Segundo o planejado, precisamente às 9 horas, Monsoir estacionou em uma suja garagem subterrânea no lado sul de uma via de mão dupla encardida. Quando saí da limusine, eu disse:
– Fique aí até que eu o chame pelo bipe, Monsoir.
E, enquanto eu estiver fora, não tente explodir nenhuma ponte, pensei.
Então, fechei a porta do carro na cara dele e desci um pequeno lance de escadas até o piso inferior do estacionamento.
Ouvi uma voz familiar.
– Jordan, por aqui!
Virei à direita e lá estava o agente especial Gregory Coleman. Ele estava de pé em frente a um típico carro padrão do governo, ou seja, de quatro portas, sem batidas, talvez com dois anos de uso, e fabricado nos Estados Unidos. De fato, era um Ford Taurus 1997 marrom, com janelas levemente escurecidas e sem sirene. Coleman estava encostado junto à porta de trás do lado do passageiro com os braços cruzados, a pose do guerreiro vitorioso.
De pé ao lado dele, com um sorriso amável no rosto, pude ver seu parceiro em treinamento, o agente especial Bill McCrogan. Eu tinha me encontrado com McCrogan apenas uma vez, na noite de minha prisão, e por alguma inexplicável razão tinha gostado dele. Talvez porque parecesse uma pessoa gentil demais para ser um agente do FBI, embora eu tivesse certeza de que, assim que tivesse acabado seu treinamento, ele não seria mais um cara tão legal. McCrogan era alguns centímetros mais alto que Coleman e parecia ter uns 30 anos. Seus cabelos castanhos eram grossos e encaracolados, tinha um rosto meio padrão e uma constituição física média. Sobre seus olhos azuis claros, usava um par de óculos de armação de arame que o fazia parecer um sujeito temente a Deus. Um mórmon, pensei, provavelmente vindo de Salt Lake City, Provo ou talvez até das colinas de Idaho… Mas que merda importava de onde ele tinha vindo?
Coleman, por outro lado, já se parecia mais com um italiano ou um grego, embora eu imaginasse que sua origem era alemã, por causa do sobrenome. Sim, ele era, provavelmente, das colinas da Baviera. Ele tinha aproximadamente a mesma altura que eu e não pesava mais que 75 quilos. Tinha o peito largo, mas não excessivamente. Suas feições eram finas e equilibradas, apesar de sempre parecer suspeitar de tudo, especialmente de mim. Os cabelos castanhos eram aparados bem curto, penteados para o lado, e pude ver alguns fios grisalhos perto das orelhas, que deviam ser resultado de ele ter ficado correndo atrás de mim nos últimos cinco anos, o que seria suficiente para fazer qualquer homem ficar abastecido de muitos cabelos brancos. Sua pele era de um suave tom oliva, o nariz era aquilino, a testa, grande, e ele tinha os olhos castanhos mais penetrantes que você possa imaginar. Eles pareciam mais afilados que os olhos de um falcão. Coleman devia ter mais ou menos a minha idade, o que significava que tinha estado atrás de mim desde seus 20 e tantos anos! Caramba… Que tipo de homem pode se tornar tão obcecado em trazer alguém para a Justiça? Quer dizer, realmente, esse cara devia ter um caso grave de TOC, porra! E justo comigo ele tinha ficado obcecado? Mas que merda era tudo aquilo…
– Bem-vindo à equipe USA! – disse o agente TOC, sorrindo e estendendo a mão direita. No pulso ostentava um relógio esporte preto de plástico, de corpo redondo, que devia ter custado 5,99 dólares.
Apertei aquela mão com cautela e procurei por algum traço de ironia no rosto do homem. Mas tudo que encontrei foi o que me pareceu um sorriso honesto.
– Obrigado – murmurei – Mas eu achei que você estaria se regozijando um pouco. Quer dizer, não o culparia se você o fizesse.
O Mórmon entrou na conversa:
– Você deve estar brincando. Ele está triste desde o dia em que o pegou! Ele gostava mesmo era da perseguição – e olhou para o agente TOC –, certo, Greg?
TOC revirou os olhos e assentiu com a cabeça.
– É, sei lá… – sorriu de novo para mim, mas esse último sorriso estava salpicado com um pouco de tristeza. – Estou contente que você tenha finalmente se decidido a se unir aos mocinhos. Você está fazendo a coisa certa. Você realmente está, pode crer.
Dei de ombros.
– Sim, mas… Eu me sinto um cara desprezível…
– Não, você não é – devolveu ele.
– Claro que não – acrescentou o Mórmon, com um sorriso que mostrava muitos dentes. – Você é muito pior que isso! – completou, soltando uma calorosa risada mórmon e depois estendendo a mão temente a Deus para um aperto de mão mórmon.
Sorri para aquele rapaz de bom coração e apertei sua mão obedientemente. Depois, levei um tempo para observar meus dois novos amigos. Ambos usavam ternos azuis-escuros, camisas de um branco nítido, uma gravata azul bem careta e sapatos pretos de amarrar (um conjunto típico dos homens do governo). Eles tinham boa aparência, na verdade; tudo se encaixava muito bem neles e os ternos pareciam ter sido passados a ferro à perfeição.
De qualquer maneira, minha roupa parecia bem mais interessante que a deles. Achei que deveria estar bem vestido em meu primeiro dia como delator, então escolhi cuidadosamente cada peça que iria usar. Trajava um terno de botão único de 2.200 dólares, uma camisa branca tradicional, de colarinho, uma gravata preta de crepe e sapatos pretos de amarrar. Mas, diferentemente dos sapatos dos agentes, bem rústicos, os meus eram de couro macio de napa e tinham sido feitos sob encomenda na Inglaterra por quase 2 mil dólares. Bom para mim!, pensei. Eu era o campeão por uma larga margem no departamento de sapatos.
E no departamento de relógios também.
De fato. Para as festividades do dia, eu tinha decidido usar meu Tabbah suíço de 26 mil dólares, com sua pulseira cor de chocolate e sua enorme face retangular. Era do tipo daqueles relógios suíços ultrafinos que denunciava a riqueza para os familiarizados com a grife e que não pareceria nada especial para pessoas com a renda de Coleman e McCrogan. Tinha sido uma jogada inteligente da minha parte, a de ter deixado o Bulgari em casa, na caixa, naquela manhã. Afinal, por que deixar meus novos amigos com inveja? Será que eles teriam o direito de arrancar o relógio direto do meu pulso e colocar no deles? (Seriam os despojos de guerra, por assim dizer…) Hummm, isso era algo que eu teria que perguntar a Magnum.
O Mórmon e eu ainda estávamos nos cumprimentando, quando ele disse:
– Agora falando sério, Jordan, você está realmente fazendo a coisa certa aqui. Bem-vindo ao time USA!
– Sim – repliquei, num tom impregnado de ironia. – Estou fazendo a única coisa que poderia fazer, certo?
Ambos franziram os lábios e assentiram lentamente com a cabeça, como se dizendo “Sim, ameaçar a esposa de um homem de fato lhe deixa poucas opções, não é mesmo?”. Então Coleman disse:
– De toda forma, sinto muito sobre essa coisa meio capa e espada, mas a gente acha que alguns de seus velhos amigos poderiam tentar segui-lo. Por isso, nós vamos levá-lo pelas ruas do Brooklyn por um tempo para sacudir qualquer pista que tenha deixado pelo caminho.
Maravilhoso, pensei. O agente TOC devia ter informações que não pretendia compartilhar comigo – por exemplo, alguém que estivesse tentando me matar! Isso era algo que nunca me ocorrera, a ideia de ser assassinado durante o negócio da cooperação com o FBI, mas, agora que pensara sobre isso, me matar seria uma coisa que faria todo o sentido para um bocado de pessoas, não é mesmo? Na verdade, talvez eu devesse apenas assassinar a mim mesmo e não dar esse trabalho às pessoas, resolvendo todos os problemas. É lógico que a Duquesa ficaria feliz com isso! Ela iria dançar sobre minha tumba, cantando “Isso era dinheiro manchado de sangue! Isso era dinheiro manchado de sangue!”, e então acenderia uma fogueira cerimonial e queimaria nossa certidão de casamento.
Caralho, eu tinha de me controlar! Eu precisava me concentrar. Tinha de afastar aquela linda malandrinha loira de meus pensamentos. Meu foco tinha que estar naqueles dois à minha frente. Respirei fundo e disse: