A terceira ocupante da sala era uma pequena e tímida criatura chamada Michele Adelman. Ela estava sentada à esquerda do Canalha. Eu nunca tivera a oportunidade de encontrá-la antes, mas já conhecia sua reputação. Seu apelido era Bruxa Má do Leste, e obviamente ela o tinha ganhado devido a sua estranha semelhança, tanto fisicamente quanto na personalidade, com a velha bruxa de O mágico de Oz. E uma vez que Michele (e Joel) trabalhava como promotora assistente no Distrito Leste de Nova York, aquele apelido fazia total sentido.
A Bruxa parecia agachada, com cerca de um 1,50 metro, pouco mais que isso, uma grande juba de cabelos crespos e escuros, olhos escuros e redondos, lábios finos e um queixo curto. Eu fiquei imaginando como ela ficaria com cara de rato se estivesse com um pedaço de queijo suíço entre as patinhas e começasse a mordiscá-lo. E só conseguia imaginar a cara de bruxa que ela teria se montasse num cabo de vassoura e desse uma volta pela sala de interrogatório. Estava vestindo um terninho azul-escuro e mantinha uma expressão severa no rosto.
– Bom dia! Gostaria de apresentá-lo às duas pessoas com quem você deverá passar bastante tempo durante os próximos meses – disse Magnum, e fez um sinal com a mão, apontando a Bruxa e o Canalha, que obedientemente assentiram com a cabeça. Então continuou: – Jordan, este é Joel Cohen, que acho que você já teve o prazer de conhecer – inclinei-me e apertei a mão do Canalha, me perguntando se ele não tentaria passar uma algema em torno de meus pulsos –, e esta é Michele Adelman, que acredito que você não tenha tido o prazer de conhecer.
Apertei a mão da Bruxa, com medo de que ela pudesse me transformar em uma salamandra. Magnum continuou, assentindo com a cabeça:
– Bem, eu gostaria que todos aqui soubessem que Jordan está totalmente comprometido nesse processo de colaboração. Ele tem a intenção de ser honesto e franco em todas as oportunidades, e posso garantir que as informações que ele possui são extremamente valiosas para sua luta contra o crime e a injustiça em Wall Street.
Mas que monte de merda! E dos grandes!
– Isso é ótimo – replicou o Canalha, apontando uma cadeira ao lado de Magnum. – Estamos todos ansiosos por sua cooperação, Jordan, e sei que posso falar por todos os presentes aqui que não guardamos nenhum tipo de rancor em relação a sua pessoa – com o canto dos olhos eu pude notar que TOC estava revirando os olhos, enquanto ele e Mórmon se sentavam um de cada lado do Canalha e da Bruxa. – E afirmo que, se você agir de modo correto conosco, será tratado de forma justa.
Assenti com a cabeça, sem acreditar em uma só palavra do que ele acabara de dizer. TOC seria alguém que me trataria de forma justa, ele era um homem honrado. Mas não o Canalha; ele tinha um sentimento hostil por mim e me faria mal sempre que pudesse. Sobre a Bruxa, no entanto, eu não tinha certeza. De acordo com Magnum, ela detestava todos os homens, incluindo os agentes TOC e Mórmon, de forma que eu não teria nenhum interesse especial da parte dela. Meu problema era mesmo o Canalha. Esperávamos que ele saísse do escritório da Promotoria antes que eu fosse sentenciado. Aí tudo ficaria bem.
Com grande humildade, respondi:
– Eu acredito em você, Joel, e, como Greg já disse, estou totalmente comprometido com essa minha atitude colaborativa. Pergunte o que quiser, e eu responderei da melhor maneira que puder.
– Você afundou seu iate para conseguir o dinheiro da seguradora? – perguntou de repente a Bruxa. – Vamos ouvir a verdade aqui.
Eu olhei para ela e lhe ofereci um sorriso morto. Notei que, em cima da mesa, havia um jarro grande de água com seis copos ao lado, um dos quais estava cheio pela metade. O que aconteceria se eu atirasse esse copo de água na Bruxa? Ela provavelmente começaria a gritar: “Socorro! Estou derretendo! Estou derretendo!”. Mas achei melhor manter esse pensamento só para mim mesmo, e tudo o que disse foi:
– Não, Michele. Se eu quisesse afundar o barco e pegar o dinheiro do seguro, não teria feito isso com minha esposa e eu a bordo.
