– Essa é a coisa mais ridícula que já escutei, Joel – sacudi a cabeça e deixei escapar uma risadinha cínica. – Olhe, não sei de onde você tem recebido suas informações, mas juro que isso é completamente falso.
Olhei para o TOC. Sua expressão era neutra, seus olhos de falcão estavam ligeiramente cerrados, como se ele estivesse me avaliando. Olhei para ele diretamente nos olhos e continuei:
– Acredite em mim, Greg, quem quer que tenha lhe dito isso está gozando com sua cara. Pense nisso por um segundo: quem em sã consciência iria enterrar 10 milhões de dólares em seu quintal? Eu teria de ter escavado o buraco no meio da noite e, em seguida, reposto o gramado antes de o sol nascer. E eu não sou exatamente o sujeito mais inclinado a fazer esse tipo de esforço manual. De fato, na última vez que a lâmpada de um de meus abajures queimou, eu joguei fora o abajur… – e olhei diretamente nos olhos do Canalha.
– Você tem um advogado muito competente – bufou Joel –, por isso tenho certeza de que ele lhe explicou que, se você for pego mentindo ou tentando nos enganar da maneira que for, nós teremos o direito de rasgar seu acordo de cooperação e atirá-lo no cesto de lixo – ele me dirigiu um sorriso irônico. – Isso quer dizer que você será condenado sem o benefício da carta da Promotoria, o que se traduz em mais ou menos 30 anos em uma…
Magnum o cortou:
– Ei, ei, ei, Joel! Acalme-se! Jordan está plenamente ciente de suas obrigações, e ele tem toda a intenção de seguir de acordo com elas.
O Canalha deu de ombros.
– Eu não estou dizendo que ele não sabe disso – devolveu. – Mas é minha obrigação legal informá-lo sobre o terrível destino que pode se abater sobre sua pessoa – e sobre como isso me deixaria feliz, era o que seu tom de voz implicava – se ele for condenado sem o benefício da carta.
O Canalha se virou para me olhar diretamente nos olhos e acrescentou:
– E lembre-se ainda de que todas as informações que nos fornecer podem ser usadas contra você caso mude de ideia e decida enfrentar o tribunal.
– Estou bem informado sobre tudo isso – respondi calmamente. – Greg me explicou ontem à tarde. Mas você não precisa se preocupar, eu não vou colocá-lo em uma posição em que possa arruinar minha vida, Joel – por mais que eu tentasse, minhas últimas palavras escorregaram de minha boca com uma dose substancial de ironia.
– Sabem de uma coisa? Eu acho que este pode ser um bom momento para conversar com meu cliente – disse Magnum. – Vocês poderiam nos dar alguns minutos?
– Sem problema – disse o Canalha, levantando-se de sua cadeira.
Ele sorriu para a Bruxa Má do Leste, que se ergueu de sua cadeira, seguida pelo TOC e pelo Mórmon. Então, numa fila única, todos saíram da sala e fecharam a porta atrás deles. No momento em que saíram, pulei de minha cadeira, me levantei e grunhi:
– Isso tudo é uma grande merda, Greg, uma grande merda! Você tinha razão sobre esse filho da puta, ele é um completo imbecil! E aquela outra, a Michele Adelman, puta merda! É uma vadia! Alguém devia dar a ela uma vassoura e mandá-la de volta para a Terra de Oz!
Magnum concordou com a cabeça, levantando-se lentamente de sua cadeira até ficar a minha frente, cerca de duas cabeças acima da minha. Com um sorriso amigável, ele disse:
– Antes de qualquer coisa, eu quero que você se acalme. Respire fundo e conte até dez; então, quando você estiver mais calmo, aí nós poderemos conversar sobre esses 10 milhões enterrados no fundo do seu quintal.
Olhei para cima, para Magnum, cuja cabeça agora parecia encostar nas lâmpadas fluorescentes do teto.
– Você quer, por favor, se sentar? – exigi. – Você é alto pra caralho! Eu acabo perdendo a perspectiva das coisas quando nós dois estamos de pé – e fiz sinal para que ele se sentasse.
– Você não é tão baixinho assim – respondeu ele, olhando para o topo de minha cabeça como se eu fosse um anão. – Você tem é complexo, isso sim – ele estendeu a mão enorme e a pousou em meu ombro. – Tem mais, eu acho que, quando isso tudo acabar, você deveria buscar ajuda para tratar disso.
Soltei um suspiro.
– Tá, claro, eu vou procurar o psiquiatra da prisão quando não estiver ocupado sendo enrabado por Bubba, o Touro Viado… – balancei a cabeça, frustrado. – Olhe, Greg, eu não enterrei nem um centavo no quintal nem em nenhum outro lugar.
– Isso é ótimo – disse Magnum, sentando-se de novo. – Então não há nada com que se preocupar. Joel terá de escrever a carta para você, mesmo que ele não acredite em uma só palavra do que você disser. Ele só poderá reter a carta se você for pego numa mentira de maneira indiscutível. Mas você terá que lhe fornecer uma declaração financeira – parou por alguns instantes. – E isso inclui qualquer quantia em dinheiro vivo que você tiver. Se alguma coisa vier à tona durante o processo – ele me olhou diretamente –, poderá ser muito ruim para você. Muito ruim mesmo. Quanto é o valor em dinheiro que você tem no momento?
– Não muito – respondi. – Acho que 1 milhão, um pouco menos.
– Isso é tudo?
– Sim, é… Talvez você esteja se esquecendo de todo o dinheiro que contrabandeei para o exterior. Por que porra você acha que estou sentado aqui agora, por causa de uma multa de trânsito?
– Eu entendo que você mandou dinheiro para o exterior, mas não todo ele – disse Magnum, que então fez uma pausa e girou seu longo e esguio pescoço, provocando uma dúzia de cracs nas vértebras. – Ouça, Jordan, só estou fazendo o papel do advogado do diabo, tentando antecipar o que o Joel poderia pensar, pois acho que ele vai ficar muito cético.
Balancei a cabeça, consternado.
– Deixe-me explicar uma coisa a você, Greg. Durante os últimos quatro anos, eu não fui realmente dono de um escritório de corretagem. Eu só estava controlando a empresa por trás das cortinas, entendeu?
Ele assentiu.
– Certo, então siga meu raciocínio: uma vez que eu não possuía de fato uma corretora, era eu quem estava recebendo participações nos novos lançamentos mais quentes e era eu quem estava chutando o dinheiro de volta para os proprietários sob a forma de propina – fiz uma pausa, tentando encontrar uma forma simples de explicar a Magnum (que não era um pilantra) como as coisas acontecem no mundo da malandragem. – Em outras palavras, lá atrás, no começo dos anos 1990, quando eu era dono da Stratton, era eu quem recebia os subornos em dinheiro. Mas assim que fui chutado para fora do negócio de corretagem e passei a operar nos bastidores, todo o processo se inverteu e eu passei a ser o cara que pagava as propinas, eu que pagava suborno para os proprietários das corretoras. Entendeu?
Ele concordou de novo.
– Sim, entendi – disse ele, confiante. – Isso faz todo o sentido para mim.
Assenti.
– Ótimo, porque isso tudo é a pura verdade – dei de ombros. – Seja como for, acho que não tenho nem esse milhão de dólares. Minha sogra está guardando isso para mim.
– Como é que é? – perguntou Magnum, surpreso.
Como ele era ingênuo! Magnum era um advogado muito bom, mas não pensava como um verdadeiro criminoso. Eu teria de ensiná-lo.
– O que acontece é que, na noite em que fui preso, achei que Coleman voltaria depois com um mandado de busca. Então, pedi a Nadine que desse o dinheiro para que a mãe dela tomasse conta. Mas eu posso pegar isso de volta a qualquer hora. Você acha que devo fazer isso?
– Sim, acho que deve. E se o assunto do dinheiro vivo aparecer de novo, você deveria oferecer essa informação de modo proativo. Lembre-se de uma coisa: enquanto você se comportar de forma honesta, não poderá se ver em apuros.
Ele alcançou o bolso interno do paletó e puxou uma folha de papel amarelo que tinha sido dobrada em três. Então sorriu e ergueu as sobrancelhas por três vezes em rápida sucessão, colocando depois o papel na mesa da sala de reuniões. Tirou do bolso um par de óculos de leitura e desdobrou o precioso documento, dizendo: