Encolhi os ombros de novo, me perguntando se Andy Greene estaria sentado naquela mesma cadeira, naquela mesma sala, em um futuro não muito distante. Afinal, ele tinha sido o chefe do Departamento Financeiro da Stratton, responsável por descobrir negócios que podiam ser lançados a público e fazer com que fossem liberados pela Comissão de Valores Mobiliários. Ele era um bom homem, e era bem possível que ficasse arrasado se tivesse de ir para a cadeia e fosse forçado a se livrar de sua peruca.
– De qualquer forma – disse –, Alan morava no apartamento 5-K e eu no apartamento 5-F, e nós nos tornamos melhores amigos desde que usávamos fraldas. Tenho certeza de que todos vocês estão cientes do fato de que fui eu quem deu a Alan o treinamento e o financiamento e que lhe mostrei como o jogo funcionava – todos concordaram. – E, em contrapartida, ele e Brian me pagavam adiantado 5 milhões por ano em royalties, numa espécie de reciprocidade. Mas estou me adiantando, outra vez. Isso aconteceu muitos anos depois.
O Canalha assentiu.
– Você afirmou antes que nunca teve problemas disciplinares durante seu crescimento. Você não nunca foi para a prisão? Nada relacionado à delinquência juvenil?
Balancei a cabeça, dizendo que não e desejando dar uma porrada no Canalha por insinuar que eu tinha sido uma semente ruim desde criança. Mas tudo o que disse foi:
– Eu era um bom garoto, um aluno que só tirava A, exatamente como contei – pensei por um momento. – Assim como o restante de minha família. Meus dois primos mais velhos entraram em Harvard e se formaram entre os melhores da classe. Os dois são médicos agora. E meu irmão mais velho, acho que Joel o conhece, é um dos mais respeitados advogados do país. Ele costumava jogar pôquer com alguns de seus amigos do gabinete do Procurador do Estado, embora tenha abandonado esses jogos no momento em que minha investigação começou a esquentar. Acho que a situação ficou bastante desconfortável para ele.
O Canalha assentiu respeitosamente.
– Nunca me encontrei com seu irmão, mas só ouvi coisas boas sobre ele. É incrível que vocês dois sejam parentes…
– É… – murmurei. – É uma porra de um milagre. Mas nós somos parentes, e eu era exatamente igual a ele quando mais novo. Talvez nossas personalidades fossem diferentes, quer dizer, eu era o cara extrovertido, e ele, o introvertido, mas eu sempre fui tão bom aluno quanto ele. Provavelmente até melhor… A escola era ridiculamente fácil para mim. Mesmo depois de eu ter começado a fumar maconha, acho que por volta da 6a série, eu ainda continuava tirando A direto em todas as matérias. Só por volta do colegial que as drogas começaram a pegar para mim.
TOC recuou visivelmente.
– Quer dizer que você começou a fumar maconha na 6a série?
Assenti, com um senso de orgulho distorcido.
– Exatamente, Greg, quando eu estava com 11 anos. O irmão mais velho de um amigo era traficante de drogas, e uma noite Alan e eu dormimos na casa desse amigo, e foi lá que o irmão do cara nos deixou doidões – fiz uma pausa, sorrindo para aquela absoluta loucura de fumar maconha aos 11 anos. – De qualquer forma, a maconha não era tão forte naquela época, e então a gente só teve um pequeno barato. Eu não comecei a saltar pelas paredes, como fiz mais tarde quando adulto – dei um minúsculo sorriso. – Continuei brincando com maconha por mais alguns poucos anos, mas ela nunca me causou nenhum problema. Meus pais ainda pensavam que tudo estava bem.
Fiz mais uma pausa e gastei alguns segundos estudando a expressão no rosto dos demais ocupantes da sala, que variavam em diferentes graus de incredulidade.
– Acho que a primeira vez que eles notaram que alguma coisa estava errada foi quando eu estava na 8a série e recebi uma nota 92 em uma prova de matemática. Minha mãe ficou arrasada. Antes disso, eu nunca tinha tirado uma nota inferior a 98, e mesmo isso fazia com que ela levantasse uma sobrancelha. Eu me lembro de ela dizer alguma coisa como: “Está tudo bem com você, querido? Você estava doente? Alguma coisa aborreceu você?” – balancei a cabeça quando recordei essa passagem. – Claro que eu não lhe contei que tinha fumado dois baseados rechonchudos de Colombian Gold antes da prova e que, por isso, estava tendo dificuldades em somar dois mais dois naquela tarde – dei de ombros inocentemente. – Mas eu me lembro de ela ter ficado de fato muito preocupada com aquela nota, como se eu ter tirado 92 em matemática fosse reduzir minhas chances de entrar na faculdade de medicina de Harvard. Mas essa era minha mãe. Ela era uma pessoa que sempre buscava exceder às expectativas e que nos mantinha em um nível muito elevado. De fato, não faz muito tempo, ela se tornou a mulher mais velha no Estado de Nova York a passar no exame da Ordem dos Advogados. Ela hoje exerce a advocacia em Long Island, fazendo tudo pro bono – disse, e pensei numa forma de me redimir perante a Bruxa. – Ela defende mulheres vítimas de violência, aquelas que não podem pagar um advogado – e olhei nos olhos redondos da Bruxa, esperando conquistá-la com as fabulosas ações de minha mãe.
Infelizmente, ela permaneceu impassível, totalmente imóvel. Era uma durona filha da puta. Decidi redobrar os esforços.
– Naqueles dias, minha mãe era uma contadora certificada muito bem-sucedida, numa época em que havia poucas mulheres no mercado de trabalho – arqueei as sobrancelhas e assenti com a cabeça rapidamente, como que dizendo “Impressionante, não acha?”. E depois olhei diretamente para ela, esperando que sua expressão se suavizasse um pouco.
Nada. A Bruxa continuava me encarando, atirando dardos. Depois de alguns momentos, desviei o olhar. Ela era tão venenosa que me peguei olhando para o Canalha em busca de salvação, esperando que ele aprovasse minha mãe, apesar da insolência da Bruxa. E disse a ele:
– Ela é um gênio, minha mãe. Uma senhora verdadeiramente maravilhosa.
O Canalha concordou com a cabeça, aparentemente admirado com a retidão de minha mãe, embora eu também notasse em sua expressão corporal uma sugestão de “E quem liga pra essa merda?”. Mas então, e com grande sinceridade, ele disse:
– Bem, parece mesmo que ela é uma mulher notável – e concordou com a cabeça uma vez mais.
– Ela é, de fato – repliquei. – E tem meu pai, que tenho certeza de que você também conhece – sorri tristemente. – Ele também é contador, e um gênio a seu modo, maaaas… – fiz uma pausa, tentando encontrar a palavra exata para definir meu pai, Max, cujo apelido na Stratton era Mad Max, por causa de seu temperamento descontroladamente feroz.
Mad Max era um fumante compulsivo inveterado, um grande defensor das melhores vodcas russas, uma bomba-relógio humana e um surpreendente dândi no modo de se vestir. Mad Max não era de escolher seus favoritos, ele odiava a todos igualmente.
– Bem – disse, com um sorriso maroto –, vamos dizer apenas que ele não é uma criatura tão benevolente quanto minha mãe.
Com um começo de sorriso, TOC perguntou:
– É verdade que ele costumava estourar o vidro do carro dos corretores que paravam na vaga dele?
Concordei vagarosamente com a cabeça.
– É verdade; se ele estivesse de mau humor, amassava a lataria e os paralamas também. E depois chamava o guincho e mandava rebocar o carro – dei de ombros. – Mas o pessoal continuava parando na vaga dele de qualquer maneira. Isso se tornou apenas mais uma forma de provar a lealdade para com a empresa: levando uma surra de Mad Max, você se tornava um verdadeiro strattonita.
Houve alguns momentos de silêncio, e então o Canalha falou:
– Quando você começou a desobedecer à lei? Quantos anos você tinha?
Encolhi os ombros:
– Isso depende de como você define o ato de desobedecer às leis. Se você considerar que o consumo de drogas perigosas é uma violação da lei, então eu já era um criminoso aos 11 anos. Se infringir a lei é faltar às aulas, então eu era um arquicriminoso, porque faltei à maior parte das aulas no 1º colegial. Mas, se você quer saber se eu fiz alguma coisa que eu mesmo considerei ilegal, algo que eu fazia dia sim e dia não, diria que foi quando comecei a vender sorvetes na Jones Beach.