Dei de ombros, ainda ferido pelo desprezo que Tommy havia mostrado pela história do restaurante.
Ele disse:
– Significa que você sempre deve escrever sobre o extremo de alguma coisa. O máximo disso, o máximodaquilo, a garota mais bonita, o cara mais rico, a dependência de drogas mais estrondosa, a mais insana viagem de iate – ele sorriu calorosamente. – Era disso que se tratava sua vida, cara: o máximo de você mesmo. Entendeu o que eu quero dizer?
Sim, eu tinha entendido, mas não conseguia escrever sobre aquilo.
De fato, por um mês inteiro, dia e noite, tudo o que fiz foi escrever, e Tommy revisava meu livro e dizia coisas como: “Está desajeitado, é irrelevante, é chato, está péssimo, horrível”. Até que, finalmente, desisti.
Com o rabo entre as pernas, entrei na biblioteca da prisão, à procura de um livro para ler. Depois de alguns minutos, tropecei em A fogueira das vaidades. Eu me lembrava vagamente de ter visto o filme e, do jeito como me lembrava, era horrível. Ainda assim, tinha algo a ver com Wall Street, então peguei e li os dois primeiros parágrafos... Que total absurdo que era! Quem iria ler aquela porcaria?
Fechei o livro e olhei para a capa. Tom Wolfe. Quem era esse porra? Por curiosidade, reli os primeiros parágrafos, tentando descobrir o que estava acontecendo. Era muito confuso. Aparentemente estava acontecendo uma revolta, uma revolta interior ou algo assim. Eu continuei lendo, tentando manter o foco. Ele estava falando sobre uma senhora; não dava para ver a mulher, mas ele sabia pelo som da voz dela como seria sua aparência: 90 quilos! Com a estrutura de um queimador de óleo! Depois de ler isso, deixei cair o livro e comecei a rir alto. E foi assim. Fui fisgado.
Li o livro todo em um dia, de cabo a rabo, 698 páginas, e ri alto o tempo todo. Fiquei encantado. Hipnotizado. Não só era o livro mais brilhante que eu já tinha lido, mas havia algo sobre o estilo de escrita dele que ressoou em minha alma ou, como Tom Wolfe poderia ter colocado, em minha alma, meu coração, meu fígado e meu dorso.
Juro por Deus, devo ter lido aquele livro uma dezena de vezes, até que chegou ao ponto em que conhecia cada palavra de cor. E então li de novo, para aprender a gramática. Depois paguei a meu cara de confiança na lavanderia, Mark, o atravessador de drogas (que também era um leitor ávido), dez latas de atum para que fizesse um pente fino no livro e anotasse cada analogia em um pedaço de papel separado. Então li isso mais de uma vez, até que fosse capaz de recitar em meu sono. Antes que eu percebesse, uma voz tinha surgido em minha cabeça: minha voz de escritor. Era irônica, desinibida, desagradável, interesseira e muitas vezes desprezível, mas, como Tommy explicou, era engraçada demais.
No entanto, eu não iria realmente escrever minhas memórias na prisão, o que fiz foi aprender a escrever. Na verdade, quando saí de lá, 20 meses depois, não tinha escrito uma única página. Era 1o de novembro de 2005 e eu estava morrendo de medo. Não tinha a menor ideia do que pretendia fazer da minha vida. Acho que muitas pessoas começam a escrever por inspiração ou por desespero. No meu caso, era desespero. Eu tinha um passado terrível e um futuro incerto, e não havia maneira de conciliar os dois.
Então me sentei na frente do laptop e escrevi o que achei que seria a frase de abertura perfeita. Era como eu me sentia enquanto estive na prisão durante todos aqueles meses e foi como eu me senti em meu primeiro dia em Wall Street. Na verdade, era o que eu sentia naquele mesmo momento, olhando para a tela em branco do computador.
“Você é pior que um balde de merda”, escrevi.
* WASP significa “Branco, Anglo-Saxão e Protestante” (White, Anglo-Saxon and Protestant). Costuma ser usado em sentido pejorativo para designar os norte-americanos de religião protestante e ascendência britânica que supostamente detêm enorme poder econômico, político e social. (N. T.)
** Mayflower foi o navio que, em 1620, transportou os primeiros peregrinos da Inglaterra para o Novo Mundo. (N. T.)
* Agulha, em inglês. (N. T.)
* A Mulberry Street faz parte do centro do bairro italiano, e a Court Street fica no centro do Brooklyn, bairro onde mora a maior parte da comunidade judaica da cidade de Nova York. (N. T.)
* A Racketeer Influenced and Corrupt Organizations (RICO) é uma lei de combate a organizações corruptas e influenciadas pelo crime organizado que entrou em vigor em 1970 com a finalidade específica de ajudar no combate à máfia. (N. T.)
1 O nome foi mudado.
* O Medical College Admissions Test (MCAT) é uma prova feita nos Estados Unidos por pessoas que querem entrar na escola de medicina. (N. T.)
1 Os nomes foram trocados
2 O nome foi trocado
* No original, uma brincadeira com a expressão cook the book (cozinhar os livros, em tradução literal), que significa falsificar os livros contábeis. (N. T.)
** As penny stocks são ações com cotações muito baixas, significando algo como ações de “centavos”, ou seja, que não valem nem 1 dólar e são negociadas aos centavos. (N. T.)
1 O nome foi trocado.
* O primeiro navio a trazer os puritanos ingleses aos Estados Unidos. (N. T.)
* Marca da Procter & Gamble de limpador multiuso lançado em 1958, com um personagem em estilo marinheiro, bronzeado, alto e forte, vestindo camiseta regata, além de um brinco na orelha esquerda. (N. T.)
2 O nome foi trocado.
3 O nome foi trocado.
* No original, “Up your nose with a rubber hose”, insulto repetido sempre pelo personagem de John Travolta nesse seriado, muito popular nos Estados Unidos nos anos 1970. O insulto virou um bordão na época. (N. T.)
1 O nome foi trocado.
2 O nome foi trocado.
1 O nome foi trocado.
1 O nome foi trocado.
* Fat farm, em inglês. A pronúncia de “Phat” e “fat” são iguais em inglês, e “fat” quer dizer “gordo” (N. T.)
* A pronúncia de sauce (molho) e source (fonte) podem soar parecidas em inglês. (N. T.)
1 O nome foi trocado.
*Bong , também conhecido como purificador, é um aparelho de vidro utilizado para fumar qualquer tipo de erva, principalmente maconha, tabaco e derivados. É similar a um narguilé. (N. T.)
2 O nome foi trocado.
Agradecimentos
Mais uma vez, gostaria de agradecer meu agente literário, Joel Gotler, por todo seu apoio. Ele tem sido muitas coisas para mim ao longo dos anos e acima de tudo, um amigo.
Eu também gostaria de agradecer a minha editora, Danielle Perez, por todo seu maravilhoso discernimento. Eu aprendi mais sobre a técnica de escrita com Danielle que com todos os meus professores de inglês somados, desde o jardim de infância até a faculdade.
E, claro, gostaria de agradecer a meu editor, Irwyn Applebaum, que me ajudou de tantas maneiras que nem consigo contá-las todas, e também muitos agradecimentos a Barb Burg, Theresa Zoro e Chris Artis, do departamento de divulgação da Bantam Dell.
Muito obrigado a Alexandra Milchan, por trabalhar tão duro pelo filme e, é claro, a Scott Lambert, que tem sido um amigo e conselheiro. Scotty e Alexandra são casados, e que casal eles formam! Sair para jantar com eles é como assistir a dois pistoleiros atirando, embora com BlackBerrys em vez de armas.