Выбрать главу

Entrei na unidade e caminhei por um corredor estreito em direção ao beliche 12-Inferior. Em ambos os lados do corredor havia pequenos cubículos, cada um com talvez 3 por 5 metros. Assim como no Buraco, eles continham apenas o essenciaclass="underline" dois beliches, dois armários e um conjunto de aço de assento e mesa, soldados ao chão de concreto cinza.

Logo que cheguei, encontrei-me rapidamente com meu novo colega de beliche, que parecia um cara decente (a típica variedade de revendedor de drogas). Ele era baixo, atarracado, de cabelos e olhos escuros, e tinha sempre uma expressão sombria. Seu nome era Mark e, com exceção de seus dois dentes da frente, que estavam faltando, parecia razoavelmente saudável. Naquele momento, ele estava deitado em sua cama, lendo um livro. Ele prestou pouca atenção em mim quando entrei no cubículo e me sentei junto à mesa de aço.

Ouvi uma ágil voz feminina:

– Ei, Belfort!

Olhei para cima e: um choque! Havia uma pessoa sexy na entrada do cubículo, olhando para mim. Ela não devia ter mais que 1,65 metro e tinha cabelos castanhos, que descansavam sobre um par de ombros delicados e estavam puxados para trás, como os de uma líder de torcida, acentuando seus alegres pequenos seios. Parecia ter por volta de 30 anos e usava uma camisa rosa para fora da calça e jeans Levis apertados. No mundo lá fora eu não a teria caraterizado como maravilhosa, mas ali dentro parecia mais sexy que uma modelo da Victoria’s Secret.

Ela disse:

– Sou sua conselheira, senhorita Strickland.

O que aconteceu com a Snaggletooth?, pensei.

– O que aconteceu com a senhora Richards? – perguntei.

– Ela estava me substituindo na semana passada – ela olhou para mim por um momento e disse: – Bem, você não parece um cara que roubou 100 milhões de dólares. Até que parece bem inocente.

– Sim, já ouvi isso antes, mas sou definitivamente culpado do que fui acusado.

Com uma risada, ela continuou:

– A gente não ouve isso muitas vezes por aqui! Todo mundo é inocente em Taft. Na verdade, por falar nisso, como foi sua semana no Buraco, com Sam Hausman?

– Ele é um maníaco! Ele também entrou com um processo de penhora contra você?

Ela começou a rir.

– Não, mas sou minoria por aqui; ele fez isso contra praticamente todos os outros. Eu acho que ele gosta de mim – e encolheu os ombros. – Enfim, estou mudando você depois da contagem, seu novo beliche é o 42-Inferior. É o cubículo de Chong.

– Tommy Chong, o ator?

– Sim, achei melhor deixar vocês dois no mesmo lugar. Vai ser mais fácil manter os olhos em vocês.

Com isso, a senhorita Strickland sorriu e saiu sem dizer uma palavra.

Eu tinha ouvido falar que Tommy Chong estava no Taft cumprindo pena por causa de uma acusação ridícula de vender bongs* pela internet. Do pouco que eu sabia sobre o caso, era uma interpretação ridícula da justiça. Na verdade, a venda de narguilés ou bongs não era nem mesmo ilegal, mas ele tinha vendido pela internet (e assim atravessado as fronteiras dos estados) e violado a lei. Em consequência, tinha recebido uma pena de 10 meses.

Eu resisti à vontade de calcular comparativamente a justiça de nossas duas condenações; afinal, se vender bongs se traduzia em 10 meses na cadeia, então como deveria se traduzir o roubo de 100 milhões de dólares de milhares de investidores, os milhões de dólares transferidos ilegalmente para a Suíça e os atos de depravação que desafiavam as leis do homem e de Deus? Cerca de 10 mil anos, imaginei.

– Que merda que é isso! – reclamou meu colega de cela.

– O que é uma merda?

– Pessoas como você receberem tratamento especial por aqui.

– Como assim? Do que está falando?

Meu colega encolheu os ombros.

– Eu não estou dizendo que é culpa sua, mas estou aqui há 19 meses e a única vez em que Strickland me dirigiu a palavra foi pra me mandar arrumar a cama. No entanto, você está aqui só há algumas horas e ela vem pulando em sua camisa rosa e muda você para Tommy Chong. Veja: ela nem vai mandá-lo para a cozinha, como faz com qualquer outro detento recém-chegado. Aposto como vai fazer de você um cara para limpar a grama ou coisa assim, os melhores trabalhos daqui. – Então, em um tom amigáveclass="underline" – Enfim, tudo bem, o que eu realmente gostaria de fazer é ser seu cara na lavanderia. Eu vou cobrar 2 dólares por semana, além de outros 50 centavos pelo amaciante. Você pode me pagar tanto em selos quanto em latas de atum, o que ficar mais fácil para você.

– Tudo bem – respondi. – Eu pago em atum.

E veio então uma forte voz masculina da frente da unidade.

– Hora da contagem! Hora da contagem! Todos de pé para a contagem das 4 da tarde.

Mark saiu da cama e ficou de pé na frente do cubículo, assim como eu. Um silêncio tomou conta da unidade.

Alguns momentos depois, dois guardas vieram andando em um passo excessivamente rápido, olhando enquanto passavam. Os passos eram tão rápidos que eu tinha certeza de que não tinham nos contado, eles só presumiram que estávamos todos ali. Enfim, alguns minutos mais tarde, a mesma voz potente gritou “Certo!”, o nível de ruído aumentou de novo e os campistas começaram a passear pela unidade, como se fossem atletas em um vestiário.

Com um toque das juntas dos punhos fechados, me despedi de meu cara na lavanderia e me dirigi pelo corredor estreito para o 42-Inferior. Quando cheguei ao cubículo, encontrei Tommy sentado em sua cama, passando os olhos por uma pilha de cartas. Ele era muito mais bonito do que eu me lembrava de seus filmes, embora eu estivesse sempre tão chapado quando assistia a eles que bem poderia ter sido uma alucinação. Ele era magro e bronzeado, com cabelos grisalhos prateados e uma bem aparada barba da mesma cor.

– Tommy... – disse eu.

Ele olhou para cima e sorriu.

– É. Jordan, certo?

Eu assenti com a cabeça e nós apertamos as mãos da forma tradicional, ou seja, sem dedos batendo. Então, passamos os minutos seguintes em conversas à toa. Aparentemente, as notícias viajavam rápido por ali, porque Tommy parecia saber muito sobre meu caso, assim como eu sabia sobre o dele.

– Quer dizer que eles fizeram aquele filme, O primeiro milhão, sobre você? – perguntou ele.

– Na verdade, não – respondi. – É vagamente baseado na empresa que eu tinha, mas foi escrito a partir da perspectiva de um funcionário de nível muito baixo. Ele nem sequer começou a contar a história. Quer dizer, tem a cena em que eles pegam o ônibus para Atlantic City...

E, enquanto eu explicava os muitos furos do filme, minha mente começou a andar por dois caminhos.

No primeiro, as palavras foram saindo automaticamente:

– ... E eu posso jurar que meus corretores nunca pegaram um ônibus. Na verdade, se eles pegassem ônibus, seriam apedrejados até a morte caso isso fosse descoberto. A gente só usava limusines e jatinhos executivos...

E no segundo caminho, meu monólogo interno foi: Porra, não posso acreditar como Tommy Chong é diferente do que eu imaginava. É só olhar para a cara dele enquanto estou contando minha antiga vida de insanidade. Eu poderia jurar que tudo isso seria natural para ele, mas ele realmente parece chocado com minha depravação!

Só então outro preso apareceu na entrada do cubículo. Ele tinha uns 50 anos e parecia uma versão detonada de Robin Williams. Ostentava uma barba grisalha ondulada e suficientemente exuberante para uma família de pardais morar. Com formalidade exagerada, ele disse:

– Senhor Belfort, sou David, humildemente a seu serviço. – Ele se curvou. – Eu gostaria de ser seu mordomo. Eu farei qualquer coisa que me pedir: arrumar sua cama, limpar o cubículo, trazer-lhe o café da manhã, não há tarefa muito grande nem muito pequena. – Ele olhou para Tommy. – O senhor Chong, tenho certeza, vai atestar sobre o profissionalismo de meus serviços.