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– Quem você acha que pode estar atrás de mim?

TOC encolheu os ombros.

– Não sei. Quem você acha que pode querer pegar você?

Também encolhi os ombros.

– Não sei. Acho que todo mundo, né? – parei por um instante, depois acrescentei: – Ou todo mundo, exceto minha esposa. Quer dizer, ela deve estar pouco se lixando sobre onde estou ou para onde estou indo, desde que não chegue perto dela.

– É mesmo? – disse TOC. – Por que você diz isso?

– Porque ela me odeia, porra! É por isso que eu digo isso!

“E porque ontem à noite ela me disse que nunca mais deixaria eu enfiar meu pênis dentro dela de novo”, disse a mim mesmo.

– Bem… – murmurou ele. – Isso me surpreende.

– Ah, é? Por que?

TOC deu de ombros mais uma vez.

– Não sei. Na noite em que você foi preso, me pareceu que ela o amava pra valer. Para falar a verdade, perguntei isso a ela, se ela o amava, e ela disse que sim.

– Verdade – concordou o Mórmon.

Apertei os olhos, como se estivesse confuso.

– Por que vocês perguntariam uma coisa dessas à minha esposa? Isso não estaria um pouco fora do foco da investigação?

Beeeemm– chiou o TOC –, você ficaria surpreso com as coisas que conseguimos extrair de uma esposa se ela estiver descontente. Algumas vezes essas esposas gritam “Meu marido tem dinheiro escondido no porão! Ele não paga os impostos!” enquanto estou acompanhando o marido algemado até o carro – riu o TOC. – Mas não sua esposa. Ela não falou nada.

– Não disse nada – acrescentou o Mórmon. – Quer dizer, eu posso estar enganado, mas acho que sua esposa ainda o ama.

– Eu odeio acabar com a festa – ponderou Coleman –, mas precisamos cair na estrada. Além do mais, este lugar aqui fede a… hummm…

– Bosta de cachorro? – sugeri.

– Argh, isso mesmo – respondeu ele, abrindo a porta traseira do passageiro e fazendo sinal para eu entrar no carro. – Basta sentar no banco de trás e manter a cabeça para baixo, o.k.?

Eu olhei para o TOC por alguns bons segundos, me perguntando se ele estava se referindo à possibilidade de um atirador estar por ali me esperando, escolhendo a hora certa para explodir meus miolos. Mas rejeitei aquela ideia ridícula; afinal de contas, se alguém estivesse querendo me matar, haveria momentos mais convenientes que aquele, em que eu estava sob a proteção de dois agentes do FBI…

Então entrei no carro depois de dar de ombros e logo estávamos a caminho de nosso destino, passando pelas ruas malcheirosas de Sunset Park. Fizemos uma série de curvas para a direita e para a esquerda, juntamente com ocasionais conversões, enquanto eles tentavam se livrar de veículos imaginários que pudessem estar em nosso encalço. Ao mesmo tempo, ficamos conversando sobre assuntos genéricos, os três conscientes de que seria inadequado discutir algo significativo sem meu advogado presente.

Para minha surpresa, ambos pareciam genuinamente preocupados com o rompimento de meu casamento, sobretudo o impacto que poderia ter sobre meus filhos. Senti-me muito mais leve e otimista quando eles repetiram a história de como a Duquesa tinha professado seu amor por mim na noite de minha prisão. Além disso, eles estavam convencidos de que, uma vez que o choque inicial tivesse passado, ela iria preferir continuar casada. Mas eu sabia que ambos estavam errados, eles não conheciam a Duquesa como eu. Ela tinha decidido seguir em frente sem mim, e assim seria.

No momento em que atingimos a ponte de Brooklyn, meu espírito estava mais deprimido que nunca. Eu estava correndo contra o tempo, me aproximando rapidamente de um ponto sem retorno. A sede do FBI ficava num prédio a menos de cinco minutos de distância.

Sim, havia alguns dias bem sombrios a minha espera, isso era algo de que eu tinha muita certeza. A única dúvida era: quão profundo seria aquele buraco? Respirei fundo e tentei fortalecer minha mente e meu espírito, mas foi inútil.

Em breve eu estaria cantando na Court Street.

CAPÍTULO 6

O CANALHA E A BRUXA

O escritório do FBI em Nova York ocupava os andares 20, 21 e 22 de uma torre de concreto e vidro de 42 andares em Lower Manhattan. A área, que era conhecida como Tribeca, era a parte da cidade que incluía Wall Street, os tribunais federais, o World Trade Center e a menos respeitada de todas as instituições governamentais: o Serviço de Imigração e Naturalização.

Caminhei por um longo corredor estreito no subsolo do edifício, com Coleman e McCrogan me escoltando, cada um de um lado. Coleman tinha acabado de explicar que estávamos na parte do edifício que normalmente era utilizada para as inquirições.

Assenti com a cabeça respeitosamente e continuei andando, resistindo à vontade de perguntar a ele se o FBI considerava a palavra inquirição como sinônimo de interrogatório. De qualquer maneira, eu não tinha dúvida de que muitas coisas que tinham acontecido ali embaixo não se coadunavam necessariamente com os direitos civis (provavelmente tinha rolado algum tipo de tortura leve, alguma privação de sono e muitas violações de habeas corpus). Mas achei melhor manter esses pensamentos errantes só para mim e continuei assentindo e caminhando, mantendo uma expressão neutra no rosto, enquanto ambos me escoltavam até uma pequena sala de interrogatório que ficava no final do corredor.

Dentro da sala, três pessoas já se encontravam sentadas em poltronas pretas baratas posicionadas ao redor de uma mesa de reuniões de madeira barata. Essa sala não tinha janelas, apenas lâmpadas fluorescentes emitindo um brilho azul tuberculoso. As paredes eram completamente nuas, pintadas com um perturbador branco cinzento de hospital. De um lado da mesa, estava sentado meu confiável advogado, Gregory J. O’Connell, também conhecido como Magnum, sorrindo, parecendo mais imponente e garboso que nunca. Ele estava usando um terno cinza risca de giz, com camisa branca e gravata vermelha listrada. Parecia sentir-se em casa, ele mesmo um antigo promotor que agora desfrutava do prazer de defender um culpado.

Do lado oposto ao de Magnum estavam sentados um homem e uma mulher. O homem já me era familiar desde o dia de minha acusação, quando ele disse todas aquelas coisas boas a meu respeito durante minha audiência da fiança. Seu nome era Joel Cohen, e pouco mais de dois anos antes ele havia se unido a TOC para me trazer à Justiça, sucedendo com êxito a meia dúzia de promotores anteriores que haviam fracassado.

Na essência, por mais dedicado e aguçado que TOC fosse, ele precisava de alguém com esse mesmo espírito para ser sua contrapartida dentro da Procuradoria-Geral, a fim de lidar com o lado legal das coisas. TOC só podia mesmo investigar; ele precisava de um canalha como Joel Cohen para me processar.

Naquele exato momento, o Canalha estava inclinado para a frente em sua poltrona, com os cotovelos ossudos apoiados nos braços da cadeira. Ele estava me encarando com os olhos apertados, lambendo os beiços interiormente, não havia dúvidas. Ele usava um terno cinza barato, uma camisa branca barata, uma gravata vermelha barata e mantinha uma expressão sinistra. Tinha uma maçaroca de cabelos castanhos curtos, testa grande, nariz carnudo e um rosto pálido. Ele não era de todo feio, porém estava despenteado, malcuidado, como se tivesse acabado de sair da cama e vindo imediatamente para o escritório. Mas aquilo tinha sido planejado, imaginei. Ah, sim, o Canalha estava tentando fazer uma declaração, a de que agora que estávamos em seu mundo, o preço de meu terno, a reputação de minha alfaiataria e o bom gosto de meu cabeleireiro não importavam. Era o Canalha quem detinha o poder, e eu era seu prisioneiro, independentemente da aparência de cada um. Ele tinha estatura e peso médios também, embora demonstrasse aquele desleixo degenerado mencionado acima, o que o fazia parecer ainda mais baixo. Eu não tinha dúvida de que ele me desprezava tanto quanto eu o desprezava. Ele tinha um olhar em seu rosto que dizia algo do tipo: “Bem-vindo ao meu covil subterrâneo, prisioneiro! E que a tortura comece!”.