– E por que não? – rebateu a Bruxa. – Esse seria o álibi perfeito.
– E também seria uma maneira perfeita de se matar – rosnou TOC. – Ele foi pego em uma tempestade, Michele. Vá ler a revista Yachting. Está tudo lá.
Com grande confiança, Magnum disse:
– Eu posso garantir a todos aqui presentes que Jordan não afundou seu iate pelo dinheiro do seguro. Certo, Jordan?
– Absolutamente – respondi. – Mas não vou negar que eu odiava aquela coisa. Era uma dor de cabeça flutuante de 170 pés. Estava sempre quebrando e queimava dinheiro mais depressa que o Haiti – dei de ombros inocentemente. – Seja como for, fiquei contente quando aquela banheira afundou.
Será que eles queriam mesmo que eu contasse como o iate tinha afundado? Aquilo tinha sido um acidente… A única coisa da qual eu poderia ser acusado era a de fazer um mau julgamento, comportamento que na ocasião andava meio prejudicado. Eu estava sob a influência de uma tal quantidade de drogas que poderia sedar a Guatemala inteira, então tinha forçado o capitão a meter o barco no meio de um vendaval de grau 8, para acabar com meu tédio induzido por drogas.
– De qualquer forma – disse Magnum –, você tem sua resposta, Michele. Aquilo foi um acidente.
Assenti em concordância, sentindo-me mais confiante depois de nosso primeiro embate. Tinha sido completamente inócuo, e Magnum e eu tínhamos tratado daquilo maravilhosamente, neutralizando o feitiço da Bruxa. Ou era isso o que eu pensava, até que o Canalha disse:
– Quando o iate estava afundando, não é verdade que você telefonou para Danny Porush e disse a ele que tinha 10 milhões de dólares em dinheiro enterrados em seu quintal e que, se você e sua mulher morressem, ele deveria desenterrar o dinheiro e garantir que fosse entregue a seus filhos?
Olhei em volta da sala de interrogatório e todos os olhos estavam em cima de mim, incluindo os de Magnum. TOC tinha um sorriso irônico no rosto, que dizia algo do tipo: “Veja só, Jordan, eu sei de coisas sobre você que você nem imaginava que eu soubesse!”. O Mórmon, no entanto, mostrava um sorriso mais travesso, como se dissesse: “Eu divido esses 10 milhões com você se me entregar um mapa do tesouro e deixar os outros fora dessa parada”. Mas a Bruxa e o Canalha mantinham expressões sombrias, passando a mensagem: “Vamos lá, conte uma mentira e você vai ver o que lhe acontece!”.
Ironicamente, eu não tinha a mínima ideia sobre o que eles estavam falando. Na verdade, eu estava atônito por três motivos: primeiro, porque eu não tinha enterrado nem 10 dólares no fundo de meu quintal, quanto mais 10 milhões; em segundo lugar, não havia como provar isso, a não ser levando TOC ao meu quintal com uma pá e uma picareta para escavar 20 mil metros quadrados da grama supercara importada das Bermudas; e em terceiro lugar, por causa da maneira como havia sido formulada a pergunta, insinuando que a informação teria vindo da parte de Danny Porush, o que demonstrava que ele estava cooperando também.
E isso era tanto uma coisa boa quanto uma coisa ruim. Pelo lado bom, significava que eu não teria de delatar Danny, o que tinha sido algo que Magnum havia previsto. Pelo lado não tão bom, Danny tinha sido meu braço direito, o que significava que qualquer coisa que eu dissesse seria checada com ele para garantir sua exatidão. Eu teria que ser extremamente cauteloso com essa situação; as mentiras teriam de ser evitadas. Seria simplesmente muito fácil ser pego. A omissão dos fatos, na verdade, seria minha única esperança. Afinal, reter informações poderia ser classificado apenas como um lapso da memória.
Com um toque de desdém, respondi: