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– Então, o que você disse a Sir Max? – perguntou o Canalha.

– Bem, de início hesitei e falei de forma meio evasiva, especulando sobre a possibilidade da venda de suprimentos médicos ou dentários, algo que se encaixasse no meu nível, digamos, superior de educação. Mas depois, como uma segunda hipótese, trouxe à baila o assunto de Elliot Loewenstern e a carne e os frutos do mar. Minha mãe, é claro, imediatamente começou a me torturar, usando a típica culpa judaica, que é aquela culpa judaica recorrente e comum mesclada a agressividade e passividade sarcástica. “Meu filho, um vendedor de carne!”, ela começou a murmurar. “Mas que maravilha! Ele larga a faculdade para vender bife. O que uma mãe poderia pedir mais?” Ela começou a proferir mais algumas palavras desse naipe e, em seguida, o telefone tocou. Sir Max se transformou de novo em Mad Max e passou a xingar: “Esse maldito filho da puta, esse pedaço de merda de telefone! Quem diabos tem a ousadia de ligar para essa casa nessa porra de terça-feira à tarde? É um insensível!” Minha mãe pulou do sofá e correu para o telefone como se fosse Jesse Owens, enquanto implorava a meu pai: “Acalme-se, Max! Acalme-se! Já vou atender, já vou atender!”. Mas Mad Max ainda estava murmurando palavrões em voz baixa: “Esse rato desgraçado! Quem é o imbecil que liga para essa casa numa maldita tarde de terça-feira?”.

Com um falso ar de seriedade, expliquei:

– Meu pai realmente detestava quando o telefone tocava! Juro, não havia nada que o deixasse mais maluco.

– Por quê? – perguntou TOC.

Dei de ombros.

– Em grande parte, acredito que tenha a ver com o fato de que ele é resistente a mudanças. Ele odeia mudanças em qualquer tamanho ou forma. Veja, nos últimos 36 anos ele manteve o mesmo endereço, o mesmo número de telefone, a mesma oficina mecânica, até mesmo a mesma lavanderia chinesa! Ele conhece todos os proprietários dessas lojas e desses serviços pelo nome, então ele fala assim: “O Pepe”, se referindo à tinturaria, ou “o Wing”, para a lavanderia, ou “o Jimmy”, do posto de gasolina, entendeu?1 É uma coisa totalmente inacreditável – balancei a cabeça para trás e para a frente, enfatizando esse ponto. – Quando o telefone toca, ele traz um estímulo indesejável a seu ambiente, criando potencial para uma mudança. Não importa se o telefonema traz uma notícia boa ou ruim, isso não faz diferença para ele; Mad Max fica doido da mesma maneira. – Dei de ombros de novo, como se fosse apenas mais um acontecimento esperado no Chez Belfort. Então disse: – Sob circunstâncias normais, a pior coisa que minha mãe pode dizer depois que pega o telefone é: “Max! É para você!”. Mas, uma vez que Mad Max pega o telefone, ele se torna Sir Max novamente, usando seu sotaque britânico: “Em que posso ajudá-lou? Ah, certou! Esplêndidou, amigou!”. E ele fica assim, como Sir Max, até que desliga o telefone e volta imediatamente a Mad Max de novo, amaldiçoando enquanto volta para sua cadeira e acende mais um cigarro. De qualquer forma, quando minha mãe atendeu ao telefone naquele dia, a ligação não era para meu pai. Era para mim e, entre todas as pessoas do mundo, era justo o Pinguim. E então meu pai começou a resmungar: “Essa merda desse telefone! É sempre a mesma coisa. E esse porra desse merda do Pinguim! De que buraco esse filho da puta saiu? É um vagabundo que nem sabe andar direito…”.

A essa altura da história, todos nós estávamos chorando de rir, e o primeiro a se recuperar foi o Canalha:

– Então Mad Max ficou louco com sua história de ser vendedor de carne?

– Nem tanto – respondi. – No momento em que desliguei o telefone, eu lhes disse que tinha conseguido um emprego como vendedor de carne e frutos do mar, o que quase fez Santa Leah desmaiar e possibilitou que Sir Max ressurgisse. – Fiz uma pausa por alguns instantes e depois disse – Meus problemas só começaram mesmo no dia seguinte, quando o Pinguim parou em frente ao meu prédio em seu veículo da empresa, que era uma picape Toyota. “Que porra é essa?”, perguntei. “Não me diga que esse é o veículo da empresa sobre o qual você estava falando!”. E o Pinguim respondeu: “Sim, não é uma beleza?”. E então saiu da picape, vestindo jeans e tênis, e gingou até perto de mim, colocando a mão em meus ombros. Ele olhou para o Toyota e perguntou: “O que você acha?”. “É um belo pedaço de merda!”, rosnei, e depois notei um grande freezer na carroceria da picape. “Que porra é essa, Pinguim? Parece um caixão!” Eu vi um rastro de fumaça de gelo seco cinza elevando-se a partir de um dos cantos do freezer. “E aquela bosta, o que é?”, perguntei, apontando para a coluna de fumaça. Elliot me lançou um sorriso e, levantando o dedo indicador, disse: “Venha, eu vou mostrar!”. Ele foi gingando até o lado do passageiro e abriu a tampa da geladeira. “Dê uma espiada na comida!”, disse orgulhosamente, puxando as caixas, uma a uma, e me mostrando a comida. Cada caixa tinha o tamanho de uma pequena mala e trazia um corte diferente de carne ou um tipo diferente de peixe ou de frutos do mar. Havia de tudo lá dentro: filé-mignon, camarão, lagosta grelhada, cordeiro, costeletas de porco, vitela, filé de linguado, filés de salmão, patas de caranguejo. Ele tinha até comidas já preparadas, como frango kiev e frango cordon bleu. Eu nunca tinha visto nada como aquilo…

– Quando ele acabou de mostrar tudo, estávamos cercados por mais de duas dúzias de caixas, e eu estava mais confuso que nunca. Eu sabia que havia algo me incomodando, mas não conseguia dizer o que era. “Como vamos conseguir que os restaurantes comprem isso de nós?”, perguntei. “Nossos preços são mais baixos, nossa carne é melhor, o que é?” O Pinguim me olhou impassível e disse: “Quem falou sobre venda para restaurantes?”.

Olhei para o Canalha e balancei a cabeça. Com um espasmo que indicava uma risada, disse:

– Naquele instante, achei que já sabia de tudo, e o que veio depois disso foi meramente incidental. Quando eu decidi não correr de volta para casa e refazer minha matrícula na faculdade de odontologia, selei meu destino – encolhi os ombros. – A década seguinte de minha vida, quer dizer, a insanidade da Stratton Oakmont, era então uma conclusão precipitada.

O Canalha se inclinou para a frente em sua cadeira, obviamente intrigado.

– O que o faz dizer isso? – perguntou.

Eu pensei por um momento.

– Bem, vamos apenas dizer que ali, naquele momento, eu sabia muito bem no que estava me envolvendo. Eu sabia que tudo aquilo era um… – eu evitava usar a palavra golpe, não só porque aquele negócio de carne e frutos do mar não era um golpe indiscutível, mas também porque não desejava que meus captores me vissem como um golpista de carteirinha. Era melhor que eles enxergassem a Stratton como uma manchinha na vida de alguém até então semicumpridor da lei – … era um pouco de confusão – continuei, com cuidado. – Ou talvez até mais que um pouco. Mas pensei o seguinte: já que a comida era tão boa, que mal poderia fazer?

Dei de ombros à minha própria racionalização.

– Enfim, eram mais ou menos 20 minutos de viagem até o depósito, e no caminho Elliot me explicou os prós e os contras. Tudo estava sendo vendido de porta em porta, para donas de casa ou empresas, mas nunca a restaurantes. Desse modo, não havia como estabelecer um preço fixo. “Nós vendemos no varejo, não no atacado”, o Pinguim me informou. E, embora ele não tenha dito isso claramente, acredito que sugeriu que nossos preços não eram baixos. “Trata-se da conveniência”, disse ele. “Nós entregamos comida de qualidade de restaurante diretamente na sua casa. E até organizamos seu freezer com elas!”, ele repetia a última parte nomeando-se um empacotador profissional de freezers, como se isso compensasse o fato de estar cobrando um preço exagerado pela comida.