, ele assegurou.
Finalmente, na manhã de meu 7º dia na solitária, a porta de aço se abriu e eu ouvi as palavras mais gloriosas do mundo:
– De pé, Belfort. É hora de ir para o Acampamento.
Graças a Deus, pensei, quase deixando escorrer lágrimas. Pulei do beliche de cima com a velocidade de um coelho e me virei para Sam, dando uma última olhada para seu mullet de tirar o fôlego:
– Boa sorte no resgate de seu laranja.
Ele piscou.
– Esses cretinos estão exatamente onde queria que estivessem.
Realmente é o que parece, pensei.
Então eu saí da cela.
– VOU ENFIAR ISSO aqui em sua garganta – latiu Tony, o negociante de metanfetaminas, que ainda tinha que cumprir cinco anos de sua pena de oito.
– Vá em frente e tente – lati de volta. – Vai voltar direto para você.
Duas horas mais tarde, Tony, o negociante de metanfetaminas, estava de pé a aproximadamente 15 metros de mim, do outro lado da rede de tênis. Era um dia ameno de inverno, com sol, 15 graus, e era a vez do saque de Tony. Eu fazia o máximo para manter os olhos sobre ele, mas estava difícil. Afinal, tinha muita coisa acontecendo no Acampamento. Atrás de Tony havia um campo de futebol, onde um jogo acontecia; à sua direita havia uma quadra de basquete, onde um jogo também estava em andamento, e perto da quadra de basquete ficava um campo gramado onde duas dezenas de mexicanos estavam sentados em mesas de piquenique de madeira, enrolando tacos e burritos para uma festa na sexta-feira à noite.
E isso era só o começo: atrás de mim havia um campo de beisebol; à minha direita, uma pista de atletismo, um poço de ferradura, uma quadra de vôlei e uma cancha de bocha de terra vermelha; à minha esquerda, mais distantes, estavam as trilhas de concreto que levavam a um punhado de prédios baixos de concreto – o salão de jantar, a sala de recreação, a biblioteca, os quartos, a sala de música, a enfermaria e o edifício da administração do campo. Dispersas ao longo do perímetro, havia pequenas placas brancas – Fora dos limites – e, ao longe, depois das placas, estavam as planícies poeirentas da cidade de Taft, limitada por uma inexpressiva serra.
De repente, uma voz potente veio pelo alto-falante:
– Contagem! Hora da contagem! Todos voltem para a unidade para a contagem das 4 da tarde.
Eu estava prestes a largar minha raquete quando notei que nenhum dos outros campistas estava prestando atenção ao anúncio; em vez disso, continuaram fazendo o que estavam fazendo. Só quando veio o segundo anúncio, 10 minutos depois, eles começaram a se mexer. A unidade era um grande espaço, aproximadamente do tamanho de um campo de futebol. Ela estava cheia de cubículos de concreto, delimitada de um lado por banheiros, do outro por salas de TV e quartos e em frente por uma meia dúzia de escritórios da administração, onde a equipe fingia trabalhar.